O secretário-geral do Partido Socialista deixou este domingo um aviso claro ao Governo: se o Executivo não apresentar, “com competência”, uma solução para a crise nas urgências hospitalares, será o PS a avançar com uma proposta própria para reorganizar a resposta de emergência no Serviço Nacional de Saúde (SNS).
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“Quero dizer ao senhor primeiro-ministro que, se o Governo não tiver a competência para apresentar uma resposta, o Partido Socialista vai apresentar uma resposta para a coordenação da emergência hospitalar”, afirmou José Luís Carneiro, em declarações feitas em Lousada, onde esteve para apresentar Nelson Oliveira como candidato do PS à presidência da câmara local.
O dirigente socialista apontou falhas graves na atuação do atual Governo, considerando que a degradação do serviço de urgências é “um espelho da falta de coordenação entre diferentes estruturas do Estado”. “Estamos mais um dia com urgências fechadas. Era urgente que este problema fosse resolvido”, sublinhou.
José Luís Carneiro criticou ainda a decisão do Governo da Aliança Democrática de interromper a reforma do SNS iniciada pelo anterior executivo socialista. “Exoneraram o responsável da estrutura executiva do SNS, avançaram com medidas experimentais e prometeram resolver em poucos meses a resposta à emergência hospitalar. Hoje, a situação está pior”, afirmou.
Segundo o líder do PS, o que se vê é “um espetáculo degradante” com serviços do Estado a empurrarem responsabilidades entre si — “da Defesa para a Saúde, da Saúde para a Defesa” — sem um plano estruturado para responder às necessidades dos cidadãos.
O PS garantiu que o tema será levado ao debate do Estado da Nação, nos próximos dias, reiterando que, face à inação do Governo, assumirá a responsabilidade de apresentar uma alternativa concreta.
Recorde-se que Portugal enfrenta há vários meses perturbações no funcionamento dos serviços de urgência hospitalar, com frequentes encerramentos por falta de médicos escalados. A ausência de uma estratégia de resposta nacional tem motivado críticas crescentes de autarcas, profissionais de saúde e partidos da oposição.
Ação urgente do Governo face ao impacto das tarifas dos EUA
Na mesma ocasião, Carneiro, alertou também para os graves efeitos económicos que as novas tarifas comerciais dos Estados Unidos podem ter na União Europeia e, em particular, em Portugal, apelando a uma resposta rápida e estruturada por parte do Governo.
“A Europa pode perder até 30% da sua riqueza já em 2025 com tarifas de 10%. E em 2026, essa perda pode atingir os 50% com tarifas de 30%. Isso representa um autêntico choque na nossa economia”, declarou Carneiro, sublinhando que mais de 75% das exportações portuguesas se destinam ao espaço económico europeu, o que torna o país particularmente vulnerável.
Segundo o líder socialista, é fundamental que o Governo adote uma estratégia de proteção às indústrias mais expostas, nomeadamente os setores têxtil, vestuário, calçado, vinhos e mobiliário — pilares da economia em várias regiões do país. “O Governo deve, o mais rapidamente possível, reunir com os representantes destes setores e avançar com medidas de mitigação e apoios especiais”, afirmou.
José Luís Carneiro relembrou o exemplo da resposta nacional ao Brexit, em que uma equipa interministerial coordenada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros delineou medidas específicas para adaptar a economia portuguesa ao novo contexto. “O mesmo tipo de resposta coordenada deve ser ativado agora”, defendeu.
Confrontado pelo JN com alternativa do Mercosul face ao risco de retração dos mercados europeus, o secretário-geral do PS não excluiu essa possibilidade, mas preferiu reiterar o que já havia dito, ou seja, que o Governo deve adotar uma estratégia de proteção às indústrias mais expostas.
José Luís Carneiro falava à margem da apresentação de Nelson Oliveira como candidato do PS à Câmara Municipal de Lousada, iniciativa que ficou marcada por fortes críticas à atuação do atual Governo nas áreas económica e social.