A noite de domingo trouxe ventos de mudança aos municípios de Espinho, Sever do Vouga, Viana do Castelo, Mondim de Basto, Barcelos e Valença, cujos novos presidentes prometem dar continuidade à "lufada de ar fresco".
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São os novos eleitos a mandar, nos próximos quatro anos, em seis municípios que primaram, no domingo, pela diferença. Se em alguns casos, como em Viana do Castelo, se tratou apenas de uma mudança forçada pela lei de limitação de mandatos, noutros, como em Mondim de Basto, um jovem candidato do PSD rompeu um ciclo de 12 anos de poder socialista, que acenava com uma obra de 7,6 milhões de euros e um primeiro-ministro a "sacar" da bazuca.
Espinho
O primeiro passeio como presidente
"Parabéns, senhor presidente, e muitas felicidades", repetiam os espinhenses que, na tarde de ontem, abordavam Miguel Reis, eleito no dia anterior, no seu primeiro percurso ocasional pela Rua 19, após a vitória que resgatou a presidência ao PSD. A cada passo, nova abordagem. "Parabéns e, diga-me, quando é que vão terminar estas obras", disse Óscar Abelha. "Vamos fazer um levantamento e resolver estas coisas de uma vez por todas", garantia Miguel Reis. As fotos e os cumprimentos sucediam-se. Miguel Reis lembrava que despertou para a nova realidade às primeiras horas da manhã, mal saiu à rua. "Quando fui à padaria, começaram a tratar-me por senhor presidente. Foi o primeiro contacto com o reconhecimento da população de que sou presidente da Câmara e do sentimento das pessoas na mudança", revelou. A noite foi mal dormida, mas as felicitações incentivaram-no: "Acordei de madrugada a pensar como ia resolver problemas que as pessoas me foram colocando". "Ao longo do dia, já fiz vários contactos para saber como estão a decorrer algumas obras, entre as quais a construção do novo estádio" contou.
Sever do Vouga
Agricultor acaba com a colheita do PS
Um pai não deve "enganar" as filhas, mas anteontem à noite, quando Mariana e Beatriz, de 11 e oito anos, que andavam tristes por terem visto pouco Pedro Lobo durante a campanha, lhe perguntaram se agora iam estar mais tempo com ele, o novo presidente de Sever do Vouga respondeu que sim. E o nariz não cresceu? Pedro solta uma gargalhada. O homem do PSD que tirou o PS da Câmara de Sever do Vouga vai mudar de vida. O engenheiro civil, de 44 anos, que nos últimos 10 se transformou em agricultor, explorando uma quinta dos avós, vai trocar os mirtilos, framboesas e maracujás por papéis. Os Paços do Concelho e as freguesias vão ser as suas novas áreas de cultivo. Pedro é uma das surpresas eleitorais do distrito de Aveiro. Em 2017, foi número dois do PSD, acabando vereador sem pasta. Em março, aceitou ser cabeça de lista numa corrida que nunca ninguém lhe disse que ia ganhar durante a campanha. "Elogiavam-me a coragem, mas diziam que ia ser muito difícil acabar com uma hegemonia de 20 anos do PS", contou ontem, na ressaca da vitória. Um Pedro sem esperança não é Lobo, mas reconhece que a vitória "clara" sobre o PS o surpreendeu. Mas não tão "clara" para lhe dar maioria absoluta. Sabe que precisa de um parceiro e diz-se "aberto a todas as possibilidades" de coligação. Certas são as prioridades. Saúde, porque há muitos severenses sem médico de família e uma Urgência que funcione 24 horas. E, porque "o ministro Pedro Nuno Santos disse que havia dinheiro do leilão do 5G para um novo acesso à A25", vai reclamá-lo.
