Nos últimos 42 anos, o país nunca esteve numa situação de risco tão elevado de incêndios florestais. "Nunca vi uma sequência de dias assim", garante o climatologista Carlos da Camara, pedindo à população para que, sobretudo até à próxima sexta-feira, não use qualquer utensílio que provoque faísca. "É o único fator que podemos controlar, o humano", sustenta o professor da Faculdade de Ciências de Lisboa.
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O problema não se prende apenas com o substancial aumento das temperaturas, que se vai verificar sobretudo a partir de terça-feira, prevendo-se máximas entre os 39 e os 45 graus. O que torna esta semana "extremamente complicada", em termos de risco de incêndios, são dois fatores: de longa e de curta duração.
Segundo o climatologista Carlos da Camara, desde 1 de junho que não chove e verificam-se temperaturas elevadas que potenciam uma situação de seca superior à dos anos em que se registou um maior número de incêndios: 2001, 2003, 2005, 2013 e 2017 (ano dos fogos de Pedrógão Grande e quando morreram 116 pessoas vítimas de incêndios florestais).
"Naqueles anos, o risco de incêndio esteve muito mais baixo do que o risco de hoje", garante o professor da Faculdade de Ciências de Lisboa, que esteve a analisar dados desde 1980 e concluiu: "Nunca vi uma sequência de dias assim".
Esse fator de longa duração que, na prática traduz-se em seca, mostra que a "probabilidade" de ocorrência de incêndios nos próximos dias é "muito grande".
Indicadores muito altos
Já os indicadores de curta duração mostram a potencialidade de um fogo florestal se tornar muito grande. "Os bombeiros costumam usar a regra dos três 30. Ou seja, temperaturas acima dos 30 graus (e vão estar acima dos 40), humidade abaixo dos 30% (e está entre 15 e 20%) e ventos superiores a 30 km/hora. Eu acrescentaria 30 dias sem chuva", explica Carlos da Camara.
Segundo o climatologista, até à próxima sexta-feira, todos esses indicadores estão "muito elevados" em todo o país, exceto no Minho. Ainda assim, nessa região o risco de incêndios é muito superior ao habitual. "São indicadores muitíssimo maiores do que os máximos observados nos últimos 42 anos", vinca.
"A única coisa que se pode fazer para controlar isto é não chegar lume, ou seja, não usar nada que provoque faísca nos próximos dias", exorta Carlos da Camara.