Jovens partilharam incertezas quanto ao futuro com o líder da Iniciativa Liberal (IL) numa arruada em Lisboa. Rui Rocha promete travar fugas para o estrangeiro.
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“Mais liberdade de escolha: acelera! Mais crescimento: acelera! Mais democracia: acelera!” É com estas palavras de ordem – e ao som de tambores – que o líder da Iniciativa Liberal (IL), percorre o centro de Lisboa, com uma comitiva de poucas dezenas de apoiantes, numa arruada no segundo dia de campanha.
Nesta zona movimentada da capital, onde se concentram escritórios, lojas, restaurantes e cafés, a “onda azul” cruza-se com vários jovens – muitos deles estudantes do Instituto Superior de Contabilidade e Administração de Lisboa (ISCAL), ali perto. “E planos para o futuro?”, pergunta Rocha a um grupo numa esplanada. A resposta é breve e desencantada: “É complicado”.
Não escondem a possibilidade de emigrar. É o caso de Miguel Araújo, que está a considerar trabalhar na Alemanha. “O ideal era tu ficares cá”, responde-lhe o líder liberal. O jovem engenheiro, de 23 anos, não é militante, mas decidiu acompanhar a arruada até ao fim: “É preciso gerar riqueza como primeiro passo e, só depois, discutir como a distribuir. É por isso que sinto que a IL, e o liberalismo, são necessários neste país".
Abstenção preocupa
Mas se a marcha – que arrancou no Campo Pequeno, passou pela Praça do Saldanha, e terminou no jardim do Arco do Cego – foi acelerada, os resultados das promessas, admite o próprio, podem demorar: “Não há soluções miraculosas, mas quanto mais décadas adiarmos as reformas necessárias, mais jovens veremos com os mesmos discursos que ouvimos hoje nos contactos que tivemos”, afirma Rocha aos jornalistas.
Já Diogo, de 24 anos, foi abordado numa pausa para café. Quer saber o que os partidos propõem para fixar os jovens em Portugal: “Somos bastante qualificados, mas muitos vão-se embora por falta de condições para fazer cá vida e pelas rendas altas.” Até às eleições, tem “debates para ver” e espera que a incerteza não leve à abstenção.
No Arco do Cego, um jovem interrompe a comitiva: “A habitação está f…”, lança indignado. Rocha concorda: a situação é “um escândalo”, e a próxima legislatura tem de ser a “da mudança”. Também não poupa críticas à esquerda, acusando-a de uma “absoluta falta de soluções para o país”, em contraste com as “políticas liberais que, na Europa, trouxeram prosperidade e estão a atrair jovens portugueses”.
E as soluções propostas não são só para os jovens, “são para todos”, garante. “Se temos um país de reformas e pensões baixas, isso depende de melhorar o crescimento económico”, argumenta.
Rocha não perde a oportunidade de cumprimentar quem passa: “Já decidiram o voto? Pensem bem, há um partido que quer mudar o país: a IL”, diz a um casal que aproveita o encontro para desabafar sobre o acesso aos cuidados de saúde. Entre “selfies” e sorrisos, também há rejeições mais ruidosas. “Deus nos livre de votar na IL”, solta uma mulher, enquanto a amiga aceita um panfleto de um apoiante.
João Almeida, reformado de 70 anos, que observa a passagem do grupo, também não está convencido. “A minha filha vota na Iniciativa e tenta convencer-nos. Mas este ano só vou lá dobrar o papel, e pronto”, admite cansado da instabilidade política dos últimos anos.
“Felizmente, tenho uma reforma mais ou menos. Mas há muita injustiça. Sinto-me descrente", continua. Ainda assim, diz que pode mudar de ideias até às eleições.
É para discutir propostas, e não coligações
Ainda em declarações aos jornalistas, o líder da IL considerou que a campanha eleitoral serve para discutir propostas, não sendo o momento para decidir coligações. Embora já tenha admitido que não tenciona estabelecer “linhas vermelhas” para um eventual acordo após as eleições com a AD (PSD/CDS), Rui Rocha disse que estaria a fazer um “mau serviço” ao país se estivesse “a falar só de cenários”, rejeitando falta de transparência.