<p>A Organização das Nações Unidas declarou 2009 como o Ano da Astronomia, devido à comemoração do 4.º centenário do nascimento do telescópio por obra de Galileu Galilei.</p>
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Gallileu é visto como um "santo leigo" e como um "mártir da ciência". Quem pense assim faz da Igreja a "grande inquisidora" do génio da Astronomia. A agência de informação Zenit entrevistou o subsecretário do Conselho Pontifício para a Cultura, Melchor Sánchez de Toca, co-autor do livro "Galileu e o Vaticano". O entrevistado confirma que Galileu não foi queimado na fogueira, não foi torturado e nem sequer esteve na prisão.
Sobre Galileu o mito sobrepôs-se à realidade: há, ainda hoje, muita gente que pensa que Galileu foi maltratado, condenado, torturado e declarado herege. Mas, historicamente, não foi assim, por mais que Dan Brown, em "Anjos e Demónios", agora em filme, continue a difundir o mito em vez da verdade histórica. Galileu foi processado em 1633 por ter violado uma disposição que lhe foi feita em 1616. A disposição de 1616, que Galileu não cumpriu, proibia-o de ensinar o copernicanismo, ou seja, a doutrina que diz que o Sol está no centro e a Terra se move ao redor dele. Não foi condenado como herege, nem o copernicanismo foi declarado como herético. Naquela conjuntura histórico-cultural, a de Galileu, muito afastada da nossa, os juízes de Galileu, incapazes de dissociar a fé de uma cosmologia milenar, acreditaram que adoptar a revolução copernicana, que, além do mais, não estava ainda aprovada definitivamente, podia quebrar a tradição católica e que era seu dever proibir o ensinamento". Os juízes de Galileu equivocaram-se não somente porque hoje sabemos que a terra se move, mas naquele tempo não era possível saber.
Neste momento, decorre um projecto de redacção integral das cartas do processo de Galileu Galilei, a cargo do Arquivo Secreto do Vaticano, que deverá estar concluído antes do final deste ano. O arcebispo Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício da Cultura, tem dito, por diversas vezes, que o processo da Inquisição contra Galileu foi concluído efectivamente com uma sentença de condenação, que nunca foi assinada pelo Papa e sobre a qual houve um grande desacordo entre os cardeais.
A Igreja poderá dar mais um passo na aproximação e diálogo entre a Ciência e a Fé.
Vaticano II defendeu a "autonomia da ciência"
A Igreja entende que "os tempos estão maduros para uma nova consideração sobre a figura de Galileu". Já o Concílio Vaticano II (1962-1965) tinha feito referência ao mesmo, defendendo a "autonomia da ciência". João Paulo II instituiu, em 1981, uma comissão para reexaminar a fundo o "Caso Galileu". A Igreja diz que "podemos olhar para a figura de Galileu e reconhecer o crente que tentou, no contexto do seu tempo, conciliar os resultados das investigações científicas com os conteúdos da fé cristã".