São mulheres com média de 20 e catedráticas na difícil arte de bem gerir o tempo
Beatriz, Catarina, Rita e Carolina tinham todas as opções na mão e entraram no curso que quiseram. Neste ano letivo serão caloiras longe de casa porque escolheram o futuro profissional com o coração, embora a empregabilidade também fosse ponderada.
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As quatro são o perfeito exemplo de que a média mais alta de todas se pode conciliar com outras atividades. Do voleibol ao ballet, do andebol à catequese, sem esquecer os amigos e a família. Porque o tempo não pára, mas elas também não e há vida além dos estudos.
Acordava cedo na época de exames para estudar
Adora um bom debate e trocar argumentos com quem lhe “dá luta”. Este foi um dos motivos que a levaram a escolher Direito, ainda que tivesse todas as opções na mão. Aluna de excelência, Beatriz Neves da Silva percorreu o ensino público e privado e acaba de entrar na Faculdade de Direito da Universidade do Porto com uma nota de candidatura de 20 valores.
Não foi inédito porque na mesma faculdade entrou outra aluna com nota igual e a Universidade do Porto contou mais três estudantes com 20 valores nos cursos de Bioengenharia, Línguas e Relações Internacionais e Matemática. Mas é um feito memorável que levou vários anos a alcançar.
Natural da Maia, Beatriz estudou até ao 9.º ano na Escola Básica do Castêlo da Maia e fez o Secundário no Colégio do Rosário, no Porto. Duas experiências diferentes, mas com um traço comum: “Tive sempre a sorte de ter professores muito bons, que tinham amor à profissão e que me estimularam a curiosidade”, assegura.
Até aqui, o mais difícil no percurso de Beatriz, com 18 anos, foi decidir a área: adorava todas as matérias e deixar para trás a Matemática foi uma dor de alma. Quando optou por Humanidades, esteve indecisa entre Ciências da Comunicação e Direito, mas a influência da mãe, licenciada em Direito, acabou por ajudar. A “crise” no setor do jornalismo também pesou na decisão, reconhece.
A organização no estudo, o desporto e a vida social foram pontos-chave nos resultados de Beatriz. “Na época de exames, acordava muito cedo, às quatro ou cinco da manhã para estudar, mas ia sempre ao ginásio e tentei estar com amigos. Temos de nos obrigar a ter uma vida fora do estudo para ter equilíbrio”, refere.
Texto: Inês Schreck
Ballet e voleibol nunca colidiram com a escola
Ao contrário de outros, que nas últimas semanas estiveram a roer as unhas até saber se tinham entrado no curso que escolheram, Catarina Viegas gozou a tranquilidade de quem tem uma nota de acesso inultrapassável: 20 valores. Candidatou-se apenas ao curso de Bioengenharia da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e, obviamente, entrou.
Com 17 anos, Catarina nasceu e sempre viveu em Viseu. Tem “uma curiosidade inata” que se refletiu de forma positiva no rendimento escolar. Nas aulas, no Colégio da Imaculada Conceição de Viseu ou na Escola Secundária Alves Martins - nunca houve uma dúvida que ficasse por tirar.
Gerir bem o tempo foi outra arte que Catarina aprendeu a dominar desde cedo. Andou no Inglês, no piano, na catequese, no ballet e no jazz ao longo do Básico e no Secundário enveredou pelo voleibol federado, com três treinos por semana e jogo para o campeonato ao fim de semana, sem descurar o ballet e o tempo em família e com o namorado. “Nunca faltei a uma atividade para estudar”, nota.
A gestão do tempo foi fundamental para a ajudar a estudar e a atingir os objetivos. E a explicação é simples: “Quando uma pessoa acha que o tempo é algo precioso, aproveita-o melhor”, garante.