Viana do Castelo
Cumprir promessas feitas na campanha
Luís Nobre, 50 anos, vereador há 16 na Câmara de Viana do Castelo, foi eleito presidente pelo PS. Entre os desafios mais imediatos, propõe-se lançar "nos próximos 100 dias", conforme a promessa eleitoral, o concurso público internacional para uma nova travessia pedonal e ciclável a ligar as duas margens do rio Lima junto à ponte Eiffel. Aquele que é um dos "48 compromissos para o mandato" que assumiu durante a campanha, pretende concretizar liderando um novo Executivo composto por cinco eleitos socialistas, três da coligação PSD-CDS e um da CDU. Ontem, declarou-se "feliz com o resultado" numas eleições inéditas em Viana, com oito candidatos, e que abriu caminho a "uma nova liderança e uma nova equipa". "Temos maioria e todas as condições para trabalhar", afirmou. Desafios imediatos são "as ações identificadas no Plano de Recuperação e Resiliência", entre elas, uma quarta travessia sobre o rio Lima, acessos ao Vale do Neiva, equipamentos de saúde na Meadela, Alvarães e Litoral Norte, habitação e valências sociais.
Mondim de Basto
Nem a obra do século segurou os socialistas
Depois de 12 anos de gestão socialista, os mondinenes votaram maioritariamente na lista do PSD, liderada por Bruno Moura Ferreira, 37 anos. Humberto Cerqueira venceu as três últimas eleições pelo PS mas, em fim de mandato, abraçou há cerca de um ano um lugar na CCDR-N, lançando o vereador Paulo Mota para estas eleições. Além do saneamento financeiro da Autarquia, os mandatos do PS ficaram marcados pela construção de uma ponte sobre o Tâmega, um investimento de 7,6 milhões, que levou a Mondim António Costa e Pedro Nuno Santos, e que foi visto pelos responsáveis locais como a "obra do século". Contudo, nem a nova ponte evitou a derrota do PS. "As pessoas perceberam que a ponte pode trazer mas também pode levar. Não se criaram infraestruturas para potenciar o investimento", referiu.
Barcelos
Encerrar de vez o dossiê da água
"Criar estabilidade" é a primeira medida que Mário Constantino, novo autarca de Barcelos, quer tomar. A coligação Barcelos Mais Futuro, que une PSD, CDS e o movimento independente Barcelos, Terra de Futuro, venceu com a maioria de vereadores, pondo fim à hegemonia socialista, que imperava desde 2009. O novo edil afirma que vai "encerrar o dossiê da água", uma vez que, durante os últimos 12 anos, causou "uma instabilidade muito grande", contaminando "toda a gestão autárquica". "Barcelos não pode continuar parada, imóvel e com esta falta de credibilidade e estabilidade. Queremos fazer tudo rápido, mas fazer as coisas bem feitas", salienta. O novo autarca já sente "o peso da responsabilidade" e confessa ter tido "emoções contraditórias" quando alcançou a vitória: "Por um lado, a alegria natural de ter vencido; por outro, o peso da responsabilidade por saber que os barcelenses precisam de nós".
Valença
Acordo para manter estabilidade política
José Manuel Carpinteira, 62 anos, autarca de Vila Nova de Cerveira durante 24 e deputado na Assembleia da República há sete, foi eleito presidente de Câmara de Valença pelo PS. Derrotou o social-democrata Manuel Lopes, protagonizando uma das reviravoltas da noite eleitoral no Alto Minho. Após a tomada de posse, formará Executivo com três mandatos, o que o obriga a fazer acordo com a oposição para governar. "Vamos tentar que tanto a Câmara como a Assembleia tenham estabilidade. Faremos com quem for mais fácil para uma governação mais sólida", disse. A sua primeira ação será, conforme o compromisso eleitoral, "solicitar um parecer técnico, jurídico e financeiro" para avaliar o impacto da eventual reversão da Águas do Alto Minho para gestão municipal. A reabertura do "serviço de saúde permanente, que Valença já teve", e a "reorganização dos serviços municipais", são prioridades.