Das 99 empresas que inicialmente manifestaram interesse em participar no projeto da semana de trabalho de quatro dias, promovido pelo Governo, 46 avançam para a segunda fase da experiência, ainda que nem todos trabalhadores possam ser abrangidos pela redução do horário semanal.
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Durante as próximas 11 semanas, entre março e maio, estas 46 empresas comprometem-se a traçar um plano para testar a semana de quatro dias, bem como a participar num "inquérito inicial de base" para a avaliação dos seus efeitos, revelou, esta sexta-feira, o coordenador Pedro Gomes, na apresentação do balanço da primeira fase do projeto-piloto, em Lisboa. Ainda assim, a porta "não está fechada" para outras empresas que ainda queiram integrar o projeto, salientou o investigador.
Inicialmente, 99 empresas tinham mostrado interesse no projeto, mas apenas cerca de metade decidiram avançar para a próxima fase. Entre os principais motivos que levaram estas organizações a querer dar o próximo passo estão o nível de preocupação com o stress e situações de "burnout", o facto do modelo facilitar a retenção dos trabalhadores, melhorar a qualidade do serviço e promover a inovação.
Nesta nova fase, os principais setores mantém-se: quase 40% desenvolvem atividades de consultoria, científicas, técnicas e similares, seguindo-se a área da educação e da informação e comunicação. Nas indústrias transformadoras e no comércio tende a ser "mais difícil" implementar este regime, mas são atividades que "beneficiam grandemente da implementação de uma semana de quatro dias", salientou a co-coordenadora do projeto, Rita Fontinha, referindo-se aos resultados já conhecidos do projeto-piloto realizado no Reino Unido.
No total, os investigadores estimam que estas 46 empresas empregam mais de 20 mil pessoas, sendo que mais de metade contam com dez trabalhadores e apenas cinco com mais de mil, ainda que no projeto-piloto nem todos possam ser abrangidos pela redução do horário semanal. "Geralmente são as pequenas empresas que implementam a semana de quatro dias a todos os colaboradores ao mesmo tempo", explicou a co-coordenadora.
A maioria destas empresas encontra-se nos distritos de Lisboa (14) e do Porto (8). As restantes estão espalhadas pelos distritos de Coimbra (5), Braga (4), Beja (3), Faro (2), Aveiro (2), Viana do Castelo (2), Santarém (2), Guarda (1), Leiria (1), Vila Real (1) e Viseu (1). O distrito de Setúbal e a Região Autónoma dos Açores ficam de fora nesta nova fase.
A organização prevê que a fase de teste do projeto arranque a partir de junho. Decorrerá durante seis meses até novembro deste ano nas empresas que se voluntariem. Este é um processo que não pode envolver cortes salariais e tem de reduzir a média para 32 ou 34/36 horas semanais. As empresas podem desistir do processo a qualquer momento
A estas 46 empresas juntam-se ainda oito associadas que já tinham implementado o modelo entre 2021 e este ano, apontou Pedro Gomes. Enquanto associadas, estas empresas não serão avaliadas no relatório final, mas são apoiadas pelas plataformas da "4 Day Week Global", a organização sem fins lucrativos com vista a esta transição. Segundo Rita Fontinha, até agora as empresas "têm manifestado uma atitude bastante positiva".
Das empresas que não quiseram dar continuidade ao modelo, 19 não responderam ao convite da organização e 26 empresas consideraram que esta "não era a altura ideal pelas condições económicas", evocando outras limitações como a necessidade de investimento financeiro caso exigisse o recrutamento de mais colaboradores, uma implementação muito complexa ou esta não ser a melhor solução para os seus problemas da empresa. "Este é um processo complexo, é natural que algumas empresas desistam", admitiu Pedro Gomes, defendendo que esta mudança "é um caminho difícil, mas que vale a pena".
Planos podem seguir duas estratégias
Nestes próximos três meses as empresas devem definir como querem implementar a semana de quatro dias, o que implica "redesenhar o tempo para as reuniões, as tecnologias utilizadas e o dia de trabalho, bem como construir uma cultura mais positiva alinhada com a Agenda do Trabalho Digno", explicou Rita Fontinha. Uma vez que cada "empresa tem as suas necessidades, as suas especificidades e os seus clientes", dentro das duas estratégias para a redução horária semanal - para 32 horas ou 34/36 horas - são várias as soluções.