Entre 2011 e 2019, só aumentou o vencimento médio dos funcionários com o Ensino Básico. Rendimento dos trabalhadores com curso superior caiu 11%.
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Entre 2011 e 2019, apenas a remuneração dos trabalhadores menos qualificados cresceu em Portugal, devido ao aumento do salário mínimo. Já o rendimento dos trabalhadores com curso superior caiu 11%, o que se deve à diminuição da produtividade, conclui a edição 2022 do Estado da Nação, um estudo da Fundação José Neves. À conta disso, Portugal continua a ser dos países da União Europeia com salários e produtividade mais baixos.
"Entre 2011 e 2019, o salário médio dos portugueses aumentou apenas para os trabalhadores com Ensino Básico, na ordem dos 5%, muito por força do aumento do salário mínimo", concluiu o relatório do Estado da Nação. Um trabalho feito em parceria com as universidades do Minho e de Aveiro, sobre as áreas da Educação, Emprego e Competências, que esta terça-feira é apresentado.
O documento revela que "os salários dos portugueses com o Ensino Superior caíram 11% na última década" e os dos funcionários com o Secundário baixaram 3%. Entre os mais jovens, registaram-se quebras de 15% entre os licenciados, 12% entre os mestres e 22% entre os doutorados.
Em sétimo lugar
Resultado: Portugal "é um dos países da União Europeia (UE) com rendimentos mais baixos". Em 2019, "o rendimento anual médio líquido em Portugal era de 13 727 euros, o sétimo mais baixo da UE". Considerando os trabalhadores com qualificações ao nível dos Básico e Secundário, somos o décimo com vencimentos mais baixos e, se tivermos em conta apenas os diplomados, o país aparece na oitava posição. "Temos 13 países da UE em que os trabalhadores com qualificações médias têm salários superiores aos nossos e cinco países da UE em que os seus trabalhadores menos qualificados ganham mais do que os nossos com o Ensino Superior", destaca, ao JN, Carlos Oliveira, presidente-executivo da Fundação José Neves.
Produtividade a cair
Segundo o relatório, essa situação deve-se ao facto de a produtividade ser "cada vez menor face à média europeia". "Portugal tem tido um pequeno aumento da produtividade, mas estamos a divergir da UE", reforça Carlos Oliveira.
Na verdade, "desde 2000 que a produtividade portuguesa nunca ultrapassou os 70% da média europeia". Acresce que, "em 2019, antes do início da crise pandémica, a produtividade dos portugueses era equivalente a 66% dos trabalhadores da UE", aponta o estudo, defendendo que só "um aumento sustentado da produtividade dá margem para aumentos salariais". "Em 2019, Portugal era o 6.º país da UE com menor produtividade, apenas acima de países como a Roménia, Polónia, Letónia, Grécia e Bulgária", aponta-se.
Estudar ainda compensa
Ainda assim, Carlos Oliveira encontra indicadores positivos no Estado da Nação. "Em 2019, uma licenciatura resultava, em média, num ganho salarial de 50% face ao Ensino Secundário. Já com mestrado, esse ganho ascende aos 59%", aponta-se, no relatório.
"Face a quem tem, no máximo, o Ensino Secundário, os que têm o Ensino Superior têm uma probabilidade 16% superior de estarem empregados e 50% superior de estarem nos 40% da população com maior rendimento", sustenta, ainda, o estudo do Estado da Nação.
Qualificações estão a aumentar, mas não chega para ter efeito
Os portugueses estão mais qualificados, mas ainda não se aposta o suficiente na formação para que isso tenha impacto na produtividade. É que ainda não se atingiu o patamar de 40% de jovens qualificados nas empresas. "Os jovens estão cada vez mais qualificados, mas as qualificações dos trabalhadores com menos de 35 anos apenas contribuem para ganhos de produtividade quando os jovens têm um peso superior a 40% no total dos trabalhadores das empresas", aponta-se.
Segundo o Estado da Nação, as organizações investem pouco na qualificação. "A aposta das empresas na formação dos seus trabalhadores também pode aumentar a produtividade em 5%, mas apenas 16% das empresas portuguesas o faz", revela o estudo.
Acresce que "Portugal continua a ter a maior percentagem de empregadores que não terminou o Secundário. Em 2021, este era o caso de 47,5% dos empregadores, praticamente o triplo da média da UE, que se fixou em 16%", acrescenta-se. A situação piorou com a crise provocada pela covid, dado que, "além de penalizar a entrada no mercado de trabalho, a pandemia teve implicações na aquisição e reforço de competências". Carlos Oliveira defende que se mude a forma de olhar para o mercado de trabalho: pelas competências e não pelas profissões.
Outros dados
27 500 empregos
Durante a pandemia, o emprego jovem foi o mais afetado e ainda não tinha recuperado totalmente no último trimestre de 2021, com perdas de 27 500 empregos face a 2019.
Metas para 2040
A Fundação José Neves aponta cinco metas para que se inverta a situação em 2040, nomeadamente Portugal passar a ser um dos dez países da UE com mais emprego em tecnologia e conhecimento e ter 90% dos jovens empregados.
Formação
A Fundação José Neves fixa como meta que 25% dos adultos façam formação.