Há contas por saldar que vão ser pagas até 2030, sobretudo devido a empréstimos. Leiria é a mais endividada, mas o deslize de Braga não está todo contabilizado.
Corpo do artigo
Com parte do Mundo atento ao Europeu de Futebol e no rescaldo da candidatura ibérica à realização do Mundial de 2030, sete das nove câmaras que financiaram obras e estádios para o Euro 2004, realizado em Portugal, ainda têm uma fatura total de 55 milhões de euros para pagar. Entre empréstimos e derrapagens, a conta do último Euro ainda está nos oito dígitos para alguns municípios, 17 anos depois.
De acordo com os relatórios de Gestão e Contas das câmaras que apoiaram a construção de estádios, acessibilidades e estacionamentos, aquela que tinha a dívida maior no fecho das contas do ano passado era a de Leiria, com 20 milhões de euros por saldar em empréstimos bancários. As Autarquias de Braga, Coimbra, Guimarães, Aveiro, Faro e Loulé completam o leque.
Leiria paga cerca de um milhão de euros por ano, o que "é bastante exigente", admite Gonçalo Lopes, o socialista que preside à Câmara e que herdou o passivo do recinto construído no tempo da social-democrata Isabel Damasceno. A maturidade de alguns empréstimos ultrapassa 2030. "Atrasou outros investimentos fundamentais na área da saúde, educação e ambiente", refere o mesmo autarca.
No caso de Braga, as contas ainda não estão fechadas. O recinto bracarense foi o que teve o maior custo por lugar, a maior fatura e a maior derrapagem de todos do Euro 2004. O projeto inicial entregue ao Governo previa um custo de 37 milhões de euros. Meses depois, o Executivo do socialista Mesquita Machado decidiu fazer uma obra "melhor e maior". Chamou o arquiteto Souto Moura e a previsão de custos subiu para 79 milhões.
Ao longo das obras, surgiram acréscimos de preço só contabilizados no ano de 2018 pelo Tribunal de Contas. A fatura total ia em 153 milhões e o estádio já tinha sido inaugurado cinco anos antes, em 2003, a tempo do torneio.
No final de 2020, o Executivo agora liderado por Ricardo Rio ainda tinha a pagar 9,5 milhões de euros de empréstimos, demonstra o Relatório de Gestão. A estes somam-se cinco milhões do recente acordo com o arquiteto Souto Moura, o que dá uma conta de 14,5 milhões. A fatura do municipal de Braga ainda pode subir, uma vez que estão em fase de execução duas sentenças que podem chegar aos 9,5 milhões de euros, em benefício do consórcio de construtores. O custo final, calcula a Autarquia, deve ficar entre os 190 e os 200 milhões.
Esta semana, Rui Rio, líder do PSD, disse que a construção de dez estádios no Euro 2004 "foi um erro brutal". O primeiro-ministro, António Costa, já tinha dito, há dois anos, que "se fosse hoje, o país não teria feito tantos estádios".
Entre os dez recintos construídos ou requalificados em 2004, seis são a casa de clubes da 1.a Liga (Sporting C. P., F. C. Porto, S. L. Benfica, S. C. Braga, Vitória S. C. e Boavista F. C.). Os restantes acolhem jogos da 2.a Liga (A. A. Coimbra), Campeonato de Portugal (U. D. Leiria) e Distritais de Aveiro (S. C. Beira-Mar). Há ainda o estádio do Algarve, sem clube fixo.
Candidatura ibérica
As federações de Futebol de Portugal e Espanha oficializaram, no passado dia 4, a candidatura ibérica à realização do Mundial de Futebol em 2030.
Duas sem dívidas
Das nove câmaras que investiram em estádios para o Euro, apenas Porto e Lisboa não têm dívidas relacionadas com o Euro 2004.
Estádios por definir
Embora tenha sido aventado pela Imprensa espanhola que "três ou quatro" estádios portugueses estariam previstos na candidatura ibérica a 2030, o modelo não está fechado.