Ao quarto dia de campanha, a caravana da CDU acelerou até ao Norte para encher o peito com "mais força e garra". Dos aumentos dos salários até à distribuição dos lucros da banca, as palavras de ordem ouvidas foram de "coragem" e "combate" à política de direita. O objetivo é recuperar o segundo deputado pelo Porto.
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Lá vai o tempo em que a CDU elegia pelo menos três deputados à Assembleia da República pelo Porto, mas a meta está traçada. Num dia longo, com três ações de rua, o secretário-geral do PCP foi recebido por centenas de militantes e simpatizantes à porta do Bairro dos Pescadores, em Matosinhos. Alcina Rosa, de 67 anos, reformada e moradora naquele bairro há décadas, foi das primeiras a abraçar de forma efusiva Paulo Raimundo. "É um partido que faz muito oposição e olha pela vida dos reformados e das pessoas mais carenciadas. Está sempre a olhar pelas pessoas necessitadas e que mais precisam", justificou ao JN a receção calorosa.
A arruada faz-se de forma simples: bandeiras distribuídas pelos presentes e um Opel Corsa com uma coluna que entoava palavras de ordem sobre os salários, pensões e contra a banca. À frente da comitiva, há tempo para uma troca de impressões entre Raimundo e Alfredo Maia, cabeça de lista pelo círculo eleitoral do Porto, sobre o estado do tempo que "está bem melhor" do que no ano passado, quando "chovia torrencialmente".
Há tempo também para abrandar o ritmo e beber um café: "Quem vai pagar é o Alfredo Maia, não trouxe dinheiro nenhum", atirou, mas o estabelecimento acabou por oferecer. Na rua, mostrou-se sorridente e confiante, distribuiu panfletos com a "cara de um rapaz bonito", disse, ao mesmo tempo que recebia a resposta: "É jeitoso, sim senhor!".
Mais força e deputados
O percurso e o tempo está bem delineado pela equipa. É quase meio-dia e altura para uma primeira conversa com os jornalistas à sombra, junto a uma filial do Banco CTT. Não foi pensado, mas o local deu asas a um desafio: entrar no estabelecimento para distribuir panfletos. "Vou lá. O desafio está feito. Agora, o que vou encontrar ali são os trabalhadores, gente que está a ser apertada na vida todos os dias, não é propriamente o administrador do banco", referiu, após aludir que os lucros da banca devem servir para pagar casas públicas.
Também foi ali que pediu mais votos e força para a CDU. "Estamos muito convencidos que vamos crescer e vamos alargar, estamos confiantes que é possível recuperar o segundo deputado por esta gente de Matosinhos, por esta gente do distrito do Porto", afirmou. No resto da arruada, ainda cumprimentou ao longe alguns trabalhadores de uma obra antes de chegar ao palanque montado, à porta da Câmara Municipal de Matosinhos, para os primeiros discursos do dia.
Taxar a banca por casas vazias
Ao início da tarde e sem tempo a perder, a primeira ação decorreu no Parque Urbano de Rio Tinto, em Gondomar, debaixo de um sol abrasador. Uma carrinha branca com uma faixa azul e a imagem da CDU compunham o palco. À volta, quase 50 cadeiras de plástico espalhadas pelo relvado com bandeiras azuis, verdes e vermelhas da coligação. Poucas para as pessoas que apareceram, algumas caras novas, outras repetentes da arruada da manhã.
Na tribuna pública, composta por candidatos a deputados, o tema foi a crise na habitação e Paulo Raimundo deixou um desafio: "Taxar a banca e os fundos imobiliários por cada dia em que deixam as casas de que são proprietárias vazias". O comunista aproveitou ainda o momento e um cartaz da AD entabulado numa rotunda, com a frase "Portugal não pode parar", para deixar farpas à coligação. "É verdade! Portugal tem é de parar de continuar a andar para trás na vida das pessoas", vincou. Já Alfredo Maia aproveitou a ocasião para distanciar a CDU das outras forças partidárias: "Os partidos da CDU não são iguais aos outros, mais nenhum discute assim o problema da habitação".
No final, tempo de recolher as cadeiras e enrolar as bandeiras, até porque o dia só encerra com um comício no Largo Estêvão Torres, em Gaia. A aposta é clara num terreno difícil onde os comunistas ainda vão voltar duas vezes nesta campanha.