Filha de pai médico e mãe psicóloga clínica, Catarina escolheu o curso de Bioengenharia mais pelas cadeiras do que pelas saídas profissionais. “Hoje em dia podemos fazer um mestrado em quase tudo, por isso o que me aliciou neste curso foi juntar a Matemática, a Biologia e a Química”, explica. Com o futuro em aberto, já sente o “nervoso miudinho” da mudança para o Porto. “Cozinhar não é o meu forte, mas vai ser um desafio”, garante Catarina.
Texto: Inês Schreck
Fins de semana de estudo não tiraram tempo para amigos
Rita Pereira fala com alguma timidez do seu exemplo na escola, algo que rapidamente desaparece quando se refere ao gosto que tem por Matemática. Confessa que “estava completamente perdida” quando se começou a aproximar a altura de fazer uma escolha. Só tinha como certo que queria manter aquela área no seu percurso académico.
E arriscou: entrou em Matemática Aplicada à Economia e à Gestão no Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa, com uma média de 19,90 valores. “Sinto que todo o esforço realmente compensou”, partilha a jovem de 18 anos, natural de Ermesinde, sabendo que irá frequentar aquele que é o 3.º curso com a nota de entrada mais alta no país.
A boa prestação durante o Secundário em Ciências e Tecnologias e o 20 que tirou no exame de Matemática A deixaram Rita confortável na sua 1.ª opção. A sua grande motivação para manter os bons resultados desde o 10.º ano foi ter presente que se tivesse uma média alta teria um maior leque de possibilidades.
Os professores que teve no Ribadouro, colégio privado onde estudou no Porto, também ajudaram a ter interesse pelos estudos, aponta. Além disso, estudar aos fins de semana era regra, mas “tinha sempre tempo para estar com a minha família e amigos”. Só ficava “mais fechada em casa” para preparar os testes de Física e Química, “por ser mais exigente”.
Em breve, Rita terá de fazer as malas para a capital, onde irá morar numa residência. Confessa estar “um bocado nervosa” para começar este capítulo, ainda para mais numa nova cidade. Mas sabe com que espírito quer entrar: “Quero aproveitar ao máximo. A faculdade é uma época única em que não devemos estar só concentrados em ter boas notas”.
Texto: I.M.
Da Feira até ao Minho pelo andebol e jornalismo
A nota de acesso mais alta na Universidade do Minho (UMinho) foi de Carolina Lança, natural da Feira, que entrou em Ciências da Comunicação com 19,84 valores. A jovem de 18 anos mostra-se “entusiasmada” com a chegada ao mundo académico, que quer conciliar com a prática desportiva, pois joga andebol.
“Sempre gostei da área de comunicação e de jornalismo em particular. A primeira opção era a Universidade do Porto, mas depois recebi uma proposta do Xico Andebol [clube de Guimarães] e isso levou-me a optar pela UMinho”, disse ao JN.
Antes de submeter a candidatura fez vários contactos e recebeu feedback “muito positivo” do curso: “Falei com pessoas que estão atualmente em Ciências da Comunicação e com outras que já terminaram. Disseram-me que é uma boa opção e que o curso é bastante prático”.
Apesar de “gostar muito” de jornalismo, em especial de rádio e da área desportiva, Carolina não fecha as portas a outras oportunidades que possam surgir no mundo da comunicação: “Também gosto muito de marketing e essa poderá ser uma opção, porque o curso é abrangente e não apenas jornalismo”.
Habituada desde muito cedo a conciliar o percurso escolar com o andebol, Carolina garante que, “com esforço e dedicação”, é possível ter sucesso em ambos os campos. “Esforcei-me muito para ter bons resultados, mas não deixei de estar com os meus amigos e de praticar desporto. Quando tenho de sacrificar algo, opto pelo tempo que poderia ter livre”, conta, ciente de que a universidade poderá ocupar-lhe mais tempo. No entanto, está confiante e otimista: “Acredito que vou conseguir, porque quero seguir a minha carreira profissional e continuar a jogar”.
Texto: R.R.C.