Sem “surpresa” e com “visão retrógrada”: as reações ao discurso de Passos Coelho
Com mais ou menos surpresa, as palavras do antigo primeiro-ministro Passos Coelho na apresentação do livro “Identidade e Família” provocaram reações da Direita à Esquerda. O líder da IL foi um dos mais críticos ao considerar que o livro apresenta visões “retrógradas” da sociedade e do papel das mulheres.
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Aos jornalistas, Rui Rocha admitiu que ainda não leu o livro, apenas alguns excertos com os quais não concorda. “Traduzem uma visão retrograda, uma visão ultrapassada”, afirmou, durante uma ação sobre habitação no Jardim Constantino, em Lisboa. No entanto, realçou que um dos princípios que o partido defende é a “liberdade de expressão”, considerando que essas ideias devem ser debatidas sem “ataques e cancelamentos”. “Quando não concordamos é que é útil defender a liberdade de expressão. Estamos num mau caminho, quando alguém defende as suas ideias com as quais não concordo, e for logo vítima de ataques, de visões que querem cancelar, nós não somos esse partido”, acrescentou.
Já Carlos Moedas, presidente da Câmara de Lisboa, sublinhou o respeito que tem por Pedro Passos Coelho, em quem acredita que “pode fazer muito ainda pela sociedade”. Sobre a sugestão do antigo primeiro-ministro que pediu um “sinal muito forte” para que não se criem desentendimentos teatrais para o futuro do país, Carlos Moedas alertou que os partidos dos extremos apenas querem “destruir o sistema”. “Há partidos que são os moderados do sistema e esses partidos devem dialogar, exatamente porque os extremos são perigosos. Os extremos hoje, à Esquerda e à Direita, querem destruir o sistema”, vincou.
Governo concentrado no programa
Do lado do Governo, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, não comentou as palavras de Passos Coelho. À entrada para a 6.ª edição Foro La Toja, que decorre na Fundação Gulbenkian, em Lisboa, o ministro afirmou que o Executivo está concentrado na apresentação do programa de Governo que “possa resolver o problema dos portugueses”.
Quem também escusou-se a comentar as afirmações de Passos Coelho foi o presidente da Assembleia da República, Aguiar Branco. “Só posso dizer que fui membro do Governo liderado por Pedro Passos Coelho. Tenho a maior das considerações pelo seu mandato como primeiro-ministro e acho que prestou serviços inestimáveis ao país num momento particularmente difícil", disse. “Ele saberá sempre, e em cada momento, avaliar bem o que é importante para o país" , acrescentou.
Já o ex-presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, disse apenas que não estava surpreendido com o discurso do antigo primeiro-ministro social-democrata. “Essas palavras não me surpreendem. Eu penso exatamente o contrário”, notou.
Mais à Esquerda, António Filipe também não se mostrou surpreendido. O deputado do PCP considerou que o partido está “completamente no sentido oposto” ao que Passos Coelho “pensa sobre algumas matérias”. “É uma responsabilidade que o próprio assume perante a sociedade portuguesa”, realçou.
O antigo primeiro-ministro foi a principal figura na apresentação do livro “Identidade e Família”, onde defendeu a capacidade de as pessoas “se entenderem coletivamente” para dar um “sinal muito forte” que responda às desilusões dos portugueses. Durante a sessão, que contou com a presença de André Ventura, do Chega, e de Nuno Melo, do CDS, alegou que "cada vez mais" se incute "ideologia" nas escolas, criticou a eutanásia e reafirmou a sua ideia sobre a imigração. No Final, Ventura cumprimentou Passos Coelho e elogiou a sua intervenção: “Foi brilhante, como sempre”.
Poucas horas depois, em entrevista à CNN, o secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, considerou o discurso do antigo primeiro-ministro “assustador” e acusou-se de se aproximar ao “Chega”. "O que todos vemos é a Direita tradicional, a Direita clássica portuguesa, a integrar o discurso que o Chega tem sobre essas matérias”, apontou.