Rui Rocha promete que “não haverá surpresas nas declarações de IRS” com a Iniciativa Liberal envolvida na governabilidade do país.
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O presidente da Iniciativa Liberal (IL) está “comprometido” com a governabilidade do país e diz que o seu partido é “o único que garante uma solução de centro-direita equilibrada, responsável e moderada para mudar” Portugal. Rui Rocha acusa Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos de “falta de transparência” porque devem clarificar se deixarão o adversário governar no caso de este não ter maioria. Assegura que não abrirá mão da “exigência programática” se os liberais integrarem um Executivo da AD, enumera algumas pastas em vista e nota que o peso nas decisões deve ser proporcional ao peso que tiverem nas legislativas, apelando ao reforço da IL, que hoje marca o arranque da campanha no Porto.
Depois de se ter sentado várias vezes com Luís Montenegro, ainda antes das últimas eleições, acredita que será desta vez que vai ter um lugar no Conselho de Ministros?
Esse não é o ponto essencial. O ponto essencial é mesmo que a Iniciativa Liberal (IL) tenha uma votação reforçada. Os portugueses já perceberam que Portugal só entra num caminho reformista e da mudança com a IL forte. O resto é algo para decidir e avaliar no dia seguinte às eleições. Até lá, temos todos a obrigação, como líderes políticos, de falar de ideias para o país. Parece-me que isso tem faltado e é o meu compromisso: discutir política e uma visão de país até às eleições e, com isso, espero eu, obter um reforço da votação na IL.
Foi favorável à moção de confiança. Foi um primeiro passo para integrar um eventual Governo da AD?
Muito poucos portugueses terão percebido a razão de irmos para eleições, independentemente da sua avaliação sobre as situações concretas. E fui também muito crítico do caminho que levou até à moção de confiança. Mas, no momento em que vivemos, não era o que devia ter sido trilhado. Pareceu-nos que estar ao lado dos portugueses naquele momento e à altura das circunstâncias era votar a favor da moção de confiança. Infelizmente, a IL foi o único partido que teve essa avaliação. Todos os outros fizeram uma avaliação das circunstâncias em função dos interesses político-partidários da sua agenda e do taticismo. A IL marcou uma diferença e tenho um enorme orgulho da posição que tem tomado em toda esta matéria, já agora também numa campanha marcada por casos, por atrito. Uma campanha azeda e desagradável. Mesmo no debate entre Pedro Nuno Santos e Luís Montenegro. A minha responsabilidade é fazer uma campanha positiva, com medidas, com propostas e é isso que procurarei fazer até ao dia 18.
Ainda esta semana considerou que o primeiro-ministro fez uma afronta aos portugueses e uma gestão tática da informação sobre os clientes da Spinumviva, e disse que não está à altura das responsabilidades. Como pode, então, ponderar a hipótese de integrar um Governo liderado por Luís Montenegro?
Parece-me ter havido, mais uma vez, uma interpretação da parte de Luís Montenegro bastante laxista das suas obrigações. A discussão que se gera depois sobre se há violação de sigilo é pertinente, mas não nos deve distrair do essencial. É que, mais uma vez, houve um cumprimento de obrigações declarativas fora de tempo por parte de Luís Montenegro. Parece sempre tudo sacado a ferros. A crítica fundamental que faço é à forma como o processo continua a ser gerido. Agora – para responder diretamente à pergunta – não podemos pôr o país entre parênteses. Deve ser a nossa preocupação fundamental. Também não podemos, e a IL não contribuirá para isso, colocar o país numa situação de ingovernabilidade, de instabilidade política. Já tivemos duas legislaturas que acabaram muito cedo. Portanto, creio que devemos esse compromisso de contribuir na medida das nossas possibilidades para a estabilidade do país. Fá-lo-emos sempre com exigência. Temos no nosso programa a recuperação da dignidade das instituições, é algo que nos preocupa. Mas, para além disso, temos uma exigência programática e, portanto, qualquer cenário que se ponha a partir do dia 18 será sempre um cenário de compromisso da IL com os interesses do país e de enorme exigência em qualquer situação em que tenhamos de participar ou que entendamos que devemos participar.
Essa exigência e disponibilidade passarão sempre por integrar um Governo e não apenas por um acordo de incidência parlamentar?
Já veremos. Ou seja, não excluo nenhuma possibilidade, aquilo que importa é que das eleições saia, de facto, um cenário de governabilidade do país. Assumiremos as nossas responsabilidades. Não só na perspetiva reformista do país, da mudança de que necessita, mas também dessa recuperação da dignidade das instituições, é muito importante que a IL tenha uma votação reforçada. No dia seguinte, saberemos interpretar a vontade dos portugueses. Como sabem, há diferentes cenários possíveis, que vão para lá da votação e da expressão eleitoral que cada partido possa ter. Avaliaremos essa situação e estaremos absolutamente comprometidos com uma solução de governabilidade na medida em que isso depender de nós.
