Requalificação na Escola Básica e Secundária do Cerco permite separar carteiras um metro e ter na escola apenas metade dos alunos em simultâneo.
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Há escolas com janelas que se abrem para renovar o ar, e outras só com postigos junto ao teto. Escolas com salas amplas o suficiente para separar os alunos e outras pequenas e sobrelotadas. Há quem tenha muitos espaços ao ar livre e quem se veja confinado à sala. As instalações e o número de alunos ditam o que é possível fazer para diminuir o contágio de covid. Em todo o país, as escolas estão em revolução.
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No Cerco e Garcia da Orta (Porto), Valadares (Gaia) ou Fiães (Felgueiras), os alunos vão sentar-se na mesma sala e na mesma secretária, na maioria das disciplinas. Estas salas, chamadas de salas-mãe no Cerco, minimizam o contacto entre turmas e facilitam a limpeza. De lá, sairão para pavilhões de educação física, salas de TIC ou laboratórios - as aulas práticas e, quando possível, em turmas desdobradas são recomendadas por Cristina Pinho, da Sociedade Portuguesa de Física.
Mas este é um privilégio das escolas grandes. Em Cinfães, o diretor Manuel Pereira lamenta não o poder fazer. "Muitas escolas não têm espaço, as mais antigas só têm salas de aula, sem auditórios ou pavilhões". Na secundária duriense, há 17 salas para 27 turmas e não é fácil, sequer, alargar o horário, já que depende do transporte escolar. Ao contrário, em Valadares, haverá duas horas de entrada de manhã e outras duas de tarde, diz o diretor Álvaro Almeida.
As soluções encontradas por Cinfães passam por circuitos marcados, pelo aumento da higienização ou por ter menos pessoas no bar ou na biblioteca. No Garcia de Orta, por exemplo, os livros serão requisitados por email, diz o diretor Rui Fonseca.
Estas são medidas comuns à globalidade das escolas. "Temos que fazer o possível com o que temos", sumariza Manuel Pereira.
18 (im) possibilidades
"O possível" é uma expressão repetida pelos diretores, quase sempre com irritação. Como a abertura de janelas, impossível depois de as obras de requalificação terem trocado janelas por painéis fixos, de vidro.
Ou a separação entre alunos, que deve ser de, "pelo menos", um metro "sempre que possível", recomenda a Educação. No caso de Idães, ironiza o subdiretor Luís Pereira, "só é possível cumprir o "sempre que possível"". As secretárias são duplas e, nas turmas maiores, o espaço entre alunos será o mesmo de sempre.
As orientações do Ministério são, aliás, o espelho da diferença das condições de cada escola: ao longo de 13 páginas, o documento utiliza a expressão "possível" 18 vezes.
Desporto escolar
Quando publicou as regras para as aulas de Educação Física, no início do mês, o Governo dizia que o Plano de Retoma do Desporto Escolar "acompanhará o que vier a ser determinado, pela Autoridade de Saúde, para o desporto extraescolar". Mas na semana de início das aulas presenciais, as escolas dizem que ainda não têm orientações.
Grupos de risco
O Ministério da Educação assumiu que não vai autorizar o teletrabalho aos professores que pertencem a grupos de risco, fica a dúvida: devem pedir ao médico uma declaração que lhes permita ficar em cada 30 dias, sem perder salário? E no final desse tempo? devem pedir que lhes seja dada uma baixa médica, mesmo não estando doentes? Ou correr o risco de ir para a sala de aula?
Computadores
A Educação diz que os primeiros 100 mil computadores chegarão durante o 1.º período, mas não avança uma data. Diretores avisam que muitos alunos continuam a não ter equipamento informático e pedem orientações sobre como proceder, se houver casos positivos e turmas inteiras sejam mandadas para casa.
"Estamos a estudar como dar um intervalo a cada turma"
Já não estão encostadas ao muro as floreiras que agora afunilam a entrada para o refeitório e só deixam entrar um de cada vez. No auditório principal, as cadeiras estão espaçadas, a pensar na orquestra que ocupará o espaço. Nas salas, as secretárias deixaram de estar unidas em grupos de dois. A lista das mudanças já feitas, na Escola Básica e Secundária do Cerco, Porto, é grande. Mas ainda vai crescer.
As janelas, por exemplo, têm que mudar. "Dizem-nos para ventilar as salas, mas veja as janelas", diz Óscar Pinto, a apontar para os grandes - e fixos - painéis de vidro. Em cima, junto ao teto, os postigos abrem só uma nesga. Na lista de afazeres do professor de Educação Física, que supervisiona a adaptação da escola à vida com a covid, está tirar o travão que os impede de abrir até baixo. "Temos que trabalhar com o que temos", diz, segurando na mão um maço de autocolantes "Não utilizar", que iria depois colar nas mesas do refeitório.
Manuel António Oliveira, diretor do agrupamento, sabe que a requalificação de há uma década dá à secundária condições excecionais. Em área, é uma das maiores do país e os onze pavilhões estão separados por recreios largos e espaços abertos, muitas vezes cobertos. É graças a essa largueza que está a estudar a melhor forma de dar um intervalo por turma e por dia.
No pavilhão A, a maioria das salas é grande o suficiente para deixar 40 centímetros entre cada carteira (individual) e um metro entre cada aluno, como preconizado pelo ministério. E a existência de espaços complementares, como auditórios, permite aumentar o número de salas de aula.
Com o alargamento dos horários e a concentração das aulas em turnos da manhã ou da tarde, o Cerco conseguirá dar uma turma a cada sala - e uma sala a cada turma. Até agora, as aulas concentravam-se de manhã. É um sistema de rotatividade, que limita contactos entre turmas diferentes, diz Manuel António Oliveira.
O sistema evitará que os 1100 alunos estejam na escola em simultâneo, exceto em uma manhã e uma tarde por semana. O horário poderá dificultar a vida às famílias, sobretudo dos mais jovens, mas Paula Gouveia, da associação de pais, concorda com as mudanças. "Estamos conscientes que muito do que é preciso fazer cabe aos pais", diz. Nos últimos dias, a direção reuniu com as associações das sete escolas do agrupamento.
Amanhã, começam as aulas do profissional e quarta-feira, no auditório maior, será o dia da apresentação para os alunos do 5.º ano e um encarregado de educação. No dia seguinte, toda a escola estará a trabalhar em pleno.