Grandes incêndios florestais levaram as seguradoras a pagar, nos últimos anos, quantias altas por causa de danos em casas ou empresas. Mas os seguros não são acessíveis a todos.
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Os incêndios florestais de maior dimensão em Portugal, como os fogos de Pedrógão Grande em 2017 ou os da ilha da Madeira em 2016, levaram as seguradoras a pagar indemnizações que, em alguns anos, superaram o valor total de um milhão de euros. Nem todos os proprietários de habitações, empresas, produções agrícolas ou florestais, sobretudo em zonas rurais, têm os terrenos ou as propriedades seguradas porque não têm a capacidade financeira para pagar um prémio de seguro. Em alguns casos, o risco de incêndio é demasiado elevado para os clientes e para as seguradoras. Há ainda os muitos terrenos sem dono conhecido.
Desde 2016, a seguradora Ageas pagou 5,5 milhões de euros em indemnizações na sequência de incêndios florestais. Em cada ano e até 2022, os valores estiveram relacionados com grandes fogos: em 2016, deveu-se ao fogo na ilha da Madeira (1,7 milhões de euros), em 2017 em Pedrógão Grande (três milhões), em 2018 em Monchique (355 mil euros) e em 2022 por várias ocorrências registadas em Portugal Continental (496 mil euros).
As indemnizações das seguradoras sobre fogos de grande dimensão cobrem, geralmente, danos causados em habitações de clientes particulares ou em infraestruturas de empresas, por exemplo. Rosário Lima, da Zurich Portugal, explica, porém, que há “uma cultura de baixa densidade de seguros nas regiões predominantemente agrícolas e zonas rurais”, o que significa que não estão cobertas por apólices contra incêndios. Paulo Pimenta de Castro, presidente da Associação Nacional do Ambiente, diz que “grande parte” dos proprietários são idosos a viver no Interior do país, cujas reformas não lhes permitem pagar um prémio anual de seguro para proteger as próprias casas.
Seguro não compensa
Rosário Lima, “chief claims officer” na Zurich Portugal, um cargo que envolve a revisão das reclamações, adianta ao JN que a seguradora pagou “um valor de indemnizações superior a 670 mil euros” em 2022, num total de 53 casos, devido aos fogos florestais ocorridos nos meses de julho e agosto.
Também a Fidelidade contabiliza indemnizações por causa dos incêndios. Desde 2016 e até hoje, foram pagos 35 milhões de euros. O ano de 2017 foi o que registou os valores mais elevados. “Estes custos referem-se a seguros de incêndio, multirriscos habitação e multirriscos empresas, exclusivamente para sinistros da cobertura de incêndio com origem em incêndios rurais/florestais, excluindo-se sinistros de outras coberturas e de incêndio com outras origens”, apontaram.
Apesar de haver registo de indemnizações pagas, ter um seguro não compensa aos diferentes proprietários. Patrícia Azeiteiro, coordenadora da APAS Floresta - Associação de Produtores Florestais, aponta que não há associados a contratualizar seguros porque o “risco é muito elevado”. “Não compensa o prémio que as seguradoras pedem, atendendo ao elevado risco dos incêndios em Portugal”, acrescenta ao JN Paulo Pimenta de Castro.
O recente incêndio na ilha da Madeira, que deflagrou a 14 de agosto e só foi extinto esta segunda-feira, consumiu mais de cinco mil hectares. Miguel Sequeira, que esteve à frente do Instituto de Florestas e Conservação da Natureza da região durante um ano, refere que há propriedade privada que ardeu, mas “não está cadastrada, logo não está segurada”. Para o biólogo, o principal problema agora é o risco de aluviamento.