Daqui a um ano, cerca de 110 mil alunos não terão professor a pelo menos uma disciplina. Em 2025, o problema vai atingir 250 mil estudantes, prevê a diretora da Pordata.
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As reformas massivas de professores e a falta de novas entradas nos mestrados que dão acesso à carreira docente vão deixar milhares de alunos sem aulas num futuro demasiado próximo.
"A não ser que se deixem cair as exigências atuais de contratação de professores através do concurso nacional, daqui a um ano teremos 110 mil alunos sem aulas a pelo menos uma disciplina". A estimativa é de Luísa Loura, diretora da base de estatísticas Pordata e ex-diretora da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência.
Num artigo, publicado no site da Pordata, Luísa Loura explica que o "boom" de entradas de professores nas escolas públicas no pós-25 de abril vai corresponder um "boom" de saídas nos próximos anos, por aposentações.
Uma trajetória que, apesar de expectável, não foi atenuada pela formação necessária de docentes. O problema será mais grave a partir do 3.º ciclo do ensino básico, assinala a responsável, que é também docente e investigadora da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Do pré-escolar ao 6.º ano, os impactos "serão apenas pontuais" devido à quebra da natalidade, por um lado, e porque "o número total de educadores e professores atualmente a ser formados será adequado face à projeção de necessidades futuras", refere, no artigo.
Ainda assim, Luísa Loura conclui que "se formam atualmente cerca de sete vezes menos professores para os níveis que vão do pré-escolar ao 6.ª ano de escolaridade que em 2002/03".
Mais preocupante é o que vai acontecer após o segundo ciclo e em disciplinas estruturantes, como é o caso do Português, da Matemática, Física e Química, entre outras.
Cruzando os números das saídas por aposentações com os da formação universitária de docentes, Luísa Loura aponta enormes disparidades. "Formar apenas entre 17 e 22 professores de Matemática e entre 5 e 8 professores de Física e Química nos últimos quatro anos deveria ter feito soar os devidos sinais de alarme", afirma.
No que se refere ao Português para o 3.º ciclo e secundário, a investigadora classifica a situação como "bastante preocupante". Em causa, explica, está a redução do número de professores recém-formados nos últimos três anos (10 vezes menos do que em 2002/2003).
A diretora da Pordata conclui que a formação foi de tal modo insuficiente nos últimos anos que "não vai mesmo haver alternativa a não ser tomar medidas de recurso", tais como permitir "um maior peso de professores sem habilitação profissional no sistema", reduzir as horas de apoio ao estudo ou aumentar significativamente o número de alunos por turma.