Nos parques na Área Metropolitana do Porto a receita de bilheteira não chega para pagar a fatia de leão dos custos. Ajudas municipais e estatais não existem e só doações os mantêm abertos.
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Nove e meia da manhã e a fila para a bilheteira do Zoo da Maia já tem mais de 30 pessoas, todas famílias com muita pequenada. Durante a espera de 30 minutos, poucos imaginam o que lá se passa dentro em limpezas, alimentação de animais... Incluindo a contabilidade, uma batalha diária para pagar as contas, com a fatia de leão para a alimentação dos animais. Uns com poucas e outros sem ajudas, a batalha estende-se a outros parques na Área Metropolitana do Porto.
"Este é o único zoo do país detido por uma Junta de Freguesia", explica a autarca local Olga Freire, comentando em seguida a dificuldade em manter aquela estrutura na Maia, começando por funcionários, manutenção e alimentação, cujo peso, ainda assim, se torna mais leve devido à parceria com um hipermercado, que envia regularmente frescos (carne, legumes e fruta). "Quando não chega, compramos", prossegue.
Ainda assim, a Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) canaliza regularmente produtos apreendidos que, por falta de rótulos ou outras pequenas irregularidades, não chegam ao mercado, embora em boas condições para consumo.
"Desde 2014, data em que o assumimos, o zoo é autossuficiente. No ano passado, baixámos a receita, que ainda assim foi de 200 mil euros, e não tivemos prejuízo", prossegue a autarca.
Os leões Gondar e Savana, o tigre branco Ancur, os gibões Agil e Gilda, o répteis e o urso Júnior, com 17 anos, são os animais mais admirados entre os 650 ali alojados. Especialmente Júnior, bonacheirão, deitado à sombra junto ao lago, mas um dos maiores comilões. De tão sonolento, mal reage à chamada. Mas neste dia, Mónica Correia, bióloga do zoo, decidiu surpreendê-lo com fruta e carne a meio da manhã. O urso mal podia acreditar quando viu o primeiro pedaço a cair na piscina. Levantou-se lentamente e, a partir daí, foi a atração do parque: a sua serenidade em perseguição da comida até regressar ao descanso após tão belo snack.
grandes problemas
No Zoo de Santo Inácio, em Gaia, que tem 615 animais, o valor gasto com alimentação aumenta este ano a cada mês. "Os produtos que mais sofreram aumentos foram a carne, peixe, feno e rações", explicou Teresa Guedes, diretora do parque. "Os gastos com alimentação e produtos para tratamento situam-se nos 16 a 17 mil euros", ou seja, cerca de 200 mil euros anuais, dos quais 40% para carne e peixe, 25% em feno e palha, 13% em ração, 11% de material clínico, medicamentos e grão.
De acordo com aquela responsável, o zoo não tem apoios municipais, nacionais ou ambientais, apenas doações de instituições particulares, como hipermercados locais, que"fornecem as quebras de vegetais e frutas diariamente" ou por apadrinhamento de alguma espécie do zoo. Já da ASAE recebeu "duas ou três apreensões em 22 anos de história", embora tenham sido "muito positivas".
Falta de apoio
"No entanto, não há dúvida de que sentimos falta de apoio estatal", diz Teresa Guedes, sublinhando que normalmente se associa o "apoio estatal" a contribuições monetárias diretas, "mas outros apoios como a isenção de taxas municipais, a recolha gratuita de lixo reciclável, a participação na compostagem de material orgânico, a colocação gratuita de sinalética de estrada, entre outras ideias, poderiam ser uma ajuda muito significativa para os parques zoológicos".
"Preservar a biodiversidade é um papel de todos, da população aos municípios e passando pelos governos, quer seja através da mudança de comportamentos individuais, quer seja através de partilha de conhecimentos e experiências, quer através de donativos e apoio a estes espaços que se dedicam inteiramente à missão da conservação de espécies", concluiu Teresa Guedes.
peixes e invertebrados
No Sea Life do Porto há cerca de 3000 criaturas, sendo 99% delas peixes e invertebrados. Os problemas são semelhantes aos dos outros.
Segundo fonte do Sea Life, a quantidade de comida, com base no ano passado, é de 11 mil quilos por ano, cujo custo anual ronda os 23 mil euros. Ajudas estatais ou outras: "Nada". "Muito esporadicamente, as autoridades ligadas à área piscatória e derivados (Polícia Marítima, ASAE ou outra) lembram-se de nós, o que agradecemos. Mas é algo muito residual", concluiu.