Mais um partido no Parlamento e 44 novos deputados. A regionalização, a aprovação de incentivos para a fixação de população no Interior, salários ou a proteção das crianças e jovens quanto ao digital são prioridades dos novos eleitos.
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Com o PS empurrado para as bancadas da Esquerda, pela maioria de Direita, o PSD quase preenche os lugares do centro no hemiciclo. A distribuição de lugares ainda não está totalmente fechada. O novo Parlamento terá representantes de dez partidos, mais um do que em 2024, com a eleição, pela primeira vez, de um deputado por um partido regional (Juntos Pelo Povo da Madeira). Estreiam-se 44 deputados.
A primeira sessão da legislatura durou cerca de seis minutos. Hugo Soares convidou José Pedro Aguiar-Branco a subir à bancada para presidir à aprovação da comissão de verificação de poderes dos deputados. Seguiu-se a azáfama, nos corredores, até à biblioteca Passos Manuel, onde os novos eleitos concluíram o seu registo e tiraram a fotografia para o cartão de deputado.
Nos Passos Perdidos, ainda a ambientar-se ao espaço, Filipe Sousa, do JPP, assumiu a surpresa por ter “um grande gabinete”. Para já sentado ao lado do PAN e do Livre, à esquerda do PS, assegura que não vai contestar o lugar, por não estar mais ao centro (entre PS e PSD). Primeiro deputado eleito por um partido regional, garante não se sentir sozinho em São Bento.
“Estou só, mas bem acompanhado. Foi assim a minha trajetória, desde a eleição para a junta de freguesia até ao JPP se tornar na segunda força na Madeira. Passei pela melhor escola política: o poder local”, afirmou ao JN. Na bagagem para Lisboa trouxe prioridades bem definidas. Além da resolução do subsídio de mobilidade para madeirenses e açorianos não terem de pagar as viagens aéreas por inteiro e depois serem reembolsados, Filipe Sousa quer ressuscitar a regionalização. A assessoria política que o acompanha já está, até, a analisar se um novo referendo será a melhor forma de recolocar o tema na agenda política.
À saída dos Passos Perdidos, Eva Cruzeiro, a rapper RapDiva, eleita pelo PS, também se manifestava sentir “bem acolhida”. A nova composição com uma maioria de Direita e a bancada do PS com menos 20 deputados “não a assustam”, garante. “Estou tranquila. Gosto de desafios”, respondeu de pronto ao JN, alegando que, apesar de ser uma estreante no Parlamento, está na política “há mais de 20 anos”.
“Sempre que subo ao palco é um ato político, sempre que visito uma cadeia ou uma escola, sempre que me posiciono publicamente, não é a experiência que muda, mas a forma de fazer política”, explica. As prioridades serão alinhadas com as da bancada, mas não abandonará nenhuma das suas bandeiras como a violência doméstica, a delinquência juvenil ou a criminalidade digital.
Já junto à biblioteca Passos Manuel, o líder da JSD, João Pedro Louro, manifestava-se confiante na oportunidade de “dar voz” e colocar na agenda política problemas sentidos pelos mais jovens, como a melhoria dos salários ou a proteção digital de crianças e jovens.
BE perde gabinete junto ao hemiciclo
Para João Aleixo, um dos novos deputados do Chega, eleito pelo círculo de Portalegre, duas prioridades são a aprovação de incentivos para fixar população no Interior do país e a melhoria das acessibilidades. “Na campanha, senti que depositaram a fé em nós, isso é uma tremenda responsabilidade”, frisou. Já Lina Pinheiro, também do Chega, sublinhava a importância de o partido ser agora a segunda maior bancada e líder da Oposição. A nutricionista, de Famalicão, quer colocar a alimentação no centro do Serviço Nacional de Saúde como estratégia preventiva, admitindo desejar consultas de nutrição nos centros de saúde.
Sofia Pereira, líder da JS, saía da biblioteca com o kit entregue aos novos deputados, com edições da Constituição da República Portuguesa e do Regimento da Assembleia da República. Todos os ouvidos pelo JN garantiram já ter lido o Texto Fundamental. A nova deputada do PS critica a Iniciativa Liberal por ter colocado, só após as eleições, a revisão constitucional na agenda política. “Não foi tema de nenhuma campanha. Não é altura”, frisa, sublinhando que há problemas que carecem de resolução mais urgente, como os salários, a habitação ou a mobilidade.
“É preciso menos impostos ao trabalho e mais à banca ou grande financeiras. Não é combater a riqueza, é fortalecer a classe média e seguir os países mais desenvolvidos da OCDE”, afirma.
Outra estreante, Patrícia Gonçalves, do Livre, confirma que vai manter-se também, até às eleições autárquicas, como vereadora na Câmara de Lisboa, como substituta de Rui Tavares.
“Esperemos que este mandato tenha uma grande base parlamentarista. A AD não tem maioria absoluta”, afirma, elegendo o Ensino Superior e, sobretudo, o financiamento da Ciência as suas prioridades.
O Livre, tal como o PCP, foram os partidos que discordaram da proposta do PSD relativamente à disposição dos lugares. O problema é que os deputados não ficam seguidos. Atrás da líder da bancada, Isabel Mendes Lopes estão, neste momento, socialistas, e Mariana Mortágua, que passou a deputada única do BE, fica atrás do PCP. O gabinete do partido de Rui Tavares, único a crescer à Esquerda, subindo de quatro para seis deputados, vai passar a ocupar o anterior espaço do Bloco de Esquerda e Mariana Mortágua muda-se para os gabinetes dos deputados únicos.