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O bloco de partidos à Direita já leva quase 17 pontos percentuais de vantagem sobre o conjunto da Esquerda, de acordo com o barómetro de fevereiro da Pitagórica para o JN, TSF e TVI/CNN. Tendo em conta os resultados de cada partido, a AD (33%) mantém uma vantagem de cerca de seis pontos percentuais sobre o PS (27,3%), o que significa que se repete a situação de empate técnico que já se verificava em janeiro (a margem de erro da sondagem é de mais ou menos 5%). Seguem-se o Chega (16,8%), a IL (6,3%), o Livre (3,7%), a CDU (3,4%), o BE (3,1%) e o PAN (2%).
O alinhamento político dos portugueses alterou-se radicalmente. Há cinco anos, a Esquerda parecia imbatível: nas eleições de 2019, os partidos dessa área política e que hoje estão representados no Parlamento (PS, BE, CDU, Livre e PAN), somaram 57 pontos, mais 22 do que a Direita (PSD, CDS, Chega e IL). Os partidos à esquerda do PS valiam nessa altura 20 pontos. Pouco tempo depois, em janeiro de 2022, a vantagem da Esquerda já era de apenas dez pontos. Mas tinha havido outra mudança: o PS cresceu à custa dos seus antigos parceiros e conseguiu uma maioria absoluta. Dois anos depois, em março de 2024, o cenário inverteu-se, com o bloco à Direita a ganhar uma vantagem de dez pontos, por causa do crescimento meteórico do Chega.
Centro-direita e liberais a crescer
Quase um ano volvido sobre essas últimas legislativas, a Direita continua a ganhar terreno à Esquerda: são agora quase 17 pontos de diferença, de acordo com o barómetro da Pitagórica. Um crescimento que já não se fica a dever ao Chega, mas à coligação de centro-direita e aos liberais: a AD teria mais quatro pontos (33%) do que em março e a IL subiria mais de um ponto (6,3%). O Chega continua abaixo (16,8%) do que conseguiu nas urnas, mas não parece ter sido castigado pelo caso do deputado Miguel Arruda, acusado de roubar malas no aeroporto nas viagens entre Ponta Delgada e Lisboa (o trabalho de campo decorreu durante o período em que o escândalo teve forte impacto mediático).
Esta enorme vantagem da Direita sobre a Esquerda não parece ser operacional, uma vez que está em vigor o “não é não” de Luís Montenegro a André Ventura. Mais plausível parece ser uma futura aliança entre a AD e os liberais. E, neste campo, a evolução é prometedora: os três partidos de centro-direita (PSD, CDS e IL) já somam 39,3 pontos, mais seis do que conseguiram nas legislativas de março do ano passado, e a dois de uma eventual maioria absoluta (ao PS, em 2022, bastaram 41,4%). Acresce que cerca de dois terços dos portugueses aprovam o Governo PSD/CDS (62%) e que o primeiro-ministro se destaca como o líder mais popular (54% de avaliações positivas).
Refira-se que o barómetro não tem a ambição de avançar com uma previsão de resultados eleitorais. Não há legislativas no horizonte, e assim deverá ser até quase ao final de 2026, por causa das eleições presidenciais (a Assembleia da República não pode ser dissolvida, nem nos últimos seis meses de mandato de Marcelo Rebelo de Sousa, nem nos primeiros de quem quer que lhe suceda em Belém). O que o barómetro pretende é medir, todos os meses, a temperatura política e, à medida que os resultados se forem sucedendo, mostrar as tendências do mercado eleitoral.
PS fica sempre no mesmo sítio
Quando o foco de análise se concentra na Esquerda, percebe-se que o PS não se moveu relativamente às eleições legislativas: os 27,3% virtuais de hoje são quase iguais aos 28% reais de março do ano passado. E, se houvesse eleições, poderia até vencê-las, uma vez que, tendo em conta a margem de erro, o melhor resultado possível (31,8%), é superior ao pior possível para a AD (28,3%). Não parece é que tivesse parceiros suficientemente fortes para formar uma maioria parlamentar, mesmo que alargasse a geringonça ao Livre e ao PAN.
