Santos Silva repreende Ventura: "Nenhum grupo étnico tem o exclusivo da malvadez"
O presidente da Assembleia da República voltou esta quarta-feira a advertir o Chega, depois de André Ventura ter associado a comunidade cigana à criminalidade no país. Augusto Santos Silva lembrou o líder do partido de extrema-direita de que não são permitidos "discursos injuriosos" no Parlamento. "Nenhum grupo étnico, seja ele qual for, tem o exclusivo ou da honradez ou da malvadez", acrescentou.
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O reparo do presidente da Assembleia surgiu depois da declaração política do Chega, pela voz de André Ventura, na qual este insistiu que "muitos episódios de violência em Portugal" estão ligados à comunidade cigana.
"Temos medo de olhar para este enorme problema", referiu o deputado, fazendo uma generalização não sustentada em dados que imputou a prática de crimes a toda essa comunidade. Falou, ainda, numa "impunidade brutal".
A intervenção, que foi ouvindo alguns protestos por parte de deputados no hemiciclo, não teve direito a pedidos de esclarecimento de outros partidos (como tem sido habitual com declarações políticas do Chega), mas mereceu um reparo por parte do presidente do parlamento.
"O número três do artigo 89.º do Regimento [da Assembleia da República] obriga-me a mais uma vez a adverti-lo de que discursos injuriosos não podem ser proferidos neste parlamento", disse.
Santos Silva acrescentou que "nenhum grupo étnico, seja ele qual for, tem o exclusivo ou da honradez ou da malvadez", frase que mereceu palmas de deputados do PS mas também BE ou PCP.
Na sua intervenção, o presidente do Chega pediu ainda que as condições de trabalho dos polícias sejam melhoradas, saudando o seu trabalho e o protesto da Polícia Municipal realizado hoje em frente à residência oficial do primeiro-ministro, António Costa.
No passado dia 21 de julho, no último plenário antes da pausa para férias, o grupo parlamentar do Chega saiu em protesto do plenário depois de Augusto Santos Silva ter reagido a uma intervenção de André Ventura sobre estrangeiros.
Depois deste episódio, o Chega apresentou um projeto de resolução que visa censurar o comportamento de Santos Silva enquanto presidente da Assembleia da República, acusando-o de falta de imparcialidade.
Esta iniciativa ainda aguarda parecer na comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias sobre a sua admissibilidade, que será elaborado pela deputada única do PAN, Inês Sousa Real, depois do PSD ter rejeitado contribuir para qualquer "folclore" político e a IL ter rejeitado fazer "o trabalho" que deveria ter sido feito pelo PSD.