Secretário de Estado assume ser casado com um homem e quer combater preconceito
André Moz Caldas, secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, assumiu numa entrevista que é homossexual e casado com um homem. O governante diz pretender, com esta revelação, ajudar os jovens a sentirem-se mais livres para viver a sua orientação sexual abertamente.
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"Sou o primeiro membro do Governo casado", declarou à revista da Universidade de Lisboa "Ulisboa". Foi o próprio governante a chamar à atenção para a entrevista, sexta-feira, numa publicação na sua página do Facebook.
"Não faço disso especial alarde público, mas também não sinto que seja apenas um aspeto da minha vida pessoal", disse, quando questionado sobre a existência de homofobia em Portugal.
"Espero que isso possa significar, para os jovens portugueses, que não estão condenados a um ostracismo. Se houver um jovem que, pelo meu exemplo, se possa sentir mais livre para viver a sua orientação sexual abertamente, eu ficaria muito feliz", acrescentou.
André Caldas explica que por, ser de Lisboa e "de um contexto social e familiar progressista", a sua experiência não se compara com a "de outras pessoas homossexuais". E considera que as "pessoas públicas viverem a sua homossexualidade com naturalidade" é um caminho para combater o estigma.
"Enquanto sociedade, temos de perceber que existe diversidade e que as pessoas não são diminuídas por integrarem uma minoria, de índole sexual ou outra. E quem pertence a uma minoria tem de ter uma grande energia para se dar permanentemente ao respeito", defende.
"Cargo cinzento"
Na entrevista, publicada na edição de outubro, o secretário de Estado assume que a pasta que assumiu "é um dos cargos mais cinzentos do Executivo". Mas destaca a sua importância no processo legislativo dos ministérios.
O governante diz ver "com preocupação" o crescimento de movimentos de extrema-direita, que apelam "ao básico existente nas pessoas", caindo no "argumento fácil que não é sustentado pelos factos".
"Validar fontes, pesquisar e ter pensamento crítico dá muito trabalho", sublinha André Caldas, defendendo que se deve promover o pensamento crítico nas novas gerações e "estimular a participação cívica e política".
André Caldas nasceu em 1982, é licenciado em Medicina Dentária e em Direito. Foi presidente da Junta de Freguesia de Alvalade e no anterior Executivo foi chefe de gabinete do ministro das Finanças Mário Centeno.
Outros políticos
É o primeiro membro de um governo em Portugal a assumir que é casado com uma pessoa do mesmo sexo. Em 2017, a então secretária de Estado da Modernização Administrativa, agora ministra da Cultura, Graça Fonseca, também escolheu fazer uma "afirmação política" sobre a sua orientação sexual para ajudar a mudar mentalidades.
Menos de um ano depois, em fevereiro de 2018, Adolfo Mesquita Nunes, ex-vice-presidente do CDS, também revelou a sua homossexualidade, a propósito de um episódio de vandalização de um cartaz de campanha eleitoral, onde escreveram a palavra "gay".
"Pedi que não o substituíssem porque não era mentira. Se alguém da minha equipa achasse que isto era um problema, que saísse. Ninguém saiu. E o cartaz lá ficou quatro meses. Passei por ele centenas de vezes e nunca me arrependi de o não ter tirado", asseverou então o antigo secretário de Estado do Turismo do Governo PSD-CDS.
Recorde-se que Alexandre Quintanilha, deputado do PS, é casado com o escritor Richard Zimler desde 2010, mas têm uma relação muito anterior, assumida publicamente.