Raimundo admite moção de rejeição ao Governo da AD e avisa BE: PCP não vai "diluir-se"
O secretário-geral do PCP admitiu, esta quarta-feira, apresentar uma moção de rejeição ao Governo da AD. Paulo Raimundo também confirmou que irá à reunião que o BE pediu aos partidos de Esquerda, mas avisou: o PCP só aceita convergir em questões concretas e não está disponível para soluções que impliquem "diluir-se".
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Numa conferência de imprensa na sede do partido, Paulo Raimundo lamentou a subida da Direita nas legislativas, através de um voto que considerou ser "assente na demagogia, na mentira e na ilusão". Essas forças políticas, considerou, arrastaram e "enganaram" milhares de pessoas, acenando-lhes com uma "falsa ideia de mudança".
Paulo Raimundo anunciou que os comunistas utilizarão "todos os meios" para se opor ao Governo da AD. Questionado sobre se isso inclui a apresentação de uma moção de rejeição, respondeu: "Com toda a clareza, digo que sim".
Numa altura em que o PS já garantiu que não viabilizará nenhuma iniciativa do género, o comunista salientou que o PCP quer dar "um sinal politico forte" de que será "a grande força de combate" à Direita. Voltou a dizer que o seu partido não tem "nenhuma ilusão" na AD, por muito que esta possa, ao início, vir "em pezinhos de lã".
Raimundo referiu que os outros partidos "farão as opções que entenderem" sobre a moção de rejeição a apresentar. "Quem nos quiser acompanhar, acompanhará; quem não quiser acompanhar, não acompanha. Aquilo que fazemos não é para arrastar outros, é para dar um sinal claro de que, connosco, o projeto da Direita não avança", insistiu.
Aceita reunir com o BE, mas convergências só "no concreto"
O comunista também confirmou que irá à reunião solicitada pelo BE para encontrar convergências - dizendo ter recebido o convite formal "poucos minutos" antes da conferência de imprensa, depois de ter tomado conhecimento da intenções bloquistas "via comunicação social". "Fomos convidados para uma reunião na qual, naturalmente, participaremos", anunciou.
No entanto, deixou um aviso: a convergência deve ser encontrada nos casos concretos, "na vida das pessoas". Mais do que aproximações "de longo prazo", o que, no seu entender, é fundamental é a Esquerda convergir no aumento dos salários e pensões ou no reforço do SNS.
O comunista realçou que o Parlamento "não é o único" local em que essa convergência pode e deve existir, parecendo desafiar os restantes partidos de Esquerda a virem para a rua ao lado do PCP - que, de resto, agendou uma "jornada de contacto com os trabalhadores" para o período entre os dias 21 e 24 deste mês. Aludiu à greve dos jornalistas, marcada para quinta-feira, como exemplo de um momento em que a Esquerda se deve unir.
"Aí é que é que se vê a convergência. Não é nas proclamações, é no concreto", realçou Paulo Raimundo, reiterando que o PCP estará sempre disponível para aproximações desse âmbito. Mas "com uma certeza absoluta: se há coisa que o PCP não fará é diluir-se em qualquer ideia de projeto que seja". Afastou, portanto, quaisquer eventuais coligações ou até fusões.
Questionado, pelo JN, sobre se considera que é isso que o BE tem a propor, o secretário-geral comunista esclareceu: "Não, não. Só estou a dizer, não vá alguém escrever isso".
Acabou a "narrativa" de que votos do PCP são transferidos para o Chega
Sobre os resultados eleitorais, Paulo Raimundo considerou que o PS "não pode ser desresponsabilizado": com "tudo na mão" - incluindo uma maioria absoluta, vincou -, os socialistas "não desperdiçaram nenhuma oportunidade de alimentarem e de se alimentarem das forças mais reacionárias", argumentou.
Raimundo reconheceu que os resultados comportam um "elemento negativo" para o PCP, tendo também criado "uma situação ainda mais favorável ao grande capital" e de maior ataque aos serviços públicos. Acrescentou, contudo, que os quatro deputados eleitos pela CDU são "um sinal de resistência" a essa mudança.
O dirigente comunista afirmou também que "a única vantagem destas eleições" foi ter acabado, "de uma vez por todas", com a "narrativa" de que os votos do PCP estavam a ser transferidos para o Chega. Ironizou que, pela mesma ordem de ideias, pode ser dito que foi o PCP que impediu a extrema-direita de eleger deputados em Bragança - o único círculo pelo qual o Chega não conseguiu colocar candidatos no Parlamento.
Sustentando que essa "narrativa" foi criada por PS e PSD para justificarem a perda dos seus próprios eleitores, Paulo Raimundo afirmou que, face aos resultados do Chega, o PCP não é o único partido a ter de fazer uma "reflexão".