Peso dos estrangeiros na demografia e na economia é cada vez maior. Houve recorde de contribuições e 50 municípios a crescer.
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A importância dos cidadãos estrangeiros que Portugal acolhe é cada vez maior na demografia e economia nacionais. Sem imigrantes, só sete concelhos ganhariam população e as contribuições para a Segurança Social seriam mais baixas em 1500 milhões de euros. Hoje há debate sobre imigração e segurança, promovido pelo Chega, na Assembleia da República, com a presença do ministro da Administração Interna, mas o coordenador da Plataforma de Apoio a Refugiados (PAR) considera que "não podemos olhar para as migrações como ameaça à nossa segurança".
Entre 2011 e 2021, Portugal perdeu 220 mil habitantes e o número de residentes recuou para 10,3 milhões. A perda seria de mais do triplo, de 761 mil habitantes, se o impacto da imigração fosse excluído. O JN calculou a evolução demográfica com base nos Censos do Instituto Nacional de Estatística e retirou-lhe o efeito da imigração registada nesses anos. Assim, conclui-se que, sem imigração, Portugal teria apenas sete dos 308 concelhos a ganhar população, com os restantes 301 em perda. Na verdade, com imigração, houve 50 municípios a ganhar residentes.
Cascais perderia 16 mil
O cenário seria muito mais drástico nos concelhos de maior dimensão, se não houvesse imigrantes. Sintra perderia 30 mil pessoas, em vez de ganhar oito mil, Cascais perderia 16 mil, em vez de ganhar sete mil, e Gaia perderia quase nove mil residentes quando, graças à imigração, até ganhou 1500 residentes na última década. Contas feitas, sem imigrantes, Mafra seria o concelho que mais habitantes ganharia (4052), seguido de Palmela (2250), Braga (548), Alcochete (412), Sesimbra (275), Madalena (108) e Esposende (32).
Ao nível da natalidade, dos 80 mil bebés nascidos em 2021 em Portugal, cerca de 10 mil (14%) têm mãe estrangeira. As mães brasileiras são aquelas que mais contribuem para a natalidade em Portugal, logo a seguir às portuguesas.
A maioria dos imigrantes vem de culturas semelhantes à portuguesa e até falam português. É o caso dos brasileiros, que foram um terço dos imigrantes no ano passado. Ou de cabo-verdianos e angolanos que, juntos, representam mais 10% da imigração do mesmo ano.
Recorde de contribuições
Do ponto de vista económico, os 630 mil trabalhadores estrangeiros a residir em Portugal contribuíram com 1500 milhões de euros para a Segurança Social, o que é um aumento de 19% face a 2021 e um número recorde. "Os imigrantes são uma mais-valia para o sistema e contribuem positivamente para a sustentabilidade da Segurança Social", como já explicou, no Parlamento, Catarina Marcelino, vice-presidente do Instituto da Segurança Social.
O Chega agendou para hoje o debate sobre segurança e imigração, a propósito de um duplo homicídio alegadamente cometido por um refugiado no Centro Ismaelita, em Lisboa, na semana passada. Então, André Ventura disse que a responsabilidade pelo ataque era da "política de portas abertas sem qualquer controlo", o que levou a que várias vozes se tenham levantado contra o aproveitamento político da tragédia.
"Não podemos olhar para os imigrantes como uma ameaça à nossa segurança", afirma ao JN o coordenador da PAR e diretor do Serviço Jesuíta aos Refugiados, André Costa Jorge. Por regra, os imigrantes "estão em idade ativa" e "contribuem para a injeção de gente nova que nos beneficia, sem que tenhamos tido a despesa normal com eles", designadamente em educação e em saúde. "Não queremos o ódio, não é essa a sociedade que queremos".
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Centros ocupados
Em Portugal, há sete espaços destinados ao acolhimento de migrantes em situação de vulnerabilidade. Desde a criação do primeiro, em Beja, em agosto do ano passado, os centros registam uma ocupação de 100%.
Lei mudou em 2022
A "lei dos estrangeiros" sofreu alterações em 2022. Facilitou-se a obtenção de vistos de trabalho, vistos para oriundos da CPLP e para estudantes universitários.