Rio desafia Costa a demitir Eduardo Cabrita. Santos Silva poderá sair a seu pedido após presidência da UE. Há outros governantes na calha e socialistas a sugerir que se aproveite para mexida maior.
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O cerco cada vez mais apertado ao ministro da Administração Interna (MAI), Eduardo Cabrita, poderá antecipar uma remodelação no Governo. Não apenas por pressão da Oposição - agora devido ao polémico acidente que vitimou um trabalhador na A6 -, mas sobretudo porque António Costa está a ser instado entre socialistas a aproveitar o fim da presidência portuguesa da União Europeia (UE) para mexer no Executivo. Mas não há consenso sobre se o melhor será fazê-lo já este mês, quando chegam os primeiros fundos da bazuca, ou esperar pelas autárquicas (26 de setembro). A saída de Cabrita pode surgir numa remodelação mais alargada, incluindo ministros que terão vontade de sair, como Augusto Santos Silva.
As críticas do PSD subiram de tom. Sobre a notícia que a GNR teria sido impedida de fazer perícias ao carro que atropelou mortalmente um homem na A6, onde seguia Cabrita, Rui Rio disse que "se isto se confirmar é gravíssimo". "Prova que o carro vinha em excesso de velocidade. E que o primeiro-ministro é o verdadeiro responsável político, por insistir em manter - contra tudo e contra todos - o ministro em funções", escreveu no Twitter.
Rio exige explicações
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No Parlamento, disse que o BMW onde seguia Cabrita não está registado, o que foi desmentido pela GNR e pelo Ministério Público tal como o impedimento da perícia. E recordou ser preciso apurar "se havia ou não sinalização da obra" e "a velocidade a que o carro vinha".
O líder do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos, insiste na demissão de Cabrita, caso se apure excesso de velocidade. E acusou o ministério de mentir sobre a falta de sinalização. Na quinta-feira, voltou a perguntar ao ministro "se tem condições políticas para se manter em funções" e se "a GNR tem ou não acesso à viatura".
CDS, IL e Chega já tinham pedido a demissão de Cabrita no caso dos imigrantes em Odemira. O BE também já a pediu, desde logo após a morte do ucraniano em instalações do SEF. Mas em maio, quando Cabrita esteve debaixo de fogo por causa dos festejos do Sporting, cujo inquérito à PSP ainda decorre, Costa disse ser um ministro "excelente".
Quarta -feira, Marcelo defendeu o apuramento da "matéria de facto" no caso do acidente, que "não deve depender de saber se ia A, B ou C a conduzir, ao lado ou atrás do condutor". Mas Cabrita, que estava ao seu lado, limitou-se a remeter para o inquérito, apesar de Marcelo lhe sugerir que falasse.
Outras saídas na calha
A haver remodelação, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, já terá transmitido que pretende sair agora que terminou a presidência da UE.
A hipótese de Marta Temido deixar a Saúde já era apontada no ano passado, a pedido da própria por exaustão, mas Costa poderá não abrir mão da ministra devido à evolução da pandemia.
Foram também apontadas eventuais mexidas nas pastas de Pedro Nuno Santos (Infraestruturas) e Nelson de Souza (Planeamento), tal como a hipótese de Matos Fernandes e Tiago Brandão Rodrigues deixarem o Ambiente e a Educação. O Expresso noticiou a eventual criação de uma pasta mais executiva para obras públicas, que seria liderada por Duarte Cordeiro.
Remodelações em 2020
Dezembro
Mudaram dois secretários de Estado: Negócios Estrangeiros e Agricultura.
Novembro
Ricardo Pinheiro substituiu José Mendes como secretário de Estado do Planeamento.
Setembro
À boleia da saída de José Apolinário das Pescas, Costa substituiu os secretários de Estado Jamila Madeira da Saúde, que assumiu a rutura com Marta Temido; Alberto Souto das Infraestruturas; Ana Pinho da Habitação; e Susana Amador da Educação.
Junho
Mário Centeno deixou as Finanças para governar o Banco de Portugal. Ficou João Leão como ministro.