No dia em que Bruxelas classificou de "preocupante" o surto de hepatite aguda de origem desconhecida que está a afetar crianças, o diretor do Programa Nacional para as Hepatites Virais salientou que, apesar do aumento pontual de casos, "não está a haver uma explosão" de novas infeções. A Sociedade Portuguesa de Pediatria está a elaborar documentos orientadores para preparar a resposta a um possível surto.
Corpo do artigo
Além da Europa e Estados Unidos, a doença já chegou ao Canadá e Ásia, num total de quase 200 casos no mundo. Em Portugal, não há reporte de qualquer caso mas a Sociedade Portuguesa de Pediatria está a elaborar documentos orientadores para preparar a resposta a um possível surto.
"Na terça-feira tive conhecimento de mais 10 casos espalhados por países, hoje foi identificado um caso na Polónia. Não quer dizer que no futuro seja assim, mas nestes últimos dias não houve uma explosão assustadora do aumento do número de casos", disse Rui Tato Marinho, diretor do Programa Nacional para as Hepatites Virais, à agência Lusa, no final de uma reunião do Centro Europeu de Controlo e Prevenção das Doenças (ECDC, na sigla em inglês).
14805385
O diretor do programa da Direção-Geral da Saúde adiantou que tem estado em contacto com os pediatras e os médicos de Medicina Geral e Familiar, não tendo sido detetado nenhum caso em Portugal.
"Estamos preparados para que, a qualquer altura, isso possa acontecer", disse, acrescentando: "Já sabemos como são estes casos típicos de hepatite em crianças".
Segundo Rui Tato Marinho, "são crianças muito pequeninas de três, quatro anos, em que 10% dos casos evoluíram para hepatite fulminante, necessitando de transplante".
Adenovírus é hipótese
O responsável adiantou que a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o ECDC estão "a trabalhar dia e noite afincadamente, para conseguir detetar qual é o ponto comum" nos casos reportados em mais de uma dúzia de países, e saber qual é o agente, "se é um vírus ou não". Em cima da mesa, está a hipótese de a origem ser um adenovírus, um vírus conhecido por provocar infeções respiratórias, "mas que se tenha modificado e tornado mais agressivo", salientou Rui Tato Marinho.
Há cientistas que acreditam que a infeção pode resultar de uma resposta excessiva a um estímulo, numa altura em que o sistema imunitário das crianças estará mais em baixo devido ao menor contacto social durante a pandemia.
Pediatras preparam-se
Sem certezas sobre a origem da doença, a Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP), juntamente com as Sociedades de Gastrenterologia, Hepatologia e Nutrição, Infecciologia, Urgência e Emergência e Cuidados Intensivos, está a elaborar documentos orientadores para pais e profissionais. O objetivo é preparar a resposta a um possível surto de hepatites, refere a SPP, em comunicado.
A médica Isabel Gonçalves, porta-voz do grupo de trabalho, referiu, à Sic Notícias, que será divulgado um documento informativo sobre a doença para que pais e profissionais de saúde estejam atentos.