É uma paixão "inexplicável" semelhante "àquela vivida pelos namorados". "Não se consegue explicar, apenas se sente e se vive". É desta forma que José Sequeira Ginja, 62 anos, explica o que sente quando se coloca na sua asa-delta e observa dos céus. "A terra que vista de cima é linda", diz.
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Com emoção de um primeiro amor, fala do "cheiro das aves" que sente quando voa e diz que apenas quer viver o tempo sem relógio. Piloto reformado das linhas áreas com mais de 16 mil horas de voo, José Ginja garante que nasceu para voar. "Sempre quis ser piloto", diz, e, por isso, aos 17 anos entrou para a Força Aérea, apesar da forte contestação do pai e o apoio da mãe.
Em 1978, na Califórnia, decide tirar o curso de asa-delta, desporto que acabaria por trazer para Portugal. Tem o número um na licença que ostenta orgulhoso. "Para fazermos Asa Delta temos de ter um curso, depois a licença médica, licença de voo e seguros", explica.
José Ginja é um dos 25 pilotos de Asa Delta que existem no país e que escolhe a Serra dos Mangues, na freguesia de S. Martinho do Porto, para dar largas à sua paixão. Ali existem locais privilegiados para a descolagem e aterragem e muito vento.
Manuel Neto, 47 anos, advogado e tradutor. Há 26 que pratica Asa Delta e assegura que ainda não se cansou. "Quando se está lá em cima e se vê este formigueiro cá em baixo.... estamos afastados de tudo, dos problemas.... é inexplicável".
Manuel admite ter dificuldade em explicar o que sente quando voa, tanto mais porque há anos que tenta escrever um livro "e ainda não consegui".
Para além da asa-delta, a Serra dos Mangues recebe também os muitos praticantes de parapente que existem no país (cerca de 800). Manuel assegura que a asa-delta, para além de não fazer barulho nem deitar cheiro "é mais segura".