As urgências do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, tiveram esta manhã de quinta-feira até meio da tarde com uma espera média de mais de oito horas para os doentes triados como urgentes. Acompanhantes de utentes das urgências falam de "caos" e de uma situação "anormal".
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Neste arranque da época festiva, o serviço de urgência geral do Hospital de Santa Maria, que integra o o Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN), voltou a estar congestionado esta quinta-feira com tempos de espera muito acima dos indicados aos utentes quando estão à espera na zona das urgências.
Segundo os dados do Portal do SNS, o serviço de urgência geral deste hospital registava às 14.44 horas desta quinta-feira uma espera média de oito horas e 33 minutos para o atendimento de doentes triados com pulseira amarela considerados urgentes. Uma hora mais tarde os tempos de espera já superavam mesmo as nove horas. Diminuindo apenas a meio da tarde, altura em que estabilizaram abaixo das quatro horas.
"De facto há uma grande concentração de doentes complexos a precisar de múltiplos exames que faz com que os tempos de espera não sejam os desejáveis", justificou, ao JN, o gabinete de comunicação do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN).
Utentes surpreendidos por tempos de espera
Uma utente, que preferiu não ser identificada, contou ao JN que deu entrada nas urgências do Hospital de Santa Maria às 10.10 horas da manhã de quarta-feira, sendo chamada uma hora depois para a triagem. Com dor nos rins desde domingo, a utente decidiu não adiar mais a ida às urgências. "O médico indicou que o tempo de espera era de 14 horas para os utentes com pulseira amarela, que é o meu caso, e 23 horas para os de pulseira verde", lembrou, o que a levou a ir para casa.
Às 20 horas de quarta-feira, a utente estava de volta ao serviço de urgência geral do hospital para fazer as análises e a ecografia necessárias, mas a espera estava longe de acabar. Só por volta das 14 horas desta quarta-feira realizou os exames pedidos, depois de falar com uma das médicas de serviço que "está nas urgências desde as 6 horas sem parar". A doente explicou que "já não aguentava mais" esperar que a chamassem.
A utente, que há vários anos recorre ao maior hospital da região de Lisboa e Vale do Tejo, reconhece que esta é uma situação de "anormal", recordando que, no máximo, esteve cinco horas à espera com pulseira verde para situações menos urgentes.
"Nós perguntámos porque é que está a demorar tanto tempo e um enfermeiro disse-me hoje que todos os doentes urgentes do Hospital Beatriz Ângelo e do Hospital Amadora-Sintra foram transferidos para o Santa Maria", apontou. Ao JN, o CHULN não conseguiu confirmar esta informação. Com o passar das horas "todas as pessoas chamadas que não responderam acabaram por ter alta por abandono", explicou a utente.
Luísa também esteve várias horas na mesma sala de espera do Hospital Santa Maria, onde acompanhou a mãe doente de 94 anos que, transportada pelo INEM, deu entrada nas urgências por volta das 10.30 horas de quarta-feira. "Os números [de espera] que estão no quadro estão longe da realidade. Os profissionais ainda fazem um grande esforço, mas é um verdadeiro caos", contou ao JN. Depois de aguardarem 40 minutos, a idosa seguiu para triagem, mas permaneceu nas urgências até esta quinta-feira. "A minha mãe ficou à espera de uma ecografia, sendo que entre as 22 horas e as 8 horas não se realizam por falta de técnicos", explicou.
A acompanhante ficou até às 5 da manhã com a mãe nas urgências, foi a casa e regressou às 8.30 horas, encontrando muitas pessoas que ainda lá estavam de véspera. "O médico veio fazer nova chamada. A espera média ia passar entre as 16 a 17 horas para os amarelos e os restantes ficariam sem previsão", contou Luísa. A mãe acabou por fazer o exame por volta do meio-dia, mas o funcionamento era "quase inoperacional".
Com a mudança de turnos, "a minha mãe já vai na terceira médica e voltamos à estaca zero", lamenta. "Estamos à espera de uma vaga nas enfermarias, pode ser que consigamos no serviço de gastrenterologia. Mas sem cama, a minha mãe pode ficar na maca como ficou durante a noite. Se assim for, prefiro levá-la para casa", afirmou.
A situação começou a melhorar ao início da tarde. "Agora aconteceu uma espécie de milagre. Começaram a aparecer médicos e funcionários a chamar utentes com as várias pulseiras", adiantou Luísa. Os tempos de espera baixaram para cerca de 4 horas.