O socialista Augusto Santos Silva corre o risco de perder o mandato pelo círculo fora da Europa para o Chega. O partido de André Ventura tem uma vantagem de cerca de mil votos sobre o PS neste círculo.
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Augusto Santos Silva corre o risco de poder não ser reeleito para a Assembleia da República. A contagem dos votos dos portugueses residentes no estrangeiro termina esta quarta-feira, sendo que serão escrutinadas todas as cartas recebidas até às 17 horas. Até ao final do dia deverão ser conhecidos os resultados provisórios, mas os finais só na sexta-feira com a publicação em Diário da República.
Em declarações à CNN Portugal, Paulo Pisco, cabeça de lista do PS pelo círculo da Europa, considerou "um pouco frustrante que, por tão poucos votos" o PS não consiga eleger o segundo mandato, mas não deu ainda como certa a saída de Santos Silva do hemiciclo. "Acho que a esperança é sempre a última a morrer. Num universo de cerca de 13 mil votos [por apurar], ainda poderá haver uma surpresa", advertiu. A esmagadora maioria dos boletins de voto em falta são deste círculo, mas ainda assim torna-se difícil que o atual presidente da Assembleia da República possa voltar a ser eleito.
Durante este último dia de escrutínio consolidou-se a tendência que já se verificava ao final de segunda-feira, como o JN apurou junto de fontes que estão a acompanhar o processo. A contagem de cerca de 330 mil votos de emigrantes mostra que dois dos quatro mandatos da emigração devem ser para o Chega, um para o PS e outro para a Aliança Democrática (AD). A confirmar-se, o partido de André Ventura contará com 50 deputados no hemiciclo.
No círculo fora da Europa, a AD lidera pelo que deverá ser eleito o cabeça de lista da coligação e antigo secretário de Estado das Comunidades José Cesário. Segue-se o Chega em segundo lugar com uma vantagem de cerca de "mil votos" em relação ao PS, o que poderá ditar a saída do ainda presidente da Assembleia da República. O cabeça de lista do Chega é Manuel Magno Alves.
Questionado sobre o crescimento do Chega no sufrágio da emigração, em ambos os círculos eleitorais, Paulo Pisco considerou que se deverá procurar "dar uma resposta ao protesto" subjacente ao voto no partido de André Ventura.
Bolsonarismo ajudou
À RTP, Pisco afirmou que a possível não eleição de Santos Silva é reflexo do contexto em que estas eleições legislativas antecipadas ocorreram. "É preciso não esquecer que a Assembleia da República foi dissolvida com base num processo que fez uma acusação a vários membros do Governo do Partido Socialista, naquilo que entretanto ficou em águas de bacalhau".
Fora da Europa, serão os eleitores no Brasil que deram a vitória ao Chega. Um voto que Pisco relaciona "com um bolsonarismo muito enraizado" naquele país. Admitiu também que o resultado do PS pode ter sido influenciado negativamente pelo seu apoio a Lula da Silva "como presidente de um país irmão".
"Obviamente que isso pode ter tido as suas implicações relativamente aos resultados desta eleição. Até porque houve uma implicação direta dos membros da família Bolsonaro relativamente à mobilização de eleitores para votarem no Chega", afirmou Pisco, acrescentando que foram transmitidos relatos ao partido "por pessoas que estiveram presentes no terreno".
Por seu turno, pelo círculo da Europa, onde também estão em jogo dois mandatos, o Chega lidera, com os votos dos emigrantes na Suíça a darem a vitória ao partido. "Só na Suíça, o Chega consegue ter cerca de 40 e tal por cento dos votos", notou Pisco, acrescentando que é um resultado "um pouco anómalo" que "não bate com o padrão" de equilíbrio entre as três forças políticas nos restantes países europeus. O cabeça de lista do Chega é José Dias Fernandes.
Ao JN, Paulo Pisco defendeu que é preciso compreender o que levou a este "resultado anómalo" na Suíça, lembrando que em 2016 houve um "referendo da extrema-direta contra a emigração em massa" que ditou "maiores restrições e obviamente afetou a comunidade portuguesa".
O PS encontra-se em segundo lugar, o que poderá garantir um lugar a Paulo Pisco no Parlamento. A AD "está muito mais longe de poder vir a alterar o resultado que até agora existe", apontou o socialista.