Rui Valério atento a desafios emergentes como a pobreza, a imigração e os baixos salários, mas os que não têm teto são os que mais o preocupam
Corpo do artigo
Um ano depois de tomar posse como patriarca de Lisboa, o bispo Rui Valério, de 59 anos, resume os últimos 12 meses como sendo de “dedicação” à diocese lisboeta “sem nunca fugir aos desafios emergentes”.
Nomeado pelo Papa Francisco, Rui Valério tomou posse no dia 2 de setembro como patriarca de Lisboa, acumulando também como bispo das Forças Armadas. “Foi e é um desafio muito grande. Lisboa é um mistério”, disse ao JN. “Aqui há de tudo. Temos 480 sacerdotes responsáveis por uma enorme riqueza pastoral e espiritual que passa por projetos políticos, culturais, de acompanhamento de jovens, de casais, de imigrantes e emigrantes e de todas as realidades que se possa imaginar”, acrescentou.
Dos vários “desafios emergentes”, como “a pobreza, a desertificação e os baixos salários”, o patriarca destaca os sem-abrigo. Integrado em dois grupos que distribuem roupa e comida a quem vive na rua, o responsável pela diocese de Lisboa convive com os sem-abrigo e, sobretudo, escuta “o que eles têm para dizer”.
Na forja está a criação de uma paróquia para os sem-abrigo, única no país, e que “sem limitação de fronteiras vai acolher todos os que vivem na rua”, explica: “A Igreja tem de ter consciência e nunca se esquecer de que tudo isto nos diz respeito e que os problemas do Mundo são os nossos problemas”.
De férias em Ourém, onde nasceu, corre todos os dias durante 60 minutos. “Não é bem correr, é caminhar depressa, mas não paro porque tenho de estar em forma”, refere. A proximidade geográfica com o Santuário de Fátima faz com que, várias vezes, participe nos eventos religiosos.
Nos últimos dias, enquanto bispo das Forças Armadas, acompanhou um grupo de militares católicos da América do Sul que, com as famílias, se reuniram lá.
“Mesmo quando não estou em Lisboa, estou em Lisboa porque a vida na diocese não pára”, afirma e dá como exemplo as “dezenas” de atividades realizadas pelos jovens nas férias. “A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) acendeu uma chama que não se apaga. Lisboa herdou a JMJ, tal como o resto do país, e os jovens não se cansam de trabalhar”, diz.
Ainda não é Cardeal
Na tomada de posse como patriarca, foi muito comentado o facto do bispo Rui Valério não ser cardeal. “Não é nada que me preocupe e nem gosto de falar nisso”, responde. “Um cardeal é uma escolha pessoal do Papa e, por exemplo, o cardeal D. Manuel Clemente foi nomeado patriarca e só cerca de dois anos depois foi cardeal. Não há qualquer problema com isto”, afirma.
Mais do que ser cardeal, Rui Valério espera a nomeação de mais um bispo auxiliar para a diocese. Este ano, foram nomeados como auxiliares os padres Nuno Isidro Cordeiro e Alexandre Palma. Com mais de 75 anos, o bispo auxiliar Joaquim Silva Mendes pediu a resignação devendo “em breve” ser nomeado um novo.
O Patriarcado de Lisboa é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Católica em Portugal e o título de patriarca é atribuído ao bispo de Lisboa desde 1716. Tradicionalmente, no caso de ainda não ser cardeal, o patriarca é nomeado cardeal no primeiro consistório após a nomeação.