Portugal é o terceiro país a nível mundial, e o segundo da Europa, com mais doadores de órgãos para transplantação. O que explica esse sucesso? O que são doações em vida, transplantes cruzados e dádivas altruístas?
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Quantos transplantes foram realizados nos últimos anos?
Mais de 450 pessoas foram transplantadas no primeiro semestre de 2024, de acordo com o Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST). No ano passado, tinham sido transplantados 963 órgãos. Segundo dados divulgados pela Sociedade Portuguesa de Transplantação, em 2023 registou-se um crescimento global de 15% da atividade de transplantação relativamente a 2022.
Quantos órgãos foram colhidos?
No ano passado, foram colhidos 1066 órgãos, mais 172 do que em 2022.
Qual é o órgão mais transplantado?
É o rim. No ano passado, foram transplantados 547 rins, 249 fígados, 87 pulmões, 52 corações e 28 pâncreas. Do total de rins, 71 foram de dador vivo, segundo a Sociedade Portuguesa de Nefrologia, salientando que o país tem a quinta maior taxa destes transplantes na Europa.
Que órgãos podem ser doados?
De dador morto, podem ser colhidos rins, fígado, coração, pâncreas, pulmões, assim como tecidos osteotendinosos (osso, tendão e outras estruturas osteotendinosas), córneas, válvulas cardíacas, segmentos vasculares e pele. Em vida, é possível doar um rim, parte do fígado ou dos pulmões
Quando foi feito o primeiro transplante em Portugal?
A 20 de julho de 1969, foi realizado o primeiro transplante de órgãos em Portugal, no caso um rim de dador vivo, nos Hospitais da Universidade de Coimbra. O cirurgião pioneiro foi Linhares Furtado e data coincide com a chegada de Neil Armstrong à Lua. Na década de 1980 foram feitos os primeiros transplantes com rim de dador morto, sucedendo-se transplantes de fígado, coração, pâncreas, pulmão, tecidos e células.
Quem pode ser dador?
Podem ser dadores todas as pessoas que não se inscrevam no Registo Nacional de Não Dadores (RENNDA). Portanto, são potenciais dadores todos os que não expressem vontade de não o ser. A legislação portuguesa é apontada como um dos fatores que explicam a elevada taxa de colheita de órgãos do país. Porém, para garantir que os órgãos são corretamente colhidos e que são realizadas os testes necessários para avaliar cada potencial dador, é preciso que a morte ocorra num hospital.
E em vida?
A doação em vida pode acontecer se o dador for maior de idade e gozar de boa saúde física e mental. A lei obrigada também a que o gesto seja voluntário, livre, gratuito e altruísta. Ou seja, não pode haver venda ou qualquer benefício material com a dádiva. Geralmente, são familiares ou amigos que querem ajudar alguém próximo que está em lista de espera para transplantação. Segundo o IPST, nos primeiros seis meses deste ano foram registadas 41 dádivas em vida, para rim e fígado, mais cinco do que em período homólogo.
O que são os transplantes cruzados?
Quando alguém quer doar um rim e não é compatível com a pessoa que quer ajudar, há a possibilidade de fazer um cruzamento de pares de dador-receptor depois de assegurada a compatibilidade. Ou seja, se houver outro par na mesma situação, os dadores oferecem o órgão a um desconhecido, garantindo que ambos os doentes recebem um rim. Mais de cem pares já participaram neste programa. Desde 2010, 24 doentes receberam um rim graças a cadeias de dois ou três pares, incluindo estrangeiros, ao abrigo de protocolos internacionais de intercâmbio de órgãos.
O que é uma dádiva altruísta não dirigida?
Acontece quando alguém doa, sem qualquer benefício, um rim ou parte de fígado sem saber a quem se destina. O primeiro caso foi protagonizado em 2022 por Domingos Machado, médico nefrologista, que aos 70 anos, pouco tempo depois de se ter aposentado, doou um rim dirigido a recetor anónimo. Este ano ocorreu o segundo caso.