No âmbito dessa governabilidade e de um eventual entendimento, quais as bandeiras da IL de que não prescinde?
Deve haver uma descida de impostos séria. Com a IL envolvida na governabilidade do país, não haverá surpresas nas declarações de IRS, que é uma coisa que aflige os portugueses. Não porque não seja bom que as retenções na fonte sejam mais baixas. Mas isso é bom na medida em que corresponda a uma descida real de impostos e não a uma descida artificial. Com a IL, os impostos para as pessoas e as empresas irão descer a sério, não será uma operação de marketing. Outra área que nos preocupa muito é a habitação. Vivemos uma crise habitacional profundíssima, é um escândalo que o país tenha chegado a esta situação. Há responsabilidades partilhadas. Pedro Nuno Santos, que foi ministro das Infraestruturas e da Habitação, é um grande responsável por tudo o que não aconteceu em termos de políticas e por aquilo que aconteceu de negativo. Mas a AD teve um contributo sério para agravar o problema, tomando medidas que trouxeram ainda mais procura ao mercado sem a equilibrar com medidas do lado da oferta. Temos propostas muito claras direcionadas ao mercado de arrendamento. É uma solução de curto prazo porque, mesmo que começássemos agora a construir muito, não conseguiríamos responder de imediato a todas as necessidades. Na saúde, além das medidas de curto prazo, queremos, no longo prazo, que sejam dados passos claros no sentido de maior liberdade de escolha dos utentes relativamente aos prestadores de serviços de saúde. Devem ser os portugueses a escolher a unidade onde querem ser tratados, se é hospital público, clínica privada ou a misericórdia do setor social.
Uma das suas bandeiras é o crescimento da economia. Acredita nas previsões inscritas no programa da AD, que o Banco de Portugal considerou demasiado otimistas?
São demasiado otimistas na medida em que não são acompanhadas de uma ambição real de modernização do Estado. Portanto, sem essa complementaridade, é um bocadinho como na habitação, a AD toma um conjunto de medidas, mas depois não equilibra com as medidas necessárias para que o resultado se produza. Portanto, há falta de ambição no programa da AD. E, sem essa dimensão de modernização e racionalização do Estado, será difícil chegar aos níveis de crescimento económico que apresenta.
Sugeriu Carlos Guimarães Pinto para ministro da Modernização Administrativa. Que outras pastas cabem nessa ambição da IL?
Não consigo imaginar um nome melhor. Parece-me um perfil extraordinário para uma área que tenha como função a racionalização do Estado, com bom senso, mas aproveitando as oportunidades que existem para trazer vantagens para os portugueses. A IL tem quadros qualificadíssimos e propostas que fariam toda a diferença no país. Portanto, à partida, não excluo nenhuma área. Obviamente, as áreas económicas são importantes para a IL, as áreas da saúde, das infraestruturas, as áreas de soberania...
Poderá ter de competir com o CDS-PP por lugares num Governo da AD?
Da nossa parte, não há competição. Estamos aqui, antes de tudo, para defender políticas. Depois, é uma questão de bom senso. As soluções devem ser feitas no âmbito do Parlamento, com a composição parlamentar, dando o peso devido e respeitando a decisão dos portugueses. Se decidirem reforçar a nossa votação, a IL – já disse e repito que está comprometida com essa solução de governabilidade para o país – tem de ter, de facto, o peso nas decisões que resulte do seu peso eleitoral. É por isso que insisto, o país só muda se a IL tiver uma relevância eleitoral mais alta e pujante do que nas últimas eleições.
Se a AD não vencer, deve deixar o PS governar mesmo que este não tenha maioria?
Isso é algo a que os responsáveis do PS e da AD têm recusado responder e é uma situação de falta de transparência. Os portugueses têm direito a saber com o que contam. Da parte da IL, a posição é clara. Os votos que os portugueses confiarem à IL não servirão para viabilizar um Governo do PS, uma solução governativa de Esquerda. Isso fica absolutamente claro. Gostaria que Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos fossem também absolutamente claros com o país. Os eleitores que derem confiança do seu voto à IL saberão que estão a votar numa solução de mudança do país em áreas como saúde, segurança social, habitação, fiscalidade e proteção da parentalidade. E saberão que estão a votar no único partido que garante que há uma solução de centro-direita equilibrada, responsável e moderada para mudar o país. Esta transparência que temos é exigível a todos os protagonistas políticos.
Há risco de a IL passar a ser uma muleta do PSD?
Isso nunca aconteceria. A IL tem dado mostras da sua autonomia e independência. Temos sido muito exigentes, temos criticado a falta de sentido reformista e, mesmo neste processo que conduziu às eleições antecipadas, disse várias vezes que o PSD, a AD, as suas lideranças não estiveram à altura das circunstâncias em muitos momentos.