Sete mulheres descrevem assédio de Boaventura de Sousa Santos: "Oferecia sexo como moeda de troca"
Sete mulheres do coletivo de vítimas representado pela advogada brasileira Daniela Felix falaram pela primeira vez, publicamente, sobre os alegados casos de assédio cometidos pelo sociólogo Boaventura de Sousa Santos no Centro de Estudos Sociais (CES), da Universidade de Coimbra.
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As alegadas vítimas contaram à Agência Pública, meio de comunicação brasileiro, que o sociólogo português “oferecia sexo como moeda de troca para uma ascensão de carreira”.
Em março deste ano, depois dos resultados da comissão independente do CES para investigar o assédio na instituição, o coletivo identificou o nome de todas as mulheres que, em diversas cartas abertas, afirmaram terem sido vítimas de assédio sexual e moral na instituição.
Sete mulheres descreveram os detalhes do assédio numa reportagem da Agência Pública, divulgada esta quinta-feira. Foram elas Carla Paiva, Eva García Chueca, Gabriela Rocha, Aline Mendonça, Mariana Cabello, Élida Lauris e Sara Araújo.
“Quando as luzes se apagaram, ele colocou a mão entre as minhas pernas, na minha virilha. (...) Continuou a olhar em frente, a ver o filme. Eu saí assustada”, relata Mariana Cabello, que esteve num curso de verão do CES em 2016. Uma das aulas foi a visualização de um documentário sobre direitos humanos.
Sara Araújo, uma das portuguesas que deu o seu testemunho, descreveu que era uma "tortura psicológica" trabalhar com Boaventura de Sousa Santos. “Quando percebi que ele usava o sexo como moeda de troca, entendi que a minha carreira no CES tinha terminado ali. Depois disso, ele excluiu-me da coordenação de todos os projetos em que eu tinha investido a minha dedicação", contou.
Sociólogo quer regressar ao CES
A portuguesa afirma que o sociólogo lhe terá dito que era "a única mulher" com quem o próprio tinha uma "relação tão próxima" e que não envolvia "caráter sexual". A equipa de assessoria de Boaventura de Sousa Santos disse à Agência Pública que o relatório da comissão independente do CES “não imputou crimes nem faltas graves a nenhuma das pessoas denunciadas".
A mesma fonte referiu que o sociólogo está a aguardar pela investigação do Ministério Público, que abriu um inquérito depois de receber o relatório da comissão independente e uma carta do coletivo de vítimas.
Boaventura de Sousa Santos já manifestou o interesse em voltar à instituição, depois de ter pedido a suspensão dos cargos no CES. De acordo com o jornal "Diário de Notícias", a vontade do sociólogo foi comunicada pela direção da instituição numa reunião de assembleia presidida pelo vice-reitor da Universidade de Coimbra, no final de abril.
Reuniões com as vítimas
A 24 de abril, a Agência Pública revela que o coletivo representado por Daniela Felix reuniu com a direção do CES, em que lhes terá sido dito que estava a decorrer um processo de inquérito, com um advogado e um investigador independente. Antes, a 17 de abril, terão reunido também com o reitor da Universidade de Coimbra, que mostrou solidariedade para com as vítimas, mas apontou que não tem "poder disciplinar" sobre o CES.
A instituição não respondeu às questões do JN sobre o regresso do sociólogo. Também Boaventura de Sousa Santos e Bruno Sena Martins, outro dos acusados de assédio e que também pediu a suspensão do CES, não responderam às questões do JN.
O relatório da comissão independente do CES, conhecido em março, confirmou que existiram "padrões de conduta de abuso de poder e assédio por parte de algumas pessoas que exerciam posições superiores na hierarquia do CES". Os casos de assédio no CES vieram a público depois da publicação de um capítulo, na editora académica Routledge, chamado "As paredes falaram quando ninguém se atreveu".