Há tentativa de salvamento em 74% das paragens cardiorrespiratórias e entram mais doentes com sinais vitais nos hospitais. Também há cada vez mais desfibrilhadores no espaço público.
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O número de paragens cardiorrespiratórias tem aumentado nos últimos quatro anos em Portugal. E o mesmo tem acontecido com o número de manobras de salvamento, que foram utilizadas em 74% dos casos. Este crescimento tem permitido que um maior número de pessoas dê entrada nos hospitais com sinais vitais. Os desfibrilhadores automáticos externos (DAE) têm sido utilizados em 81% das manobras das equipas de socorro. Também nos espaços públicos, há cada vez mais desfibrilhadores. Porém, os especialistas ouvidos pelo JN garantem que Portugal ainda fica aquém da Europa.
Nos últimos quatro anos, mais de 2500 pessoas foram reanimadas por manobras cardiopulmonares, segundo revelam os dados estatísticos do INEM cedidos ao JN. Entre compressões torácicas, ventilações e tentativas de desfibrilhação, o número de manobras tem tido um impacto crescente no aumento de pessoas que dão entrada nos hospitais com sinais vitais, após uma paragem cardiorrespiratória.
"O suporte básico de vida (SBV) é muito importante, assim como o reconhecimento de que o doente está em paragem", sublinha Cristina Granja, médica intensivista e coordenadora científica da Simulação Médica na Universidade do Porto, que dá o exemplo de países onde ter este conhecimento é obrigatório para tirar a carta de condução e onde o ensino é prática corrente nas escolas. "São conhecimentos fundamentais para salvar vidas", diz.
Quase 70 mil paragens
Desde 2020, foram registadas quase 70 mil paragens cardiorrespiratórias, número que tem estado a subir. Entre 2015 e 2017, os números não ultrapassaram as 16 mil por ano. Em 2019, ano que antecedeu a pandemia, o INEM registou 17 402 paragens. E em 2020, o número de interrupções e falências súbitas das funções cardíacas e respiratórias chegou quase às 20 mil.
A acompanhar o aumento de paragens cardiorrespiratórias estão as manobras de reanimação cardiopulmonar. Só em 2022, as manobras foram iniciadas em 74% dos casos, correspondendo a 14 791 situações.
Entre o momento em que a pessoa entra em paragem cardiorrespiratória e a chegada da ambulância, todos os minutos são cruciais. "Já tivemos casos em que conseguimos recuperar as vítimas, porque, quando chegámos ao local, já estava alguém a fazer manobras de reanimação", afirma Rui Lázaro, técnico de emergência hospitalar. Segundo os dados do INEM, a maioria das paragens cardiorrespiratórias registadas ocorre em domicílios, lares e espaços de cuidados continuados e na via pública.
4 mil Desfibrilhadores
A manobra mais usada passa pela utilização de DAE, que têm crescido nos últimos anos. A maioria das utilizações é por parte das equipas de socorro e emergência, tendo sido usados, até 25 de maio passado, em 5059 situações.
A existência de desfibrilhadores nas ruas e em espaços públicos tem vindo a crescer. Em 2020, existiam 39 DAE instalados em cabines na rua, atualmente são 49. Nos espaços públicos eram 2365 no ano de 2020 e hoje já são 4104. Contudo, tanto Rui Lázaro como Cristina Granja lamentam a baixa utilização e formação de pessoas, garantindo que estamos longe da média europeia.
Espaços públicos
Em Portugal, existem 4104 desfibrilhadores nos espaços públicos (centros comerciais, espaços de lazer, pavilhões desportivos e aeroportos) e 49 em cabinas instaladas na rua.
Viaturas equipadas
Os bombeiros têm cerca de 1498 viaturas equipadas com DAE. A polícia (GNR, PSP e polícias municipais) tem 49 e a Cruz Vermelha Portuguesa 138.