Sem quase ouvir há 16 anos, Mónica cria jogos de língua gestual para todos
Aos 20 anos, uns auscultadores mudaram-lhe a vida. Hoje, constrói atividades didáticas em materiais reciclados para promover a integração.
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Mónica Gomes tinha 20 anos e estava a ouvir música. Na carrinha dos pais feirantes, e depois de ligar o carregador do telemóvel, não se apercebeu que os auscultadores colocados nos ouvidos arderam. Ficou totalmente surda do ouvido direito e no outro, o esquerdo, ouve cerca de 40%. Hoje, com 37 anos, conta que teve de se adaptar a uma nova realidade: “Pensei que era uma coisa passageira e que [a audição] ia retomar”. Não recuperou, passou por uma “fase difícil” e agora está a traçar um novo caminho, com o objetivo de integrar crianças ouvintes, não ouvintes e famílias. Para que ninguém fique de fora.
Em Portugal, e segundo dados da Federação Portuguesa das Associações de Surdos de 2021, estima-se que existam cerca de 120 mil pessoas com algum grau de perda auditiva e há pelo menos 30 mil pessoas surdas a comunicar por língua gestual portuguesa (LGP). Depois da ocorrência que lhe tirou uma percentagem significativa de audição há 16 anos, Mónica Gomes percebeu que também ela teria de aprender língua gestual portuguesa. Para a maioria das pessoas surdas, os problemas de comunicação agravaram-se na pandemia, devido às máscaras de proteção contra a covid-19. O isolamento da comunidade surda foi, aliás, abordado em vários artigos e estudos um pouco por todo o Mundo.