Estão a ser em catadupa os anúncios de desfiliações do CDS-PP, desde que o líder do partido, Francisco Rodrigues dos Santos, conseguiu cancelar o congresso do partido. Sete "notáveis" já bateram com a porta e até a ex-líder Assunção Cristas está em reflexão. A Direção do partido desvaloriza.
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"O CDS morreu!". Foi assim que o ex-líder da Juventude Popular (JP), Michael Seufert, anunciou que também se vai desfiliar do CDS-PP, depois de Adolfo Mesquita Nunes, António Pires de Lima, Vânia Dias da Silva, Inês Teotónio Pereira, João Maria Condeixa e Manuel Castelo-Branco terem optado por essa via.
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"O CDS que eu conheci, morreu. Não porque está liderado pelas pessoas erradas - que está, mas isso é sempre passageiro - mas porque desistiu de si mesmo, dos seus militantes e de ter um projeto para Portugal. Porque face a eleições legislativas que ainda nem estão marcadas se acobardou de encontrar a clarificação interna e um projeto nacional de que os partidos não podem ter medo sob pena de o deixarem de ser. Quem tem medo de no seu partido ir a votos, não vai convencer mais ninguém", justificou o ex-líder da JP.
No sábado, tinha sido o "histórico" António Pires de Lima a dizer quase o mesmo. "O partido bateu no fundo. O que o atual presidente do CDS fez nas últimas 48 horas foi a maior desqualificação aos militantes", considerou o ex-ministro.
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E, no programa da TVI, "Lei da Bolha", a ex-presidente dos centristas Assunção Cristas assumiu também estar a refletir. "É preciso dar espaço aos militantes para fazer essa ponderação sobre quem é a melhor pessoa, neste momento, para ir a votos. Não dar essa possibilidade é algo inimaginável, inqualificável, desqualifica muitíssimo o partido. Eu própria farei uma reflexão pessoal sobre isso", declarou Assunção Cristas.
O deputado e ex-candidato à liderança João Almeida não sai do partido. Mas bate com a porta do Parlamento, embora garanta que a sua decisão já estava tomada antes da crise no CDS-PP e que seria anunciada no conclave de 27 e 28 de novembro, em Lamego.
A debandada no CDS-PP já levou Nuno Melo a fazer um apelo para que reconsiderem, não se desfiliem e lutem antes contra as "ilegalidades" no partido. "Lutem do meu lado. O tempo só pode ser de revolta e de indignação. O CDS não é o que o golpe institucional em curso revela. E o CDS merece muito melhor", exortou.
"Entendo as pessoas desiludidas que saem, mas isso não resolve nada, porque saem os melhores. Talvez faça parte da solução do CDS saírem algumas pessoas, mas não os melhores. Eu não preciso de repudiar o cartão de militante que tenho há 47 anos para ser inteiramente livre para dizer o que me apetece e que penso e para tomar as decisões que entendo. Se saem as pessoas boas, ficam lá só as pessoas que tornam o CDS mais difícil de frequentar. Isso não me parece solução, portanto, não tenho nenhuma vontade de sair", já respondeu António Lobo Xavier, criticando o líder do partido, Francisco Rodrigues dos Santos, por não se submeter ao votos dos militantes: "É uma decisão de fracos e não pode vir dá bem nenhum para o país e para o funcionamento da democracia no país".
Pela defesa de um congresso
Na mesma linha, e tal como Lobo Xavier sem se posicionar em termos de apoios, Filipe Lobo d'Ávila, anunciou, na sua página do Facebook, que, se houver um congresso, irá "tentar mostrar que o CDS continua vivo". "Se houver congresso tratarei de ser congressista se assim os militantes o quiserem. Com isto não estou a declarar apoio a nenhuma candidatura mas irei ao congresso tentar ajudar a mostrar que o CDS continua vivo e que pode ser útil a Portugal. A realização do congresso é condição para a recuperação do CDS que todos queremos", afirmou, defendendo que o conclave deve ocorrer antes das legislativas.
"Não tencionava participar num congresso com este grau de crispação que infelizmente já se antecipava mas que alguém pense que é possível ir a eleições nestas circunstâncias sem um congresso que legitime o caminho, o projeto e o líder é um total absurdo e um sinal de enorme fraqueza política", sustentou ainda Filipe Lobo d'Ávila.
A Direção do CDS-PP desvaloriza, contudo, as desfiliações. "Acompanhamos a notícia da sua decisão de saída do partido (Pires de Lima) com pesar. Não a festejamos, lamentamos. Mas temos a certeza de que nunca um partido se confunde com essas personalidades e, bem ou mal, nós sabemos, no CDS, que o seu processo histórico foi sempre acompanhado de crises associadas a novos ciclos de liderança", afirmou o presidente do Conselho Nacional, Filipe Anacoreta Correia, numa conferência de Imprensa em que contra-atacou Nuno Melo, garantindo que o candidato à liderança é que revelou "falta de democracia" ao tentar impedir a reunião de sexta-feira, com recurso a um pedido de impugnação da Jurisdição.
Apesar de admitir que recebeu "dois emails" do tribunal do partido a alertar para a nulidade da reunião do Conselho Nacional, que cancelou o congresso eletivo, Filipe Anacoreta Correia considerou que a deliberação não tinha que ser acatada, porque não foi acompanhada de fundamentação e foi elaborada com base num parecer feita por uma dirigente da Distrital de Braga, liderada por Nuno Melo.