EDULOG analisou oferta de cursos de Ensino no Superior e concluiu por excessiva dimensão teórica. Há docentes com perfil académico desajustado
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Apenas cerca de um terço dos docentes que asseguram a formação inicial de futuros professores tem experiência de lecionação nos ensinos básicos e secundário. E um terço não tem formação no ramo educacional, estando os perfis académicos desajustados às componentes de formação. Uma radiografia ao perfil dos professores do Ensino Superior feita pelo EDULOG, da Fundação Belmiro de Azevedo, com várias recomendações. Desde logo, investir na progressão da carreira académica, bem como o desenvolvimento de atividades de desenvolvimento profissional relacionadas com o exercício da docência.
Como ponto prévio, o "Perfil académico profissional de professores do Ensino Superior que asseguram a Formação Inicial de Professores" (FIP), levado a cabo pelo Centro de Investigação e Intervenção Educativas da Universidade do Porto, sublinha que a maioria dos docentes possui doutoramento. Contudo, o estudo apurou "uma dimensão teórica excessiva nestes cursos e que valeria a pena haver um reforço da formação em contexto de trabalho ou simulado", explica ao JN David Justino, membro do Conselho Consultivo do EDULOG. O que significa que "há margem para melhorar".
De acordo com a análise feita, "as referências a formação e experiência de docência nos ensinos básicos e/ou secundário são em número relativamente baixo (cerca de um terço dos docentes) e ocorre, predominantemente, nas Instituições de Ensino Superior (IES) politécnico". Se no subsistema universitário apenas 19,8% dos docentes de mestrado referem ter habilitação académica e experiência de docência, no politécnico são 34%.
Indicador que "alerta para alguma falta de experiência dos docentes com as exigências inerentes ao ser professor, nomeadamente nos níveis do sistema educativo para os quais habilitam os cursos". Avisando os investigadores que, "sendo a FIP tão importante", são "predominantemente os professores em início da carreira profissional que asseguram estes cursos".
Por outro lado, "cerca de um terço dos docentes que asseguram estas Unidades Curriculares [UC] não tem formação no ramo educacional e os perfis académicos são desajustados à natureza de algumas UC/componentes de formação, predominantemente ao nível das Didáticas Específicas" (por exemplo, Línguas).
Pouca investigação
Acresce, frisa o ex-ministro da Educação, "o défice de investigação aplicada". Com o estudo a concluir por um "volume de publicação de artigos baixo", sendo as "publicações de ordem didática, de que são exemplo os manuais escolares e cadernos didáticos, em número residual". Para David Justino, "vale a pena criar incentivos para que haja mais investigação aplicada, porque é isso que faz falta".
Quanto à radiografia feita, e falando agora a título pessoal, defende, tal como "foi feito nos anos 90", que o Ministério da Educação "defina um perfil que serviria para as IES orientarem as formações àquele perfil". Para o antigo governante, "tem que haver rigor, a autonomia [científica e pedagógica das IES] não é desregramento total". Admitindo ainda David Justino "alguma especialização", por via de uma "maior cooperação entre as IES". Tal como uma "maior articulação" entre os ministérios da Educação e Ensino Superior.
O que foi estudado
Com foco na Formação Inicial de Professores, o estudo analisou os cursos de mestrado que conferem formação para a docência nos primeiros anos de escolaridade básica e os que o fazem para a docência no 3.º Ciclo e Secundário. Analisou ainda os cursos de licenciatura em Educação Básica por constituir pré-requisito para acesso a mestrado.
A amostra
Analisados um total de 148 cursos em instituições públicas e privadas, do subsistema universitário e politécnico. Nesta análise, consideraram-se 1736 docentes que asseguram o ensino de 2878 unidades curriculares, em 1260 estão associados e 2040 unidades curriculares de cursos lecionados em instituições públicas; e 476 associados a 838 unidades em instituições privadas.