Uma das novidades desta segunda vaga do barómetro, relativamente à primeira, é precisamente a alteração das posições relativas dos quatro partidos mais pequenos à Esquerda. Embora seja preciso ter em conta que são valores baixos e que a diferença entre eles é de escassas décimas. Assim, o Livre (3,7%) fica desta vez à frente deste “campeonato”, seguido da CDU (3,4%), que, apesar de voltar a perder fulgor, fica à frente do Bloco de Esquerda (2,8%), que é o partido que mais perde face ao barómetro de janeiro (mais de um ponto percentual). Uma explicação possível para esta quebra é o facto do trabalho de campo ter decorrido enquanto se multiplicavam as notícias sobre o despedimento de funcionárias do BE que tinham sido mães há pouco tempo.
Chega cada vez mais masculino
Na análise mais fina aos vários segmentos da amostra percebe-se que AD e PS, a exemplo da primeira vaga do barómetro, continuam e ter um peso um pouco mais feminino. No Chega, acontece o contrário, cresceu no voto masculino, mas perdeu intenções de voto entre as mulheres, acentuando o peso da testosterona no seu resultado. Apesar de a base ser muito reduzida (a amostra é de 400 inquiridos), percebe-se que os liberais também acentuam a vertente masculina, enquanto o PAN é o partido mais feminino.
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No que diz respeito aos grupos etários, há uma novidade neste barómetro: o Chega consegue ficar em primeiro entre os mais novos (18/35 anos), ainda que empatando com a AD. Mas o escalão onde a vantagem do bloco à Direita sobre a Esquerda é maior é nos que têm 35 a 54 anos (24 pontos, sem distribuição de indecisos). Nos mais velhos (55 ou mais anos), a vantagem da Direita é de apenas quatro pontos, o que se explica com o resultado do PS (ainda que a liderança seja repartida com a AD, o que não acontecia no mês passado).
AD reforça Norte, PS recupera Lisboa
Observando a projeção de resultados consoante a classe social dos eleitores, percebe-se que a vantagem da AD sobre o PS continua a ser maior entre os que têm melhores rendimentos. Os socialistas perdem os mais pobres para a coligação de centro-direita, mas passam para a frente na chamada classe média, que também é o segmento em que o Chega tem o melhor resultado.
No que diz respeito às regiões, o barómetro mostra que o Norte continua a ser o principal bastião de Luís Montenegro (tem mais 13 pontos que os socialistas). Em Lisboa, no entanto, há uma mudança de rumo, com o PS a assegurar a liderança (mais seis pontos que a AD). Relativamente ao barómetro de janeiro, o Chega perde força a Norte, mas cresce no Centro, em Lisboa e no Sul e Ilhas (que agrega Alentejo, Algarve, Açores e Madeira).
Ficha técnica
Sondagem realizada pela Pitagórica para a TVI, CNN Portugal, TSF, JN e O Jogo, com o objetivo de avaliar a opinião dos portugueses sobre temas relacionados com a atualidade do país. O trabalho de campo decorreu entre os dias 21 e 26 de janeiro de 2025. A amostra foi recolhida de forma aleatória junto de eleitores portugueses recenseados e foi devidamente estratificada por género, idade e região. Foram realizadas 612 tentativas de contacto, para alcançarmos 400 entrevistas efetivas, pelo que a taxa de resposta foi de 65,36%. As 400 entrevistas telefónicas recolhidas correspondem a uma margem de erro máxima de +/- 5,0% para um nível de confiança de 95,5%. A direção técnica do estudo é da responsabilidade de Rita Marques da Silva. A ficha técnica completa, bem como todos os resultados, foram depositados junto da ERC – Entidade Reguladora da Comunicação Social que os disponibilizará para consulta online.