Em abril de 1974, o Teatro Casa da Comédia, em Lisboa, tinha em cena "Doroteia", uma peça do dramaturgo brasileiro Nelson Rodrigues. Uma das seis protagonistas era Maria do Céu Guerra, que interpretava o papel de Flávia. Por isso mesmo, passados 40 anos, a atriz tem bem presentes as circunstâncias em que ficou a saber da Revolução dos Cravos. "Estava a fazer a "Doroteia" e soube que ia haver o golpe", contou ao JN.
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A também fundadora da companhia de teatro A Barraca, grupo que este ano celebra 38 anos, recorda que nessa noite "todos ficamos atentos à espera do que poderia acontecer. Mas só no dia seguinte é que tivemos a confirmação".
Ela, que durante quase 11 anos fizera teatro com censura, não hesita em considerar o 25 de abril de 1974 como o dia mais feliz da sua vida". Antes, enfrentara "muitos problemas, nomeadamente com a censura, que não permitia que escolhêssemos livremente as peças que queríamos levar à cena. Havia muitos autores que estavam proibidos".
Agora, volvidos 40 anos sobre a Revolução, aquela que é uma das maiores atrizes portuguesas do século XX olha para tudo "com uma grande vontade e um grande empenhamento em defender o 25 de Abril. Sinto-o não só como uma coisa nossa, mas como algo meu também".
Para a atriz e encenadora, o espírito de Abril está presentemente em causa. "Percebi, durante a campanha eleitoral deste primeiro-ministro que se estava a preparar a alguma coisa que punha em risco aquilo que consideramos sempre como sendo as conquistas da Revolução. Refiro-me à Saúde, à Educação, à Cultura", afirma.
As notícias mais recentes sobre banqueiros e prescrições de multas avultadas não deixam a atriz muito tranquila. "Isso só prova que, no campo da Justiça, o 25 de Abril ainda está por cumprir", sentencia.