Projeto pioneiro em Portugal está a ser testado no Hospital de Santa Marta com dez utentes. Todos receberam um telemóvel, um oxímetro e um cardiofrequencímetro.
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O Hospital de Santa Marta, em Lisboa, está a telemonitorizar, desde maio, doentes que ainda não conseguiram regressar à sua vida normal por causa das sequelas deixadas pela covid-19. Segue atualmente dez, tendo dois já tido alta. O projeto-piloto de telemonitorização e pioneiro em Portugal foi desenvolvido pela Altice e pelo Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central (CHULC). Os utentes elogiam o acompanhamento "mais personalizado e diário", por via informática.
Neuza Reis, enfermeira de reabilitação, abre a plataforma SmartAL no computador. No ecrã é possível ver gráficos e tabelas com informações dos doentes telemonitorizados, identificados por cores. O rosa significa, por exemplo, que um utente ainda não reportou os seus dados naquele dia.
A todos foi entregue um telemóvel, um oxímetro para medir a saturação de oxigénio no sangue e um cardiofrequencímetro para contar os passos, monitorizar a frequência cardíaca e a qualidade do sono. É através destes aparelhos que enviam dados ao hospital ajudando a enfermeira a fazer um plano de exercícios individual.
"Sinto-me acarinhado"
A meio da manhã, Neuza tenta estabelecer a primeira videochamada do dia, mas, após várias tentativas, a ligação não é possível. O programa ainda tem falhas "que estão a ser corrigidas". Não conseguem ver Carlos Cardoso, 68 anos, mas falam por telefone. Um mês antes não conseguia subir as escadas até ao segundo andar, onde vive, de uma vez, mas agora é bem diferente.
"Já subo normalmente. Este programa ajuda-me muito porque tenho um acompanhamento mais próximo e sinto-me acarinhado, o que é muito importante para a recuperação. A responsabilidade de enviar o relatório com os exercícios que fiz obriga-me a cumpri-los", explica ao JN.
Teve covid-19 em março e, após quatro dias internado, e já recuperado da doença, começou a sentir um cansaço extremo e falta de ar. Carla Gonçalves, 47 anos, sentiu o mesmo. "Ainda não estou nem a um quarto do que era", lamenta a utente, na videochamada. A fadiga, a taquicardia, o descondicionamento cardiovascular ou ansiedade são os sintomas mais comuns dos doentes telemonitorizados.
"Estão extremamente ansiosos. A maioria são pessoas produtivas que não estão a conseguir voltar ao trabalho e é muito difícil lidar com isso. Quando sabem que do outro lado está alguém a avaliar e vigiar sentem-se acompanhados na tarefa e quebram estes medos. Sabem que alguém está a olhar por eles", explica Neuza Reis.
O médico Miguel Toscano Rico também aponta vantagens. "Avaliamos dia a dia a evolução do estado de saúde, detetamos precocemente alterações e intervimos de forma mais célere nas descompensações dos doentes, que recuperam mais rápido".
Critérios
Doentes encaminhados para telemonitorização são os que apresentam fadiga, menos oxigénio no sangue e maior frequência cardíaca. Hospital quer começar a seguir utentes de centros de saúde.
Tecnologia 5G
Numa segunda fase do projeto, a Altice quer introduzir tecnologia 5G que possibilitará transmissão de imagem e dados biométricos em tempo real. A parceria com a Altice não tem custos para o hospital neste momento.
