Sagres parte para um ano de volta ao Mundo a lembrar Magalhães.
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"O Sagres é muito mais robusto do que os cinco navios que o Magalhães levou e temos muito mais informação disponível. Mas há dificuldades que se mantêm: o mar, quando está mau, é mau para todos." É assim que Maurício Camilo, comandante do navio-escola Sagres, resume a missão que tem pela frente. A embarcação faz-se amanhã ao mar para recriar a viagem de circum-navegação levada a cabo por Fernão de Magalhães há 500 anos, e só regressa a Lisboa a 10 de janeiro de 2021. Pelo meio, vai servir de Casa de Portugal durante os Jogos Olímpicos de Tóquio, no Japão.
Maurício Camilo elege o clima e a navegação como duas das grandes dificuldades que, enquanto líder a bordo, terá de enfrentar. Mas admite que "a gestão do espírito da guarnição durante um ano" é uma tarefa tão ou mais desafiante.
142 pessoas a bordo
"É uma das vertentes mais complicadas. São 142 pessoas, ou seja, 142 histórias diferentes. Durante um ano, vai acontecer muita coisa no navio e em casa. Pelas facilidades de comunicação, vamos ter pessoas a refletir as notícias que recebem, as boas e as más. Mas o essencial é que nunca ninguém se sinta desacompanhado", diz o comandante.
Quando os Jogos Olímpicos começarem, a 24 de julho de 2020, já o Sagres estará em viagem há mais de meio ano. Tóquio será a 15.ª de 23 paragens do navio-escola, que lá ficará atracado durante nove dias. "O objetivo é usar o navio como local de apoio para o Comité Olímpico Português, mostrar as atividades, dar entrevistas, etc. Também vamos levar a bandeira, que nos vai ser entregue pelo senhor presidente da República e que será usada na cerimónia inaugural pelo nosso porta-estandarte."
32 dias sem ver terra
A Tóquio segue-se uma tirada (período a navegar) de quase um mês até ao Havai. Os 15 dias seguintes culminam na Polinésia Francesa e, depois, vem o prato forte: o troço entre a Polinésia e Punta Arenas, no Sul do Chile, vai durar 32 dias e tornar-se a maior tirada da história do Sagres. Servirá para assinalar os 500 anos da passagem de Fernão de Magalhães por esse mesmo ponto, no extremo sul da América do Sul, em que os oceanos Pacífico e Atlântico se encontram.
Além do simbolismo, Maurício Camilo informa que esse também vai ser "o período mais complicado" da viagem: a zona, que ficou conhecida como estreito de Magalhães, tem "uma das piores condições meteorológicas para os navios".
Ainda assim, o Sagres está precavido, desde logo porque, apesar de ser um veleiro, dispõe de motor auxiliar.
"Enquanto Magalhães ficou grandes períodos quase à deriva, à espera de vento, eu posso ligar o motor. Mas ele tinha a vantagem de poder demorar o tempo que quisesse; eu tenho horários a cumprir em todos os portos. Se me atrasar, crio logo confusão no programa", conclui o comandante com ironia.
Na 4.ª volta ao Mundo, há 15 estreantes
Esta vai ser a quarta viagem de circum-navegação dos 82 anos de vida do navio Sagres. Maurício Camilo, o comandante, também já conta com um ano seguido no mar, quando, em 1993, foi ao Japão para assinalar os 450 anos da chegada dos portugueses a esse país. Entre os 142 tripulantes, nem todos têm a mesma experiência e 15 vão embarcar pela primeira vez. O navio também leva investigadores, cadetes da Escola Naval e jornalistas em parte da viagem. Em certos períodos, serão mais de 200 pessoas a bordo.