O país perdeu o equivalente a 135 mil campos de futebol de área de pinheiro-bravo, só no ano passado. Para rearborizar 75 mil hectares são precisas 19 milhões de plantas de pinheiro-bravo por ano, durante cinco anos.
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As sementes estão no topo das árvores e só são acessíveis por escaladores, que trepam os pinheiros. Eles puseram pés ao caminho, ou aos escadotes, para conseguir 20 toneladas. São poucos, porque não é uma profissão regulamentada. A oferta de formação escasseia e só há trabalho entre janeiro e maio, época da colheita. Sobem a árvores de 20 metros para a apanha.
"A pinha está mesmo no topo e nas pontas dos ramos. Tem de estar completamente fechada para ter a semente que interessa, para depois se plantarem os pinheiros", explica Ana Azevedo, de 33 anos, que fez formação recentemente e faz trabalhos pontuais. Era a única mulher a trepar árvores na zona florestal das dunas de Ovar, onde arrancou a operação de colheita, que começou mais tarde por causa da chuva. Com ela, estavam outros cinco escaladores, uns contratados pelo Centro Pinus, outros funcionários do Centro Nacional de Sementes Florestais.
O envolvimento do Centro Pinus, que representa a indústria da fileira do pinho, tem uma explicação: "Não há semente e planta suficiente no mercado para as necessidades. Quisemos potenciar a recolha, porque o pinho representa 88% das empresas florestais e 35% das exportações", explica João Gonçalves. Os escaladores levam 15 minutos em cada árvore, que tanto pode dar 50 como 250 pinhas. "O segredo é ter calma e descobrir o caminho de cada árvore", diz Marco Rangel, 49 anos, que faz isto desde 2013. Sempre gostou de árvores e acabou por se especializar, mas não é a sua profissão. Com um escadote gigante e cordas, vai trepando.
O mais experiente ali é Manuel Alves, que já não se deixa assustar com a altura ou o vento. Leva 35 anos disto e é dos poucos escaladores a tempo inteiro, porque é funcionário do Centro. Tem 57 anos e "não há gente nova" que o substitua.
Cristina Santos, do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, concorda: "Os fogos destruíram 25 áreas com potencial para a produção de pinha. Temos de aumentar as colheitas e para isso é preciso profissionalizar". No ano passado, o mercado ofereceu 1,2 milhões de plantas. É preciso multiplicar este número por 16 para garantir a sustentabilidade do pinho.