A implantação da República há 100 anos (5 de Outubro de 1910) foi um ponto de viragem para a Igreja Católica em Portugal, tendo levado a uma "recomposição interna" destinada a enfrentar um "programa intencional de laicização".
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A posição é assumida pelo historiador António Matos Ferreira, um dos coordenadores da edição especial do semanário "Agência Ecclesia" que assinala o centenário da República. Conta com a colaboração científica do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa.
"A reflexão que se apresenta, acompanhada pela publicação de documentos da época e do levantamento iconográfico e biográfico referentes a acontecimentos e personalidades anteriores e posteriores à República de 1910, pretende contribuir para a memória crítica dos cidadãos portugueses", escreve Matos Ferreira. No seu texto, frisa que a chamada "questão religiosa" é apreciada para lá da alteração do estatuto da Igreja Católica nas suas relações com o Estado, na sua forma "republicana, laica e de separação".
Rita Mendonça Leite, também coordenadora da publicação, indica que "a Lei da Separação das Igrejas do Estado representou um momento fundamental na acção do novo regime".
Para o historiador Sérgio Pinto, o Decreto de 20 de Abril de 1911 é de "difícil aceitação", do ponto de vista doutrinal, por parte da hierarquia católica. "As características da lei" que em Portugal decretou a separação, "vista pela Igreja Católica como hostil e atentatória da sua acção, acabarão por marcar um ponto de viragem", escreve.
Hugo Dores precisa que "a Igreja se opunha àquela lei da separação, não ao conceito de separação que, há muito, vozes do catolicismo exigiam".
De acordo com Tiago Apolinário Baltazar, por outro lado, a questão religiosa assume "uma importância fundamental para a própria sobrevivência do regime".
"Para «republicanizar» o país era preciso, pois, atacar a Igreja e, em casos extremos, o próprio catolicismo, vistos como eram como um entrave à estabilização e propagação do regime, como origem do todos os atrasos e misérias", indica o historiador.
"O carácter messiânico da República, enquanto projecto de regeneração nacional, acabaria por degenerar num sentimento de desilusão e frustração partilhado pelos universos político e religioso", observa Rita Mendonça Leite.
A publicação pode ser pedida para agencia@ecclesia.pt