O antigo líder social-democrata fez duras críticas ao Ministério Público em caso que envolveu a demissão de António Costa. Rui Rio foi o convidado da quinta tertúlia das "Conversas de Café".
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O ex-presidente do PSD Rui Rio teceu, esta quarta-feira, duras críticas ao Ministério Público e afirmou ter havido “interferência política” no caso da demissão de António Costa do cargo de primeiro-ministro, quando a Procuradoria-Geral da República (PGR) emitiu um parágrafo sobre a investigação ao então chefe de Governo socialista, em novembro de 2023, no âmbito da Operação Influencer. O economista foi o convidado da quinta tertúlia das “Conversas de Café”, organizada pelo “Jornal de Notícias” em parceria com a Faculdade de Economia da Universidade do Porto, com o patrocínio da Torre dos Clérigos.
“A minha opinião é que há interferência política, quando o Ministério Público faz aquele comunicado com o parágrafo que leva à demissão do primeiro-ministro (...). Nos dez milhões de portugueses, sou eu quem tem mais autoridade moral para dizer isso”, disse o ex-presidente do PSD. Os sociais-democratas perderam as eleições legislativas de janeiro de 2022 contra o PS, que obteve a maioria absoluta com António Costa.
Numa conversa moderada pelo sociólogo Augusto Santos Silva, no café Velasquez, Rio criticou que após o parágrafo do PGR não tivesse existido qualquer novidade sobre o caso judicial que envolve o então primeiro-ministro do PS. “Se já houvesse uma acusação, uma pré-acusação, uma coisa forte que justificasse aquilo ao fim deste tempo todo, mas não há. Obviamente, foi um abuso”, disse.
A quinta tertúlia das “Conversas de Café” teve a reforma do Estado como tema principal, o que levou o antigo líder do PSD a considerar serem necessárias alterações na Justiça e nas assimetrias regionais. “A sociedade está a mudar a uma velocidade brutal e há necessidade de fazer ajustamentos. Se essas reformas não se fazem, surge um conjunto de disfunções e interesses instalados”, acrescentou.
“Degradação da democracia”
Rui Rio considerou que tem havido uma “fraca capacidade do regime para responder aos problemas da sociedade” e apontou que o poder político “está cada vez mais fraco e desacreditado”. “As pessoas afastam-se da política, o que faz com que a qualidade média baixe muito”, apontou. Sem nunca se referir à atual crise política nacional, o ex-presidente do PSD disse estar a assistir-se a uma “degradação da própria democracia”.
À margem da conversa, Augusto Santos Silva considerou que o caso da empresa familiar de Montenegro “é diretamente provocado pelo comportamento do primeiro-ministro”. O ex-presidente da Assembleia da República espera que se discutam “políticas públicas na campanha eleitoral e não o comportamento dos dirigentes políticos”.