José Sócrates acusa o Ministério Público de fazer "uma campanha de ataque pessoal", para criar a convicção pública de que era culpado. "Uma operação de terror" que visou a família e amigos e prejudicou, também, o PS. "Ao fim de seis meses, partido devia ter questionado", afirmou.
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O ex-primeiro ministro, José Sócrates, considerou, esta segunda-feira, que "o Ministério Público tinha a obrigação de apresentar uma acusação" e considerou que "um ano sem apresentar uma acusação é uma loucura".
José Sócrates falava durante uma entrevista, na TVI, na qual considerou que todo o processo judicial, iniciado há mais de um ano, "prejudicou o PS" e afetou a família e amigos.
"O Ministério Público fez, ou deixou fazer, uma campanha de ataque pessoal, de denegrimento pessoal, para criar uma convicção pública de culpabilidade", disse José Sócrates.
"Prenderam-me sem factos e na esperança de encontrarem algo", disse o ex-primeiro-ministro, sustentando que tem "indícios de que a ideia foi prender toda a gente e que alguém ia falar e iam descobrir alguma coisa".
"Operação de terror"
José Sócrates diz que foi "detido sem nenhuma razão" e que "tudo isto foi encenado". O ex-governante fez um resumo da forma como foi detido, para justificar estas afirmações. "Fizeram uma operação de terror, com um profissionalismo que visiva intimidar e assustar", disse, referindo-se às buscas a casa da ex-mulher, do filho e do amigo Carlos Santos Silva.
Foi ao tomar conhecimento destas buscas que achou que seria também procurado pela Justiça, tendo mostrado disponibilidade para cooperar. "O meu advogado, João Araújo, enviou um email a dizer que estava comigo em Paris e que eu queria ser ouvido o mais depressa possível. Telefonou, também, para o DCIAP, a dar conta dessa intenção", revelou José Sócrates.
"Não fazia a mínima ideia de que ia ser detido", disse o ex-governante, que afirmou ter regressado a Portugal para fazer frente a quem o acusava. Foi detido no aeroporto, em direto para as televisões. "A minha detenção foi feita com uma selvajaria e uma brutalidade muito grandes. Não dos agentes, que foram muito educados, mas do Ministério Público", acrescentou José Sócrates.
"A minha convicção é que esconderam o email para me prender", acrescentou José Sócrates, acrescentando que havia, ainda, o telefonema a atestar a vontade de colaborar. "Acusação diz que o email só chegou quatro dias depois e dizem que era o arguido que estava em falta", acrescentou.
Segundo José Sócrates, Joana Marques Vidal, procuradora geral da República "é a principal responsável" neste processo. É legítima a minha suspeita que agora nem precisam apresentar provas, porque o mal já está feito. O PS já perdeu as eleições", argumentou.
Sócrates estranha que PS não tenha questionado a detenção
José Sócrates escusou-se a comentar a frase de António Costa, "à política o que é da política e à Justiça o que é da Justiça", quando confrontado com a detenção do ex-governante.
"Ao longo destes últimos anos, não me faltaram amigos. Todos aqueles que eu queria que estivessem comigo, estiveram comigo", disse José Sócrates, escusando-se a comentar a relação com o atual primeiro-ministro.
Apesar de não comentar a frase de Costa, o ex-governante mostrou que discorda. "Ao fim de seis meses, gostava que o PS tivesse questionado, não interferido, mas que perguntasse se não seria tempo de apresentar provas" a propósito da detenção de um ex-primeiro-ministro.
José Sócrates sustentou que ao estar detido, "era o governo anterior que estava sob suspeita", e "isso prejudicou o PS". "Só me libertaram depois das eleições", acrescentou.
A corrupção e o caso Lena
José Sócrates abordou, também, o caso da alegada corrupção, em que alegadamente teria beneficiado o amigo Carlos Santos Silva. O ex-governante desfiou números que, argumenta, mostram que não há qualquer benefício ao grupo Lena nos concursos que venceu.
"Quando fui detido não havia qualquer indício de corrupção", disse José Sócrates, recordado um episódio do inquérito de instrução: "A meio, questionei o procurador, perguntei quando tinha sido corrompido e como. Respondeu-me que a em relação a isso a investigação ainda agora tinha começado".