O setor privado da saúde empregava, em 2019, 125 mil pessoas, quase tantas como o Serviço Nacional de Saúde (SNS) que, na mesma data, contava 135 mil trabalhadores.
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As mais de 28 mil empresas do setor - farmácias, clínicas e laboratórios, hospitais e indústria farmacêutica e dos dispositivos médicos, entre outros - geraram, no mesmo ano, cinco mil milhões de euros de valor acrescentado bruto e entregaram quase 800 milhões de euros ao Estado em impostos.
A mais recente radiografia do setor privado da saúde, realizada pela Dun & Brastreet/Informa a pedido do Conselho Estratégico Nacional de Saúde da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), mostra a relevância de um setor que, "por vezes, fica esquecida na suposta guerra entre público e privado", como realça Óscar Gaspar, membro da direção da CIP e presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada.
O estudo tem por base os documentos de prestação de contas de 2019 das empresas registadas com CAE (Classificação das Atividades Económicas) de saúde. É, por isso, "um retrato conservador" pois deixa de fora centros de investigação, bem como as seguradoras, cujos prémios de saúde rondam os 900 milhões de euros, e as empresas que asseguram as tecnologias de informação e comunicação do setor, ressalva o responsável.
Pelo peso e importância que adquiriu, o setor privado da saúde já não admite ser visto como um mero fornecedor do Estado. "Empregamos 125 mil pessoas, pagamos impostos, fazemos investimentos, somos tutelados pelo Ministério da Saúde mas também somos entidades da economia. E o que reclamamos do Ministério da Economia é que nos veja como um setor de atividade e não apenas como um fornecedor do Estado", refere Óscar Gaspar.
Foco no turismo médico
Exige-se, por isso, "um esforço, uma estratégia nacional" para focar o setor no mercado internacional, reforçando a aposta no turismo médico, promovendo lá fora a marca "HealthPortugal" para convencer os estrangeiros a escolherem Portugal como destino de cuidados médicos e de férias, defende o responsável da CIP.
O estudo mostra um setor particularmente dedicado à medicina clínica especializada em ambulatório (6926 empresas) e à medicina dentária e odontologia (5962). Mas são as mais de três mil farmácias (comércio a retalho de produtos farmacêuticos, médicos e ortopédicos, em estabelecimentos especializados) que empregam mais trabalhadores (mais de 23 mil).
Embora chegue a todos os pontos do país, muito à custa da rede de farmácias e dos laboratórios de análises clínicas, o setor privado da saúde concentra-se essencialmente na região de Lisboa e Vale do Tejo (38%) e no Norte (37%). Na região Centro estão 17% das empresas da saúde, mas no Alentejo e no Algarve não passam de 4%. E nas ilhas, apenas 2%.
Números que, segundo Óscar Gaspar, vêm ao encontro dos últimos dados sobre demografia do Instituto Nacional de Estatística, que apontam para uma redução e litoralização da população. Ainda assim, assegura, no que toca aos hospitais privados tem havido um esforço de investimento em zonas do país que não Lisboa e Porto. "Este ano foram inaugurados dois hospitais, um em Sines, outro em S. Miguel, nos Açores", conclui.
Pormenores
Empresas pequenas
A maioria das empresas do setor privado da saúde (cerca de 68%) são de pequena dimensão, empregando até nove trabalhadores. Apenas 49 entidades têm mais de 249 empregados.
Volume de negócios
80% das empresas de saúde têm um volume de negócios até dois milhões de euros. Só 47 entidades ultrapassam os 50 milhões de euros, segundo a análise da Dun §& Brastreet/Informa.
Assimetrias
O distrito de Lisboa concentra 9303 empresas de saúde e o do Porto 5686. Portalegre é o distrito do país com menor aposta do setor (187 empresas).