Seriam precisos mais de 14 mil profissionais para acabar com trabalho suplementar no SNS
Estudo do PLANAPP indica que o volume de horas extra e de prestação de serviço aumentou muito, perto de 39%, entre 2018 e 2022.
Corpo do artigo
Entre 2018 e 2022, o trabalho de profissionais do SNS em horas extraordinárias e horas em prestação de serviços aumentou 38,9%, de acordo com um relatório elaborado pelo Centro de Planeamento e de Avaliação de Políticas Públicas (PLANAPP). O total de tempo de trabalho suplementar registou em cinco anos um crescimento de 18,3 milhões de horas para 25,5 milhões, sendo de registar que o período de tempo estudado integra os anos da pandemia de covid-19. Para evitar este trabalho extra, o SNS teria que contratar 14 286 profissionais adicionais, o que equivale a cerca de 10% da atual força laboral.
O relatório "Tempo de trabalho dos profissionais do SNS - Contributo do trabalho suplementar e da prestação de serviços clínicos" indica que o peso das horas extra prestadas por médicos, enfermeiros e auxiliares do serviço público é superior ao tempo de trabalho dos tarefeiros. Estas apresentam valores nas ordem das cinco milhões de horas, enquanto o trabalho extra representou 13,1 milhões de horas em 2018, evoluindo para 21,9 em 2021, e 19,8 no ano de 2022.
“Em termos globais, no ano de 2022 foram prestadas quase 20 milhões de horas suplementares no SNS, o que representa um crescimento de 51,2% face aos valores registados em 2018”, lê-se no documento.
Tendo como referência o último ano em análise, o estudo revela que, nesse ano de 2022, houve quatro grupos profissionais que aglutinaram “mais de 80% do volume” de horas extraordinárias. Em primeiro os enfermeiros, com 6,3 milhões, depois os médicos especialistas (5,3 milhões), os assistentes operacionais (3 milhões) e os médicos internos (1,7 milhões).
Na análise por regiões, conclui-se que o Norte e Lisboa e Vale do Tejo salientam-se por um “maior volume” de horas extra, enquanto as regiões do Alentejo e Centro concentram “o maior número médio de horas de trabalho suplementar realizadas por profissional”.
“Apesar do crescimento efetivo registado do número de profissionais ao serviço do SNS, este não parece ter sido suficiente para dar uma resposta completa às necessidades de prestação de cuidados de saúde no SNS, tendo esta de ser suprida (parcialmente) pela realização crescente de trabalho suplementar”, aponta o relatório do PLANAPP.
O trabalho destaca ainda que o INEM tem uma situação deficitária de profissionais e “assume-se, marcadamente”, em 2022, “como a instituição com maior sobrecarga”, apresentando um volume médio de 428 horas de trabalho suplementar por profissional.