Quota subiu 16%, há muito peixe no mar e os contratos de abastecimento às conserveiras são assinados terça-feira.
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A frota da sardinha parte, esta segunda-feira à noite, para o mar, depois de quatro meses e meio parada. Este ano, há 34 406 toneladas para pescar (mais 16,4% do que em 2024). Mais quota, muito peixe no mar e a garantia de venda às conserveiras deixam animados os pescadores. Haja “sardinha gordinha e bom preço”.
“As perspetivas são boas: os barcos que andam ao mar têm visto muito peixe, a quota subiu e, amanhã, assinamos os contratos de fornecimento com a Associação Nacional dos Industriais de Conservas de Peixe (ANICP)”, explicou, ao JN, Agostinho Mata, o presidente da Propeixe – Cooperativa de Produtores de Peixe do Norte, que agrega 24 barcos da pesca do cerco a trabalhar em Matosinhos.
O ano promete. Em dezembro, o Conselho Internacional para a Exploração dos Mares (ICES) reconheceu que o recrutamento quadruplicou e o stock está estável e admitia capturas ibéricas entre as 30 e as 50 mil toneladas. Em Portugal, ouvida a Comissão de Acompanhamento da Sardinha, os pescadores pediam uma quota acima das 34 mil toneladas. O governo ouviu.
O despacho 4741 – B/2025 saiu na quinta-feira. A quota ibérica foi fixada em 51 738 toneladas, das quais 34 406 são para Portugal (66,5%). Os limites de captura serão controlados, a fim de guardar a quota para os meses em que a sardinha é melhor e a procura faz subir o preço.
Assim, nestas primeiras duas semanas, até 5 de maio, os limites diários de captura estão fixados nos 200 cabazes (para embarcações com mais de 16 metros). Sobem, depois, para 250 e, só a partir de 2 de junho, atingem os 300 cabazes. A pesca da sardinha continua a ser proibida aos feriados e a pausa de 48 horas ao fim-de-semana é obrigatória.
Estão ainda previstos “fechos em tempo real”, caso, numa determinada zona, seja detetada uma percentagem superior a 30% de sardinha abaixo dos 13 centímetros, seja no mar pelos investigadores do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) ou nas descargas em lota.
Indústria a ajudar
Nestes primeiros dias do regresso da sardinha fresca os preços sobem à boleia da “saudade”. Depois, diz Agostinho Mata, espera-se “que o tamanho corresponda” e traga “bons preços”. Ainda assim, explica o presidente da Propeixe, os contratos com a ANICP deixam todos “mais tranquilos”. Este ano, o acordo será celebrado por “todos os barcos” da Propeixe. A indústria compromete-se a comprar metade das capturas, diminui o tamanho da sardinha, aumenta o preço. Do lado das conservas, é uma garantia de peixe fresco e de qualidade, do lado dos pescadores, “é dinheiro certo”.
É que, findos os santos populares e o verão em que a procura aumenta e faz subir os preços, é preciso assegurar o escoamento e evitar que se repita o drama de 2023, em que o ano terminou com os barcos a deitarem peixe fora e dez mil toneladas por pescar.
Depois de atingir mínimos históricos em 2018, a quota da sardinha tem vindo a subir e, em oito anos, cresceu quase 300%. Em 2024, apesar do aumento da quantidade, os contratos com as conserveiras ajudaram a garantir escoamento e a segurar o preço médio, que se fixou nos 1,07 euros. Com a quota esgotada, pararam a 4 de dezembro. Este ano, espera-se que as possibilidades de captura durem até ao final do ano.
Segunda-feira de Anjo foi respeitada
A frota de 164 barcos da pesca do cerco tinha autorização para sair para o mar a partir da meia-noite, mas, respeitando as tradições locais da comunidade piscatória da Póvoa de Varzim e de Vila do Conde, a segunda-feira de Páscoa é Dia do Anjo (piquenique em família no pinhal) e, por isso, os barcos da região norte e centro só saem esta segunda à noite.
Máximo de 40 cabazes de “petinga”
O despacho regula ainda a captura da chamada “petinga” (sardinha pequena), a fim de proteger o recurso. Assim, não é permitida a captura, descarga ou venda de mais de 40 cabazes (900 quilos) de sardinha calibrada como T4 (petinga) por dia.
Recrutamento cresceu 350%
De acordo com as prospeções do Conselho Internacional para a Exploração dos Mares, em 2024, o recrutamento (novos peixes) passou de 4 para 18 milhões de toneladas e a biomassa (peixe com um ou mais anos) é, agora, de 423 mil toneladas (502 mil em 2023).