Sondagem diária: PS com o pior resultado em 38 anos. AD em queda há cinco dias. Chega liga o turbo e volta aos 18%
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O PS arrisca ter o seu pior resultado em legislativas dos últimos 38 anos. De acordo com a mais recente entrega da sondagem diária da Pitagórica para o JN, TSF e TVI/CNN, os socialistas (25,1%) estão em rota descendente, incapazes de aproveitar a tendência negativa da AD (32%), que mantém uma vantagem de sete pontos percentuais. O que talvez explique que 73% dos portugueses aponte para vitória da coligação liderada por Luís Montenegro. Quando entramos na reta final da campanha há uma outra nota relevante: o Chega regista um crescimento acentuado e volta ao patamar das últimas eleições (18%). Seguem-se a IL (6,9%), o Livre (4,5%), a CDU (3,3%), o BE (2,4%) e o PAN (1,8%).
Quando faltam apenas quatro dias para terminar a “tracking poll” e seis dias para a ida às urnas, pode dizer-se que há uma tendência clara e similar aos líderes das duas grandes forças políticas, os que verdadeiramente disputam a chefia do próximo Governo: Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos estão há vários dias num processo de degradação da base eleitoral, embora com consequências diferentes. Se estes resultados se reproduzissem nas urnas, a AD (34%), que está em queda há cinco dias, ficaria longe de uma maioria, mesmo em conjunto com os liberais (somam 39 pontos), mas ainda poderia dizer que reforça a sua posição relativamente às eleições do ano passado (mais três pontos).
O cenário é pior, nesta altura, para os socialistas. Ao longo dos 11 dias de sondagem diária, Pedro Nuno Santos ficou sempre abaixo do resultado das últimas legislativas (28%) e já vai no terceiro dia consecutivo de perdas, marcando agora 25,1%. Seria, a confirmar-se nas urnas, o pior resultado do seu partido nos últimos 38 anos. É preciso recuar a 1987, o da primeira maioria absoluta de Cavaco Silva, para encontrar um patamar inferior (22,2%); ou a 1985, o ano do efémero PRD (Partido Renovador Democrático, cuja figura de referência era Ramalho Eanes), em que o PS se ficou pelos 20,8%.
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Bloco Central em mínimos e indecisos outra vez a aumentar
Da conjugação de resultados da AD e do PS resulta um outro dado significativo, que parece confirmar que a fragmentação do sistema partidário está para durar: o chamado Bloco Central vale agora 57 pontos percentuais, ou seja, iguala ao resultado de 2024, que já foi o segundo mais baixo em 50 anos de democracia (o fundo foi atingido no já referido ano de 1985, em que o partido “eanista” chegou aos 17,9%, sendo certo, no entanto, que fazia parte do chamado centro político). Os segmentos da amostra que se mostram mais desligados das duas maiores forças políticas são os mais jovens (18/34 anos), com o Bloco Central a valer apenas 34 pontos (sem distribuição de indecisos), e os eleitores da região de Lisboa (40 pontos). Ao contrário, os mais velhos continuam relativamente fiéis à tradição de votar no “centrão” (58 pontos).
Outra aparente consequência da fragilidade dos dois grandes partidos é que o Chega reemerge com força, subindo quase três pontos percentuais nos últimos dois dias, para voltar ao patamar (18%) que lhe deu 50 deputados nas últimas legislativas. Não se pode ainda falar de uma tendência nítida de crescimento para o partido de André Ventura, uma vez que tinha estado os quatro dias anteriores em perda. Os próximos dias dirão se mantém a maré alta, ou se volta à maré baixa.
Estes realinhamentos eleitorais acontecem quando o número de indecisos volta a crescer (17,5%) e está agora no mesmo nível do arranque da sondagem diária. Um alerta importante para o facto de nada estar ainda decidido. As mulheres hesitam mais do que os homens, e tem sido quase sempre assim ao longo da “tracking poll”, mas no que diz respeito à faixa etária, são agora os mais velhos (55 ou mais anos) os mais indecisos (19%). Ao nível regional, destaca-se Lisboa, com quase um em cada quatro eleitores sem saber em quem votar (23%).
Liberais dois pontos acima de 2024. Bloco dois pontos abaixo
Relativamente aos restantes partidos, as oscilações de um dia para o outro são de escassas décimas. Para encontrar diferenças significativas é preciso comparar os resultados atuais com os do arranque da sondagem diária ou com o que conseguiram nas legislativas do ano passado. O primeiro da lista dos mais pequenos é a Iniciativa Liberal de Rui Rocha (6,9%), que está abaixo do seu ponto de partida (7,8%), a 2 de maio, mas dois pontos acima das últimas eleições (só a AD cresce mais nessa comparação).
O Livre de Rui Tavares (4,5%) encabeça o pelotão de forças políticas à Esquerda e parece estar em tendência de descida, mas continua, ainda assim, um ponto percentual acima do arranque da “tracking poll” e das legislativas de 2024. A CDU de Paulo Raimundo (3,3%), depois de alguns dias de maré vaza, volta à estabilidade habitual, igualando, quer o ponto de partida, quer o resultado das últimas eleições.
