Acesso das pessoas aos cuidados de saúde e atração e retenção dos profissionais de saúde são, para Constantino Sakellarides, os dois principais problemas atuais do Serviço Nacional de Saúde (SNS).
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Distinguido esta terça-feira pela Direção-Geral de Saúde (DGS) com o Prémio Nacional de Saúde 2019, o antigo diretor-geral da Saúde Constantino Sakellarides acredita que a solução passará por um investimento plurianual no SNS e pela cooperação entre os setores público, privado e social.
O professor Constantino Sakellarides contou ao JN que considera que um dos problemas atuais na saúde é o acesso das pessoas, quer aos cuidados primários, em certas regiões, quer aos cuidados hospitalares, "onde as condições se têm agravado consideravelmente nos últimos dez anos".
"Se o SNS não dá acesso às pessoas, não cumpre a sua função essencial" alertou o ex-consultor do ministro da Saúde.
Por outro lado, sublinhou a importância da atração e retenção dos profissionais de saúde, reconhecendo a existência de problemas no que diz respeito às condições de trabalho e à remuneração. Assim, considera essencial a criação de condições de trabalho mais atraentes para os profissionais.
Para resolver estes desafios, defende, é preciso uma "resposta organizacional diferente". Constantino Sakellarides disse acreditar na necessidade de um investimento plurianual no SNS, isto é, com o horizonte de vários anos. "Muitos destes problemas não se resolvem num ano ou dois", alertou.
Além disso, considera necessário um "acompanhamento estratégico transparente de cooperação com o sistema privado e social", através de um modelo de informação capaz de abordar as questões suscitadas de uma forma sistémica.
"Não podemos ter um sistema que separa as partes: cuidados de saúde primários, hospitalares... É a velha tradição que divide para tratar!", criticou o antigo diretor-geral da Saúde.
Constantino Sakellarides reconhece a grande complexidade destes sistemas e, por isso, acredita ser preciso que "a inteligência seja distribuída e colaborativa". Assim, acredita que não pode haver uma reforma nos hospitais se não houver também uma reforma nos restantes cuidados de saúde.
"É pedir muito mas é pedir o necessário", concluiu o ex-presidente da Associação Europeia de Saúde Pública.
A DGS entrega esta terça-feira, o Prémio Nacional de Saúde 2019 a Constantino Sakellarides, "pelo notável percurso académico e profissional e pela brilhante carreira em vários setores do sistema de saúde", lê-se em comunicado.
A DGS acrescenta que os contributos de Constantino Sakellarides foram "valiosos para a melhoria da eficiência e da qualidade do sistema de saúde português e para o prestígio da Saúde Pública em Portugal".
Professor Catedrático Jubilado da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, da qual foi também diretor, Constantino Sakellarides licenciou-se em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Obteve os graus de Mestre e Doutor em Epidemiologia e Saúde Pública, pela Escola de Saúde Pública da Universidade do Texas, EUA.
Constantino Sakellarides foi diretor para as Políticas e Serviço de Saúde da OMS/Europa, diretor-geral da Saúde entre 1997 e 1999, e presidente da Associação Europeia de Saúde Pública.
Entre 2016 e 2018, foi responsável pelo desenho e coordenação da iniciativa "SNS + Proximidade", como consultor do ministro da Saúde. Foi membro fundador e primeiro presidente da Fundação para a Saúde - SNS.
Segundo a DGS, o Prémio Nacional de Saúde, visa distinguir anualmente uma personalidade que, pela relevância e excelência no âmbito das Ciências da Saúde, tenha contribuído para a obtenção de ganhos em saúde ou para o prestígio das organizações de saúde no âmbito do SNS.