Programa já apoiou 4356 pessoas na mudança. Maioria dos beneficiários são profissionais da saúde, consultores e informáticos. Imigrantes também.
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Regressar ao Interior já estava nos planos, só não havia uma data certa. Gonçalo Cunha, médico recém-formado, de 26 anos, aproveitou a oportunidade de frequentar o internato do ano comum em Évora para voltar em janeiro deste ano à terra natal.
É um dos 4356 cidadãos que beneficiaram do programa “Emprego Interior Mais”, desde agosto de 2020, onde se incluem 1904 familiares dos 2452 beneficiários diretos deste programa que incentiva os residentes em Portugal a trocarem as cidades do Litoral pelo Interior do país.
Gonçalo saiu de casa dos pais aos 18 anos para estudar em Coimbra, onde viveu seis anos letivos e conheceu o programa através de outros colegas. “É muito importante poder contribuir para a minha comunidade original e estar próximo dos meus conterrâneos”, partilha o médico interno, sabendo que a decisão que tomou vem responder à necessidade de mais profissionais de Saúde na região, onde, em breve, estará concluído o novo Hospital Central.
Évora é dos destinos mais escolhidos pelos candidatos, tal como os concelhos do Fundão, Covilhã e Castelo Branco, segundo os dados do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), enviados ao JN. As áreas da Saúde e de Consultoria e Informática são as que têm levado mais beneficiários até aos concelhos do Interior.
O apoio, na ordem dos três mil euros, acabou por ser uma “ajuda preciosa” para conseguir habitação, neste que é o início do seu percurso profissional. A altura, por si só, “é desafiante”, partilha.
Gonçalo não tenciona fazer as malas tão depressa, muito pelo contrário. “Tenho a ambição de me fixar, mais tarde ou mais cedo, no Interior, pelas vantagens que são transversais a todas as cidades da região, particularmente em Évora, por ser a minha cidade e por me identificar bastante culturalmente”.
Planear independência
Raul Barata é médico interno no Centro Hospitalar da Cova da Beira, na Covilhã. Nunca deixou o Interior: é natural de Portas do Souto, uma aldeia no concelho de Pampilhosa da Serra, e desde os estudos na Universidade da Beira Interior que reside no Fundão. “É reconfortante poder ajudar os nossos e, claro, também ver que este tipo de apoios permite ter pessoas que talvez noutra situação não viriam trabalhar para a Covilhã. Na minha profissão é algo muito bom. Há muitos bons médicos apoiados que vão ficar aqui”, conta.
O jovem de 25 anos duvidou que fosse um potencial candidato, mas informou-se e percebeu que o programa não se destinava apenas a quem residisse no Litoral. Decidiu guardar a ajuda a pensar na sua independência futura. A “tranquilidade e o acolhimento que se consegue ter num meio pequeno” dão-lhe um gosto enorme em viver no Interior. Não sabe onde irá fixar raízes, mas, no que depender de si, não sairá da região.
Apoio atrai imigrantes
Dayvid Leonardo Pereira, e a mulher, Lana, mudaram-se de Cuiabá, capital do estado brasileiro de Mato Grosso, para o Fundão. “Não sabia que Portugal estava com falta de demanda em termos de profissionais qualificados, mas quando cheguei aqui, vivenciei muitas culturas diferentes porque as empresas trazem trabalhadores de toda a parte do Mundo. A gente vê o esforço dos mais jovens ao distanciar-se da família. E eu fico muito feliz por contribuir para o desenvolvimento do país”, diz o especialista em Mecatrónica.
Uma proposta de emprego na área comercial de uma empresa ligada à formação de Dayvid fez o casal embarcar num avião rumo a Portugal, em outubro passado. Beneficiaram da medida graças a um alargamento do programa, feito em 2021, que passou a abranger cidadãos estrangeiros. A mudança foi, assim, mais desafogada: “O valor foi muito precioso para nos ajudar a comprar algumas mobílias que faltavam na nossa casa e pagar algumas contas”.
Por enquanto, querem continuar no Fundão: “Ainda não temos filhos, mas se os pudéssemos criar nesta cidade tranquila, que tem boa segurança e boas escolas, com certeza que seria bom”.
Programa apoia quem tenha um novo posto de trabalho no Interior do país
A funcionar desde 2020, o programa “Emprego Interior Mais” já ultrapassou as expectativas traçadas pelo Governo anterior. O apoio financeiro destina-se a quem trabalhe por conta de outrem ou queira criar o próprio emprego ou empresa (trabalhadores independentes), e cujo local de trabalho implique que se mudem para territórios do Interior. A partir de 2021, passou a abranger trabalhadores no Interior em teletrabalho, cidadãos estrangeiros (cuja entrada e permanência em Portugal esteja legal) e emigrantes (que tenham saído do país após 31 de dezembro de 2015 e residido fora durante pelo menos um ano). Inicialmente, a medida encontrava-se dependente do programa “Trabalhar no Interior”, que terminou em dezembro passado. Mas o apoio ainda se encontra em vigor, depois de uma alteração legislativa, explicou ao JN fonte oficial do IEFP.