Mais de metade dos resíduos de madeira em bom estado, que poderiam ser reutilizados no fabrico de produtos de alto valor acrescentado, são enviados para aterro ou queimados, alertou, esta quarta-feira, o Centro PINUS. A associação pede que sejam adotadas políticas "mais incisivas" no incentivo à economia circular para evitar o desperdício desta matéria-prima.
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De acordo com dados da Agência Portuguesa de Ambiente (APA), estima-se que pelo menos 53% dos resíduos de madeira que chegam ao circuito de resíduos urbanos sejam depositados em aterro ou queimados em centrais de valorização energética. Assim, estima-se que cerca de 64.628 toneladas de resíduos de madeira não sejam reutilizadas, alertou o Centro PINUS -Associação para a Valorização da Floresta de Pinho, numa nota enviada às redações neste Dia Internacional da Reciclagem.
A associação referiu que, ainda assim, em 2022, as empresas transformadoras de madeira associadas evitaram a deposição em aterro ou a queima de mais de 302 mil toneladas de resíduos de madeira provenientes de obras de construção civil, caixas, paletes ou mobiliário em fim de vida. "Estes podem ser transformados em novos painéis derivados de madeira, amplamente aplicados em cozinhas, escritórios ou em pavimentos, produtos de alto valor acrescentado que são cada vez mais procurados pelo consumidor e pelos mercados externos e que continuam a armazenar carbono sequestrado na floresta durante décadas", sublinhou a associação na nota.
Há falta de pinho
O Centro PINUS atentou ainda para o atraso no cumprimento de metas nacionais de redução da atual taxa de deposição de resíduos em aterro de 56% para apenas 10% em 2035, em linha com o Plano Estratégico para os Resíduos Urbanos e o Plano Nacional de Gestão de Resíduos. Uma situação que a associação considera ser "particularmente preocupante" quando, atualmente, "o défice de madeira de pinho representa 57% do consumo anual de madeira e o aumento da incorporação de resíduos de madeira é uma das estratégias das empresas de resposta à escassez desta matéria-prima".
A quantidade de material disponível para reciclagem continua a ser "insuficiente para as necessidades das empresas", aponta. Para a FINSA - uma das empresas transformadoras de madeira associadas do Centro PINUS -, nos últimos anos foram feitos importantes investimentos com o objetivo de aumentar a quantidade de madeira reciclada utilizada em novos produtos. Porém, neste momento, para o conseguirem fazer, as empresas veem-se "obrigadas a recorrer a reciclados de madeira provenientes de fora de Portugal", explica, Xosé Mera Iglesias, membro do comité executivo da empresa, citado na nota.
O Centro PINUS apelou, por isso, que sejam adotadas políticas "mais incisivas" para incentivar os municípios e os sistemas de gestão de resíduos a adotar práticas de economia circular para aumentar a disponibilidade de madeira reciclada, nomeadamente através de parcerias com indústrias responsáveis pela reciclagem.