O administrador operacional da TAP, Ramiro Sequeira, admitiu, esta quarta-feira, que sabia que estava ao abrigo do estatuto de gestor público, a partir de 2020, embora não se recorde de uma conversa "exaustiva" sobre o assunto, apenas um email.
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O também antigo presidente executivo interino da companhia aérea, entre agosto de 2020 e julho de 2021, respondia à deputada bloquista Mariana Mortágua, na comissão parlamentar de inquérito à TAP, sobre se tinha conhecimento que estava ao abrigo daquele estatuto.
"Sim", respondeu Ramiro Sequeira, acrescentando não poder responder pelos colegas de Conselho de Administração sobre se é aceitável alegar desconhecimento do estatuto.
O administrador disse ainda não se recordar de ter havido uma reunião específica ou uma "conversa exaustiva" sobre esta alteração de regras, a partir da nacionalização, em 2020, mas julga ter recebido um email "que abordava alguns pontos dessa transição de privado para público".
A polémica indemnização de meio milhão de euros paga à ex-administradora Alexandra Reis não foi negociada ao abrigo do referido estatuto, que não permite o pagamento daquele valor.
Sobre as "divergências irreconciliáveis" com Alexandra Reis, apontadas pela ex-presidente executiva, Christine Ourmières-Widener, Ramiro Sequeira considerou "saudável" haver divergências em qualquer equipa de gestão, sublinhando que "nunca deixaram de ser tomadas decisões para o bom funcionamento da empresa por qualquer tipo de divergência entre estas duas pessoas, ou outras pessoas da comissão executiva".
Ramiro Sequeira disse ainda que só teve conhecimento da saída de Alexandra Reis depois de tratada entre as partes. "Não soube que estavam sequer a negociar", realçou.
Sobre o antigo administrador não executivo Diogo Lacerda Machado, que será ouvido na quinta-feira pela comissão de inquérito, o administrador operacional disse não conhecer as razões da sua saída, quando questionado sobre eventuais divergências entre o advogado e a tutela, então nas mãos de Pedro Nuno Santos.
Porém, Ramiro Sequeira admitiu que Lacerda Machado tinha uma opinião favorável à manutenção da ME Brasil, que foi causa de problemas para a TAP durante vários anos.
"Havia uma opinião, posso dizer generalizada, que seria para tentar fechar esse negócio que tinha alguns problemas", afirmou Ramiro Sequeira.
Quanto à nova privatização, o administrador disse não saber se há desenvolvimentos recentes, desde que Luís Rodrigues assumiu a presidência do Conselho de Administração e da Comissão Executiva. "Esta gestão vai estar muito centralizada no novo CEO e CFO da companhia", sublinhou.
Questionado pelo deputado comunista Bruno Dias sobre as dificuldades operacionais causadas pela falta de trabalhadores, Ramiro Sequeira admitiu problemas em algumas áreas, mas garantiu que não há falta de tripulantes de cabine.
"Acabámos de contratar cerca de 400 tripulantes de cabine, que é o número que foi calculado para a necessidade da operação. Tivemos cerca de 2.500 candidaturas", adiantou.
Novo presidente informou sobre possível reestruturação da Comissão Executiva
O administrador operacional da TAP, Ramiro Sequeira, disse que o novo presidente do Conselho de Administração e da Comissão Executiva, Luís Rodrigues, informou a equipa sobre uma possível reestruturação da estrutura executiva. "Foi-nos dada a conhecer uma possível reestruturação da Comissão Executiva e, nesse sentido, o que lhe posso dizer é que estamos em conversas, o acionista, o CEO [Luís Rodrigues] e eu", respondeu Ramiro Sequeira ao deputado social-democrata Hugo Carneiro, na comissão parlamentar de inquérito à TAP.
Segundo o Expresso, Ramiro Sequeira foi convidado a sair da Comissão Executiva, avançando ainda que poderá vir a ser substituído por Mário Chaves, braço direito de Luís Rodrigues na SATA e atual presidente da Portugália. "Se eu estou de saída? Que eu saiba, não", respondeu o também antigo presidente executivo interino da companhia aérea.
Ramiro Sequeira é o último sobrevivente da equipa executiva original da ex-presidente executiva, Christine Ourmières-Widener, eleita em assembleia-geral em 24 de junho de 2021, que era composta também por Alexandra Reis (saiu em fevereiro de 2022 e entrou para a equipa Sofia Lufinha em julho), Sílvia Mosquera (renunciou em março e sai em junho) e João Weber Gameiro (renunciou em outubro de 2021 e foi substituído por Gonçalo Pires).
O administrador assumiu o cargo de presidente executivo interino nos meses que separaram a saída de Antonoaldo Neves e a chegada de Christine Ourmières-Widener, tendo estado presente em algumas reuniões técnicas sobre o plano de reestruturação que viria a ser aprovado no final de 2021.
Questionado pelo deputado socialista Hugo Carvalho sobre qual era a alternativa àquele plano, que envolveu despedimentos e cortes salariais, Ramiro Sequeira disse que "era o fecho da companhia", tendo em conta a "queima de caixa" diária de cerca de 80 milhões de euros, durante as restrições à mobilidade devido à pandemia.
Já sobre a venda da TAP à concorrente espanhola Iberia, o administrador não quis falar sobre companhias concretas, mas disse apenas que, do ponto de vista conceptual, não é "tão linear assim" que a proximidade das operações seja prejudicial à companhia.
Ramiro Sequeira lembrou que um dos maiores ativos de uma companhia aérea são os 'slots' (faixas horárias), que, se forem respeitados, não podem lhe podem ser retirados.