Para o Bloco de Esquerda de Mariana Mortágua (2,4%), o cenário volta a ser sombrio. São já dois dias de perdas, depôs de atingir o pico, a 10 de maio. Continua melhor do que no arranque desta série de sondagens, mas perde dois pontos face às legislativas de 2024 (só o PS tem pior registo, uma vez que teria menos três pontos percentuais). Ao contrário, depois de um início preocupante, o PAN de Inês Sousa Real (1,8%) aproxima-se da percentagem que lhe permitiu manter-se no Parlamento com apenas uma deputada.
Mulheres a desistir de Montenegro, homens de regresso a Ventura
Na análise aos diferentes segmentos da amostra (género, idade, classe social e região), percebe-se melhor, por exemplo, que a fragilidade da AD resulta sobretudo da desistência (pelo menos temporária) do eleitorado feminino, uma vez que perdeu quatro pontos percentuais desde 5 de maio. Mas continuam a ser elas as principais responsáveis por desempatar as projeções em favor de Luís Montenegro (28%) e a garantir uma vantagem de oito pontos sobre Pedro Nuno Santos (21%), com o alerta de que se trata de resultados sem distribuição de indecisos. Ainda no que diz respeito ao género, salta à vista que o crescimento do Chega se faz exclusivamente à custa do eleitorado masculino.
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Se o ângulo for o da idade, também é evidente que é entre os mais velhos (55 ou mais anos) que a AD dá sinais de desgaste: perdeu nove pontos desde 8 de maio, apenas parcialmente compensado pelos pontos que tem conquistado nos mais jovens. Na importante faixa etária dos mais velhos AD e PS estão agora empatados a 29%. Onde se cava a diferença entre os dois primeiros é nas outras duas faixas etárias em que se divide a amostra. Ao ponto de os socialistas estarem em quarto nos mais jovens (11%), atrás da AD (23%), mas também do Chega (19%) e da IL (12%). No escalão dos 35 a 54 anos, o PS fica em terceiro (17%), atrás da AD (26%) e do Chega (20%).
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No que diz respeito à geografia, o grande golpe para Luís Montenegro deteta-se na Região Norte (27%), com uma perda de quatro pontos de um dia para o outro e menos seis do que conseguiu no arranque da sondagem diária. No caso do PS, o sinal mais alarmante é a perda de sete pontos em Lisboa desde 4 de maio, o que permite à coligação de centro-direita uma vantagem de seis pontos na região da capital quase sem sair do mesmo sítio onde sempre esteve. No que diz respeito aos restantes partidos, o Chega continua a ter o melhor resultado no sul e ilhas (20%), distribuindo-se de modo uniforme nas restantes regiões. Os liberais continuam a valer um pouco mais no Norte (8%) do que em Lisboa (7%), o mesmo acontecendo nesta altura com o Livre, embora alguns pontos mais abaixo.
Tavares (Livre) e Rocha (IL) são os únicos com saldo positivo
Para além da intenção de voto, a sondagem diária da Pitagórica para o JN, TSF e TVI/CNN mede outros indicadores. Um deles remete para a avaliação dos líderes dos oito partidos e coligações com representação parlamentar. Como tem sido habitual, só Rui Tavares (Livre) e Rui Rocha (IL) se mantém acima da linha de água (são mais os que dizem que “melhorou opinião” dos que os que respondem que “piorou”), com um saldo positivo de 16 e 13 pontos, respetivamente. O comunista Paulo Raimundo consegue um saldo zero e todos os restantes estão no vermelho, com Mariana Mortágua (BE) e André Ventura (Chega) no fundo da tabela, com um saldo negativo de 19 pontos.
Finalmente, quando se pergunta sobre a performance dos líderes nos debates e entrevistas desta campanha eleitoral, a liderança vai para Luís Montenegro: 29% dizem que tem sido ele o melhor, com larga vantagem sobre Pedro Nuno Santos (11,9%) e André Ventura (9,3%).
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Ficha técnica
Durante 4 dias (8, 9, 10 e 11 de maio de 2025) foram recolhidas diariamente pela Pitagórica para a TVI, CNN Portugal, TSF e JN um mínimo de 202 a 203 entrevistas (dependendo dos acertos das quotas amostrais) de forma a garantir uma sub-amostra diária representativa do universo eleitoral português (não probabilístico). Foram tidos como critérios amostrais o género, três cortes etários e 20 cortes geográficos (distritos, Madeira e Açores). O resultado do apuramento dos quatro últimos dias de trabalho de campo, resultou numa amostra de 810 entrevistas que, para um grau de confiança de 95,5%, corresponde a uma margem de erro máxima de ±3,51. A seleção dos entrevistados foi realizada através de geração aleatória de números de “telemóvel” mantendo a proporção dos três principais operadores móveis. Sempre que necessário foram selecionados aleatoriamente números fixos para apoiar o cumprimento do plano amostral. As entrevistas são recolhidas através de entrevista telefónica (CATI). O estudo tem como objetivo avaliar a opinião dos eleitores portugueses, sobre temas relacionados com as eleições, nomeadamente os principais protagonistas, os momentos da campanha bem como a intenção de voto dos vários partidos. Foram realizadas 1565 tentativas de contacto, para alcançarmos 810 entrevistas efetivas, pelo que a taxa de resposta foi de 51,69%. A ficha técnica completa, bem como todos os resultados, foram depositados junto da ERC - Entidade Reguladora da Comunicação Social que os disponibilizará para consulta online.