Oito cidades e vilas europeias estão a dinamizar um projeto inovador para aumentar o número de residentes e visitantes. Os donos de espaços vazios estão a emprestá-los, gratuitamente, para que novos empreendedores iniciem negócios que atraiam novos moradores. Melgaço é a parceira portuguesa
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Cerca de 40% das cidades europeias têm um problema comum: a falta de população, em geral, e nos centros urbanos, em particular. A escassez de moradores, sobretudo nas cidades de pequena e média dimensão, acarreta problemas para o comércio local e, entre outros, para a compra, venda e aluguer de imóveis.
Para levar, de novo, pessoas para estas zonas, oito localidades europeias juntaram-se no Programa Urbact, rede de transferências Re-Grow City. O projeto de dinamização da economia local nasceu em Altena, na Alemanha, e conta já com a parceria de Melgaço, em Portugal, Idrija, na Croácia, Nyirbator, na Hungria, Aluksne, na Letónia, Isernia, em Itália, Manresa, em Espanha, e Igoumenitsa, na Grécia.
Adotando medidas comuns, as cidades estão a encontrar soluções, em conjunto com a comunidade, para reverter a perda de população. A abertura de pequenos espaços comerciais em lojas, até agora, está a revelar-se um forte dinamizador económico. Com a parceria das câmaras municipais, associações comerciais e estruturas relacionadas com cada cidade, os proprietários de lojas vazias estão a ceder gratuitamente o espaço para que pequenos empreendedores possam abrir os seus negócios ao público.
O projeto permite-nos transferir para Melgaço boas práticas e estratégias de gestão urbana que revertem processos de declínio e estagnação urbana, demográfica, social e económica
Por períodos que rodam os três meses, o dono de uma loja desocupada (e que, por isso, já não obtinha qualquer tipo de rendimento) empresta o espaço, por exemplo, a alguém que fazia arranjos de costura em casa. Durante os meses em que está de portas abertas, o empreendedor consegue perceber se o negócio é rentável ou não. Caso pretenda continuar no espaço comercial, passará a pagar uma renda mensal simbólica que, em Melgaço, chega a ser de um euro por metro quadrado.
"O projeto permite-nos transferir para Melgaço boas práticas e estratégias de gestão urbana que revertem processos de declínio e estagnação urbana, demográfica, social e económica", referiu Manoel Batista, presidente da câmara local.
E na vila minhota já existem seis lojas pop-up (o nome dado aos novos espaços comerciais), desde antiguidades, pastelaria, costura e alumínios.
"As lojas não são um fim em si mesmo assim como as lojas vazias nas cidades não são a raiz do problema. São apenas mais um dos muitos efeitos dos territórios vazios e em declínio um pouco por toda a Europa", salientou José António Lopes, coordenador do Grupo Local de Trabalho que implementa em Melgaço o projeto europeu.
Pandemia cancela cimeira
Uma reunião geral de todas as cidades que fazem parte do Urbact, Re-Grow City estava marcada para este mês, em Altena, a cidade alemã que impulsionou o projeto. A quarentena e as medidas de contenção do covid-19 adiaram a troca de experiências, mas Portugal é apontado entre os parceiros como o caso de maior sucesso.
As seis lojas que abriram "à experiência" em Melgaço estão a autossustentar-se e a levar mais pessoas para o centro da vila, dinamizando não só os espaços pop-up, mas também outros estabelecimentos comerciais. "Servem como uma dinâmica para os residentes e como atração para os visitantes, ajudando os novos empreendedores a testar as suas ideias de negócio com um risco mínimo", disse ainda José António Lopes.
Para além da dinamização da economia local, o projeto europeu tem medidas especificas para a transição digital, pesquisa e investigação, preservação do meio ambiente, entre outros.
Isto está deserto. É preciso trazer vida ao centro da vila e se, ao emprestar a minha loja, eu posso ajudar a desenvolver o comércio, podem contar comigo
Áurea Lopes reside no Porto mas é natural de Melgaço. É dona de uma das lojas qu e estava vazia há vários anos e que cedeu gratuitamente para a instalação de um novo negócio.
"Isto está deserto. É preciso trazer vida ao centro da vila e se, ao emprestar a minha loja, eu posso ajudar a desenvolver o comércio, podem contar comigo", afirmou. "A porta de entrada em Melgaço é feita por Espanha, pela Galiza, e temos que aproveitar a proximidade com Ourense para ajudar a rejuvenescer a vila", finalizou.
Melgaço, o município mais a norte de Portugal, é conhecido pelas suas paisagens, história, gastronomia e pela muito apreciada e conhecida casta de vinho verde, Alvarinho.